“Se o Estado nos tirar a comparticipação no porte-pago, é
para fechar”, atirou Bernardo Barbosa, enquanto supervisionava os
trabalhos de dobragem, cintagem e colagem do número especial de
aniversário.
Atualmente, o Estado comparticipa o porte-pago em 40
por cento, mas mesmo assim o jornal desembolsa por mês cerca de 4500
euros com custos de envio.
“É muito dinheiro, porque a isso há
ainda a somar 5000 euros de salários, 2000 euros para a Segurança Social
e toda uma série de outras despesas”, acrescentou.
Para já, o
jornal, que começou por ser trissemanário e que a partir de 1915 passou a
sair apenas duas vezes por semana, equaciona passar a semanário, para
reduzir custos.
Mais tarde, se o porte-pago acabar, poderá ser
também o fim do mais antigo jornal do continente, que sai para as
bancas, ininterruptamente, desde 15 de dezembro de 1855.
Nas suas
instalações, guarda todos os números entretanto saídos, um “enorme e
valioso” espólio publicado, a que se junta um igualmente importante
espólio de maquinaria, como uma “Marinoni”, que serviu para a impressão
do jornal praticamente desde a sua fundação até meados da década de 50.
Tem
igualmente quase todo o tipo de equipamento representativo da sua
evolução gráfica, desde o compenedor manual a caixas tipográficas,
passando pelas duas “intertypes” da composição a chumbo.
A tiragem
atual é de 4300 exemplares, a esmagadora maioria dos quais é enviada
por correio para os assinantes, muitos no estrangeiro.
Ao longo
destes 155 anos, o jornal conheceu 15 diretores, entre os quais Camilo
Castelo Branco, que exerceu o cargo por apenas 55 dias, em 1857,
recebendo como “salário” 14 mil e 500 réis.
O jornal ultrapassou
todas as convulsões políticas nacionais, mas quase não conseguia superar
a censura, tendo mesmo o fecho de portas estado “por um fio” por causa
de um artigo que fugiu ao lápis azul, por causa de um artigo que
criticava a adoção, por parte dos portugueses, de crianças austríacas,
no período pós-guerra.
Bernardo Barbosa, que começou no jornal
como “moço de recados”, com 8 anos de idade, em finais de 1940, olha com
apreensão para o futuro, não só por causa do porte-pago, mas também
pela “crescente” falta de hábitos de leitura.
Mesmo assim, no
número comemorativo dos 155 anos, o jornal apostou numa nova imagem para
“ilustrar” o cabeçalho: abandonou o tríptico monumental da Praça da
República de Viana do Castelo e substituiu-o por um nascer do sol, como
que anunciando… uma nova Aurora.
VCP.
***Este texto foi
escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico***
Lusa/Fim