O que queria ser quanto era criança? Não, não era realizador. À pergunta costumeira, João Teixeira não encontra uma resposta. Nunca teve uma profissão de sonho. O realizador da FastFoward acredita, porém, que ser natural de uma pequena aldeia e ter passado muito tempo sozinho e “a inventar coisas” para se entreter e brincar levaram-no a querer seguir a área de Artes e tudo o que envolvesse criatividade. O seu percurso é, pois, diz, “um pouco diferente do habitual”.
Começou por estudar Design de Comunicação (em Faro) e só a meio da Universidade descobriu a realização, quando escolheu uma cadeira de vídeo. E porquê? “Penso que a escolhi porque no meio de todas me pareceu que seria a que tinha que estudar menos”, brinca. Nunca tinha pegado numa câmara até que teve que apresentar três vídeos de diferentes temas. Foi o seu ponto de partida. Mais tarde foi para Lisboa fazer algumas cadeiras de Design e descobriu que tinha ficado com “o bichinho”. “Comecei a pensar onde é que poderia aprender como tudo funciona”, conta e a publicidade – “por ser tudo muito rápido em termos de produção” – pareceu-lhe uma boa escola. Decidiu estagiar numa produtora, “infiltrar-se” e estar atento para aprender e perceber todo o processo. “Apesar de gostar muito de ficção nesse período apaixonei-me pela publicidade”, revela.
O primeiro filme que realizou foi para a KIA e destinava-se a vários países da Europa. As filmagens aconteceram em Espanha e marcaram o encontro de protagonistas que falavam as suas línguas. “Foi um interessante começo”, garante. E embora admita que quase caiu de paraquedas na profissão e que muitas vezes tem vontade de desistir, não o faz. “Sempre tive muita força de vontade e acho que é isso que me faz trabalhar exaustivamente, lutar por aquilo que quero, não baixar a cabeça e desistir apesar de ao longo do percurso ter muitas vezes vontade de o fazer”, diz.
Muitas vezes trabalha 24 horas por dia – e “com muito gosto”. Até lhe custa dizer que é o seu trabalho, porque não o sente dessa forma, de tal maneira se diverte. “Como faço aquilo que gosto, é como se estivesse sempre e apenas a aproveitar as coisas boas da vida”. Aqui a equipa tem um papel fundamental. “O trabalho de equipa dá-me muito prazer, porque um filme não é o realizador que o filma. É toda uma equipa”, nota, salientando que antes disso, também vem a parte mais criativa, a preparação e pensar como vai contar a história e também isso lhe “dá muito gozo”. E lembra amiúde o que lhe disseram quando começou a realizar: “Se queres fazer filmes, tens que saber trabalhar em equipa. Se não, é melhor dedicares-te a escrever livros! Esta frase sempre me ficou na cabeça e isto dá-me realmente prazer, trabalhar em equipa”.
Encara, aliás, o trabalho em conjunto com o diretor de Produção como fundamental para ser um bom realizador. E, “acima de tudo”, é essencial “ser ele próprio”. “Apesar de todo o processo e fases de aprovações de um filme, é importante tentar realizá-lo sempre com um cunho pessoal”, realça. “Na publicidade, acredito que é muito importante a relação com a agência e os criativos. A ideia e o conceito vêm de lá e no momento em que chega ao realizador é importante também o trabalho em equipa entre eles”, prossegue.
Com a experiência, João Teixeira já não comete o erro de facilitar. “Qualquer facilitismo, por mais pequeno que seja, pode trazer-nos mais tarde um grande arrependimento”. Uma sensação que – reconhece – não é nada boa de sentir e ainda por cima em algo que faz “com tanto gosto”. Onde não vacila é a revelar a marca com que mais gostou de trabalhar – provavelmente por ter sido uma das primeiras: Renault, com o atleta Francis Obikwelu. “No início, era apenas para fazer uma adaptação de uma campanha que estava a sair em vários países. Mas no nosso caso houve liberdade da agência para fazermos a adaptação e aproveitarmos para fazer um filme nosso. Então, foi interessante, porque pudemos inventar e brincar um pouco”, conta. E no futuro, com que marca gostaria de trabalhar? A resposta surge facilmente: Adidas. “Sempre adorei a forma como comunicam, desde o conceito até a realização. Sempre foi uma inspiração para mim”. “Adidas – House Party” é, aliás, um dos filmes que marcou o realizador. “Foi lançado na altura em que decidi lutar por esta área. Pensei: ‘wow!’ Toda aquela descontração em todos os sentidos. No acting, na realização e até na arte. Ali não existe ‘tudo tem que estar impecável’. Senti que o importante era a realidade e isso marcou-me”, justifica. A lista de filmes que gostaria de ter realizado não fica, porém, por aqui. Salienta, entre muitos, The independent – Don’t read, Nike – Find Your Greatness: Jogger, Epuron – Mr. W. e Parisienne Cigarettes, de David Lynch.