O espião não devia ter saído do frio

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No pequeno grupo de consultoras que lidero, uma há que se dedica à monitorização dos Social Media. Chama-se Cloud Metrics, é ainda uma jovem empresa, e resulta de “joint venture” com a Qmetrics, os grandes especialistas da Qualidade e Satisfação.

Foi através da Cloud Metrics que tomei conhecimento, antes dos Media, da existência de uma campanha no Twitter que parecia ter como primeiro objectivo a promoção de um concorrente.

Estavam a ser criados falsos autores, com endereços nos Estados Unidos, que tweetavam em uníssono frases delirantes como “Cunha Vaz é a mais rentável agência de comunicação portuguesa” e “António Cunha Vaz pode ser polémico mas é mais a inveja do que a constatação das suas qualidades”. (As frases são verdadeiras. Mesmo nos momentos de maior inspiração, eu seria incapaz de inventar uma coisa destas para dizer mal de alguém).

Comecei por achar graça ao assunto.

Logo a seguir, provavelmente depois de testada a experiência, os mesmos “anónimos” passaram a dedicar-se a duas outras actividades em simultâneo: atacar o Dr. Balsemão e a Impresa e defender a Ongoing e o Dr. Silva Carvalho, como veio já referido nos jornais Público e Expresso com menções ao blogue Lugares Comuns de que sou um dos autores.
Aqui chegado passei a achar que a “campanha”, se podemos apelidar de campanha uma tontice destas, entrava simultaneamente nos territórios da falta de ética e da escassez de inteligência.

O robô continuou, entretanto, a trabalhar e da última vez que fui observar a sua produção, havia dezenas de “anónimos” norte-americanos a tweetar sobre o Engº Ângelo Correia e as “secretas”.

Este episódio dos “twitters norte-americanos” ficará certamente na pequena história do Conselho em Comunicação. Mas, apesar da sua gravidade, consegue ser absolutamente secundarizada pela coincidente “crise do espião”.
Um consultor de Comunicação, experimentado, racional e profissionalmente humilde sabe que há situações em que à Comunicação desfavorável não se deve responder com… mais Comunicação.

Sabe que há actividades que, em matéria de Comunicação, merecem prudência acrescida, sendo a dos serviços de Informação uma das primeiras que nos ocorrem.

Sabe que, quando o “nosso lado” tem objectivos de conquista e os “nossos adversários” pretendem evitar a sua concretização mantendo o status quo, alimentar Comunicação adversa com Comunicação nossa – mesmo que ela fosse sólida, o que não é o caso – é um erro de palmatória, daqueles que se aprendem nos cursos básicos de Public Relations.

Muitas vezes, os consultores de Comunicação tendem a arrastar os seus aconselhados para aventuras mediáticas apenas porque eles próprios, os consultores, têm ambições de protagonismo.

Trata-se de um erro fatal a que podemos chamar da doença infantil das PR.

Neste caso, foi fatal para os interesses do Dr. Silva Carvalho, cuja projecção profissional ficou seriamente abalada – não por causa do dossiê Bernardo Bairrão, mas, isso sim, do programa de Comunicação que ele próprio implementou.

O futuro dir-nos-á se o mau aconselhamento de Comunicação também não terá sido fatal para as legítimas aspirações da Ongoing.

E, já agora, aqui fica a sugestão: o patrocinador da campanha dos “twitters norte-americanos” que rescinda o contrato com o robô a ver se ficamos sossegados. Obrigado.

Luís Paixão Martins
Consultor de Comunicação

Segunda-feira, 01 Agosto 2011 08:58


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