Este filme começa na Universidade da Beira Interior, na Covilhã. Além de Telmo Martins, são protagonistas Orlandina Veiros, Luís Dias e João Feitor. Estudantes de áreas tão diferentes como cinema, comunicação, engenharia civil e marketing, foi o interesse pela sétima arte que os juntou. Começaram por trabalhar em projetos escolares, mas desde logo com “uma abordagem profissional”. O objetivo não era terem boas notas, era concorrer a festivais e ganhar prémios.
A primeira curta-metragem de ficção “mais a sério” foi “Rupofobia”, realizada em 2004. Teve visibilidade a nível mundial, ganhou vários prémios em festivais e foi exibida nas salas de cinema nacionais, pela Lusomundo. O sucesso foi um impulso para criarem a produtora – Lobby – em 2006. “Acabados os cursos, já eramos uma espécie de família e não queríamos estar separados”. Um Renault 21 em segunda mão, cinco mil euros, um computador e uma impressora bastaram para se posicionarem como oficina criativa e se instalarem no espaço do Parkurbis – Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã, uma incubadora inaugurada na altura na cidade beirã. Foi, ainda assim, uma melhoria em relação ao passado, em que tinham que tirar à sorte quem ia no porta-bagagens do Opel Corsa de dois lugares de João Feitor para os trabalhos e reuniões.
Continuavam, porém, a ter que recorrer a material da universidade ou pedido emprestado a amigos. “Não tínhamos câmara, nem suites de edição, nem tripé”, recorda João Feitor. Esse material foi conseguido, paulatinamente, com prémios que ganhavam em concursos. “No início foi muito difícil, sobretudo por estarmos na Covilhã”, observa Telmo Martins. “Eramos ingénuos. E ainda bem, porque, se fossemos pragmáticos, se calhar não tínhamos aberto a empresa”, admite. “Não fazíamos ideia de como era difícil arranjar trabalho”. Mas foram conseguindo. O espetro alargado de formação foi-lhes garantindo projetos em várias áreas.
O primeiro filme publicitário, esse, é anterior à criação da Lobby e serviu-lhe de alavanca. Foi uma campanha para a Turistrela, com o Pai Natal de verão na Serra da Estrela. Seguiram-se muitos filmes 360º, de criação de marcas, comunicação e filmes corporativos – onde, dizem, o know-how e a linguagem cinematográfica lhes dá vantagem quando o propósito é realizar filmes que criem elos emocionais com as pessoas. Porque, para convencer, “os filmes corporativos têm que criar uma identificação e ligação”.
Experiências em realidade virtual, animação 3D e 2D e interatividade também fazem parte do currículo. “Já usávamos essas tecnologias muito antes de se massificarem”. “Sentimos que estávamos sempre à frente na forma como víamos as coisas”, comenta Telmo, que realiza, em 2009, a primeira longa-metragem: “Funeral à Chuva”, um filme totalmente independente, feito com “a boa vontade de muita gente”. “Filmávamos à noite e durante o dia trabalhávamos”, lembra. Uma experiência que esperam vir a repetir este ano, mais uma vez sem subsídios. Até porque trouxe muita visibilidade à produtora e angariou mais trabalho. Foi também em consequência do filme que foram contactados para realizar a série Sal, que acabaram por coproduzir e que deu “ainda mais projeção” à Lobby. “Começámos a trabalhar com agências e marcas ainda maiores”, conta.
Hoje, marcas como Mercedes, TAP, Super Bock, Sagres, MultiÓpticas, Licor Beirão, Santal, Unicef, Toyota e Lexus e projetos em países como Brasil, Inglaterra ou Suíça estão no portefólio da produtora, que nunca deixou a cidade beirã. Mantém lá a sede e o core do trabalho, com uma equipa de 15 pessoas dedicadas a produção, edição e pós-produção. O motivo? Entendem que estar no interior do país não pode impossibilitar trabalhos – como chegou a acontecer. “Enquanto portugueses, não podemos aceitar que estar na Covilhã seja um problema”, diz.
Ainda assim, em 2014 abriram um espaço na capital, uma vez que “há agências que gostam de acompanhar o trabalho de forma mais presente”. E, no ano passado, deram o salto para o Dubai, onde têm uma pessoa de forma permanente, fruto da aposta nos Emirados Árabes Unidos, Rússia, Kuwait, Arábia Saudita e Qatar. Gostam de trabalhar para estes mercados para os quais têm feito projetos “gigantes” e “muito interessantes”, para “clientes que não têm medo de arriscar”. Nessas geografias, o primeiro passo para um projeto andar é, aliás, quando dizem que nunca foi feito. “Querem ser os primeiros, inovadores e diferentes”, observa. Em Portugal, pelo contrário, “há medo de fazer algo diferente, de arriscar”. Porquê? Talvez porque o risco não compense. “Fora de Portugal, quem decide tem maior possibilidade de progredir na carreira, quem arrisca e ganha tem prémios. Sinto que em Portugal, isso não acontece tanto: quando arriscas e ganhas tens uma palmada nas costas e quando perdes tens graves problemas”.
Os quatro sócios querem agora que a Lobby seja vista como uma opção de primeira linha no que diz respeito tanto a produção de filmes como de experiências interativas, assumindo-se como uma produtora que quer fugir à regra e marcar pela diferença. Não querem ser uma produtora técnica, “uma máquina de fazer filmes”, dizem. Fazem, antes, “filmes como se fossem feitos à mão”, asseguram.
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