Este é apenas um degrau numa carreira de sucesso construída com muito trabalho na dura indústria cinematográfica norte-americana: “Nada é fácil ou dado, tudo se constrói com trabalho. Na América não há regalias nem apoios, é preciso muito trabalho, bom gosto e muita persistência”, diz ao Briefing. É preciso ter em conta – salienta – que a indústria do cinema independente na América é de alto risco e está sempre em transformação: “Os filmes são financiados com fundos privados e com sorte algumas pré-vendas internacionais. Tudo depende do pacote ou da execução do filme. Os produtores e realizadores têm que ser empreendedores. Temos de fazer filmes a pensar na audiência”.
Mas numa “ditadura” das audiências como é possível fazer cinema sem fins lucrativos, como é missão do organismo que dirige? Joana Vicente responde que “há muitos filmes, sobretudo documentários de impacto social e filmes de arte e ensaio, que só podem ser feitos através de doações, apoio de fundações e agora mais e mais através de crowdsourcing. Quando são muito bons acabam por ter viabilidade comercial”. O Independent FilmMaker Project desenvolve, aliás, um programa de fiscal sponsorship para administrar doações e subvenções de particulares e fundações para filmes sem ambições lucrativas. Além de que, a televisão pública é importante para a cultura norte-americana e para exibição de muitos destes documentários sem fins lucrativos.
Na opinião de Joana Vicente, os filmes continuam a ter um enorme impacto da cultura, fazem parte da conversa e, às vezes, mudam a forma como se vê o mundo, tendo mesmo o poder de mudar comportamentos. Daí que uma das suas citações preferidas seja do cineasta francês Robert Bresson – “Fait apparaître ce qui sans toi ne serait peut-être jamais vu”.
Joana está há “já muitos anos” em Nova Iorque. Cresceu entre Macau, Moçambique e Lisboa e também já viveu em Paris. Deste “voar longe de casa, viver fora, adaptar-se a um mundo novo” diz que é muito português. Quanto a ela sempre se sentiu portuguesa. Pela herança cultural, pela família, pelas memórias: “Sinto-me comovida quando chego a Lisboa, a comida e o vinho. A presença do mar, a nostalgia e a esperança”. E remata: “Ser portuguesa define quem sou e faz parte do que me faz única”.