Briefing | O iMM João Lobo Antunes lançou em 2018 a primeira campanha publicitária. O que motivou este lançamento?
Maria Mota | Esta foi a primeira vez que foi lançada em Portugal uma campanha que apresenta um instituto de investigação biomédica e que o posiciona como instituição científica geradora e agregadora do conhecimento nas áreas das ciências da vida e da saúde. Foi uma oportunidade muito interessante de levar a ciência para junto do cidadão comum, de uma forma algo inovadora, aliando o design e a publicidade às perguntas científicas que nos movem diariamente no instituto. Nem sempre existem oportunidades para desenvolver este tipo de iniciativas, mas é fundamental usar várias estratégias para fazer chegar a ciência que fazemos à sociedade. Uma das principais características humanas é a curiosidade – a necessidade de nos questionarmos sobre o que nos rodeia. Nesta campanha mostramos que, como qualquer outro indivíduo, nós cientistas questionamo-nos o tempo todo. Mas como cientistas que somos, estamos continuamente a ser treinados para formularmos a questões mais prementes e para encontrar as respostas mais acertadas a essas mesmas perguntas. Essas respostas, obtidas de forma racional são de confiança. E por isso, esta campanha serve também para estabelecer um elo de confiança entre os cientistas e os não cientistas. Os que trabalham (ao serviço de toda a sociedade) no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e os membros dessa mesma sociedade.
E qual o objetivo da campanha?
Com esta campanha pretendemos despertar a curiosidade pela ciência que desenvolvemos dando também a conhecer o iMM. Usámos imagens científicas que são muito fortes e colocámos perguntas de uma forma coloquial que, de facto muitas delas são as perguntas que os nossos cientistas procuram responder, mas estão colocadas de forma a que qualquer pessoa possa entender ou, quem sabe, alguns já se questionaram, como “O que é que o chocolate faz ao nosso cérebro?”. Mas quisemos ir mais longe e dar voz aos nossos cientistas e por isso, os cartazes espalhados pelas ruas de Lisboa continham um QR code que ligava a pergunta a um vídeo de resposta dado na primeira pessoa pelo cientista.
De que forma este tipo de iniciativas torna “palpável o trabalho do instituto”?
Quando damos cor e imagem às perguntas e à ciência que fazemos e as colocamos nas estações de metro e nas ruas da cidade, materializamos o nosso trabalho. Muitas pessoas têm a ideia de que um cientista trabalha de forma isolada e encerrado num laboratório, mas isso não é verdade – o nosso trabalho é altamente criativo e muitas vezes é numa conversa com um colega que surge a pergunta importante que faltava para encontrar o caminho para uma descoberta. Quando conseguimos de alguma forma passar esta mensagem para as pessoas, envolvendo-as nas perguntas que fazemos é porque conseguimos levar mais além o nosso trabalho.
Esta campanha promove na realidade o envolvimento dos portugueses? Como é medida a eficácia da iniciativa?
Todos os materiais que são usados na campanha – as perguntas nos cartazes e os vídeos de resposta – estão ligados ao site do iMM e às nossas páginas das redes sociais como o Facebook ou o Instagram. Conseguimos monitorizar quantas pessoas acederam a estas páginas, quantas pessoas visualizaram os nossos vídeos, etc. Mas mais do que isto, temos algumas pessoas que nos escrevem para saber mais sobre determinado tema, geralmente associado a uma doença especifica e isto é muito importante, porque permite estabelecer um contacto direto com as pessoas que vai para lá do tempo da campanha.
Qual a importância do envolvimento da população no trabalho do iMM?
Vivemos num momento no mundo em que as “fake news” e a pseudociência são o tema dominante e os factos verdadeiros são quase ignorados. É importante alertar os cidadãos para a importância de nunca deixarmos de questionar. Por outro lado, é importante que os cidadãos compreendam o que fazemos e se envolvam podendo contribuir na construção de um futuro com mais ciência e menos doença.
Sendo um tema científico, quais as dificuldades subjacentes em comunicar o laboratório?
A ciência não parece ser à partida um tema fácil e o conhecimento pode não parecer um “produto” aliciante. No entanto, a curiosidade por temas de ciência é geralmente grande na sociedade e assim tentámos explorar o que fazemos de uma forma atrativa e mostrar com esta campanha um lado diferente da ciência.