O sucesso do it yourself na Happy Conference

O sucesso atrai sucesso. É nisto que acredita o psicólogo clínico e neurocientista britânico Ian Robertson e foi isso que veio dizer hoje a Lisboa, na Happy Conference. Assegura que há provas científicas desta sua convicção, que demonstrou aos participantes no evento, enfatizando, porém, que a atitude vencedora deve ser motivada por fatores intrínsecos, sob pena de o sucesso ser frágil e rapidamente cair por terra.

Aos que enchiam o auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa deu exemplos assentes na neurofisiologia, falando-lhes dos mecanismos do cortisol e da dopamina, mas também foi buscar casos à natureza – o “mistério” dos peixes cilídeos que vivem no lago Tanganica –, mas também à realidade humana – como Mike Tyson recuperou o título de campeão após três anos preso ou como os vencedores de um Óscar vivem mais quatro anos do que os nomeados.

Pelo meio, exercícios práticos, para avaliar o que motiva cada um para o sucesso. E no final uma recomendação: essa motivação deve ser intrínseca. Uma palestra de certa forma antecipada por Ian Robertson, em entrevista ao Briefing, media partner da Happy Conference:

Briefing | Defende que o sucesso nos molda mais do que qualquer outra coisa, incluindo a genética. Em que medida?
Ian Robertson | Há duas razões principais, uma psicológica e outra fisiológica. Psicologicamente, a confiança é um dos atributos mais poderosos e um forte prenúncio de sucesso pessoal. Nada proporciona confiança como a experiência de sucesso, daí que o sucesso atraia sucesso. Fisiologicamente, o sucesso aumenta a atividade na “rede de recompensas” do cérebro, refletindo-se num aumento da dopamina. Esta atividade acrescida potencia o humor, reduz a ansiedade e, até, estimula a capacidade de pensar, planear e traçar objetivos.

Briefing | Mas a atitude vencedora é inata ou adquirida?
IR | Podemos nascer com certas tendências comportamentais, mas estas podem sempre ser moldadas pela experiência e pelo ambiente. Podemos impulsionar a nossa confiança – e, logo, a nossa atitude vencedora – através da definição de metas alcançáveis para nós próprios e beneficiando do sucesso de as alcançar.

Briefing | O que é o “efeito vencedor” sobre o qual tem escrito?
IR | Em todas as espécies, humanos incluídos, vencer uma competição contra um oponente mais fraco aumenta as nossas possibilidades de vencer uma competição seguinte face a um opositor mais forte. Este facto é conhecido no circuito do boxe nos Estados Unidos há mais de um século, mas apenas foi demonstrado empiricamente em 1967, depois de, em 1951, ter sido matematicamente previsto.

Briefing | Estamos, portanto, a falar de ciência…
IR | Sim, é tudo baseado em ciência sólida.

Briefing | Mas, se o sucesso atrai sucesso, de que vale o esforço?
IR | O sucesso que resulta de um esforço sustentado produzirá um maior efeito no sistema de recompensas do cérebro por comparação com o sucesso que acontece facilmente. Além disso, o trabalho e o esforço contribuem para construir a capacidade de persistência e, em particular, de persistência através do fracasso. Muitas metas importantes apenas são alcançadas com este tipo de persistência, que é mais difícil de conseguir se os sucessos prévios tiverem acontecido com demasiada facilidade.

Briefing | Pode o fracasso servir como lição no caminho para o sucesso?
IR | O sucesso é sempre relativo e definido pelos objetivos que se estabelecem. Ao recuperar de um fracasso, podemos definir metas mais pequenas (que podem ser mais modestas por comparação com as que fracassaram) e se as alcançarmos vamos estar a construir novamente experiências bem-sucedidas ao nível do cérebro. Esta gestão vai permitir desenvolver resiliência e persistência, no futuro, o sucesso surgirá mais facilmente.

Briefing | Este efeito aplica-se às empresas como às pessoas?
IR | Aplica-se tanto às equipas como aos indivíduos que fazem parte das equipas.
Briefing | Há um “efeito vencedor” para as empresas e organizações cujo fim seja o lucro?
IR | O lucro puro é um motivo relativamente pobre para fidelizar os indivíduos às equipas. É mais provável que as equipas se unam em torno de valores comuns como “profissionalismo”, “padrões elevados” ou ser um exemplo nacional de sucesso.

Briefing | O sucesso torna-nos empreendedores mais resilientes do que o fracasso?
IR | Não necessariamente. O sucesso é relativo e depende dos objetivos que estabelecemos para nós próprios. Dar um primeiro passo para recuperar de um fracasso pode gerar uma experiência consideravelmente bem-sucedida no cérebro e a recuperação do fracasso pode ajudar a construir a resiliência que conduzirá à persistência de atingir metas mais difíceis mas mais alcançáveis.

Briefing | Uma vez um falhado sempre um falhado? Os pobres ficam mais pobres e os ricos mais ricos?
IR | Infelizmente, tende a ser assim, mas não precisa de acontecer a todos os indivíduos porque a definição do nosso próprio sucesso está em nós, através dos objetivos que escolhemos para alcançar. Mas, na vida, o facto brutal é que o sucesso gera sucesso e o fracasso gera fracasso. Porém, não é inevitável.

Briefing | Há aqui como que um efeito dominó. Aplicando aos países, como é que podem quebrar o ciclo vicioso e prosperar?
IR | Estabelecendo objetivos de acordo com os seus próprios valores e celebrando as pequenas vitórias ao atingirem esses objetivos, um de cada vez. Não se permitindo desmoralizar e ser fatalistas sobre o fracasso e percebendo que cada nova meta é uma oportunidade de sucesso. Muitas vezes, isto significa começar por abandonar os grandes feitos do passado (por exemplo, esquecer que um país como o Reino Unido foi outrora um império) e concentrarem-se, em vez disso, na construção de um novo rumo baseado em novos valores.

Briefing | É orador na Happy Conference de Lisboa. O que tem a felicidade a ver com o sucesso?
IR | A felicidade provém de atingir metas autênticas que cada um defina para si. Não vem, necessariamente, de alcançar objetivos estabelecidos por outros (por exemplo, celebridade, riqueza, estatuto). O sucesso torna as pessoas felizes, mas se for definido em função de objetivos alheios é frágil, por comparação com a satisfação intrínseca de atingir os próprios objetivos.

Briefing | Aplicando esta associação aos negócios, diria que as marcas felizes são tendencialmente mais bem-sucedidas?
IR | Depende da marca – por exemplo, na sequência do terrível comportamento dos nossos bancos, as pessoas podem preferir marcas sóbrias e com uma aparência de confiança nos serviços financeiros… Mas, sim, geralmente somos atraídos inconscientemente por marcas felizes, tal como o somos por pessoas felizes.

fs@briefing.pt

 

Quarta-feira, 18 Março 2015 13:53


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