A sua vida não eram os vinhos. E nem tinha ligação direta ao mundo da vitivinicultura. À exceção das memórias de vindimas nos anos da infância em Ervedosa do Douro. Mas tinha, tal como Alzira, uma paixão “muito grande” por vinhos. E foi ela o motor da mudança que encetou quando, em 2012, decidiu deixar a profissão, na área da supply chain, para amadurecer o projeto. Tinha 39 anos e diz hoje, cinco anos depois, que foi “um grande risco”, mas “era então ou já não era”.
Em 2015 começaram a adquirir uva. Não têm terreno nem adega, pelo que optaram por um modelo de negócio assente em parcerias com vitivinicultores. Pedro Seixo define o que procuram como “qualidade”, mas reconhece que todos os produtores de vinho terão a mesma visão. Para os da Santos & Seixo o que quer é que sejam gastronómicos, para beber à mesa, com comida e amigos. Essa é a “essência”. São, por isso, vinhos mais complexos. Ainda que haja um ou dois fáceis de beber, como o rosé lançado este verão. E um verde, pedido pela exportação e feito de uvas de Melgaço. “Andámos quatro anos até encontrar a uva certa e o parceiro certo. Queremos controlar o processo, fazer bem”.
Santos da Casa é a marca principal. Os santos são ele e os restantes membros da equipa. Alzira é a santa, representada no rótulo com uma auréola, porque “é como se fosse uma segunda mãe”. “Somos pequenos. O rótulo é isso mesmo, a equipa toda”. E depois há o trocadilho que é assinatura de marca – Santos da Casa fazem milagres. Milagre não será, mas a exportação representa 90% do negócio, em valor e em volume. Foi uma estratégia desde o primeiro dia, porque “se torna mais fácil ir a um país e escolher como parceiro um distribuidor que não tenha vinhos portugueses”. É fácil vender, “ficam espantados com a relação preço-qualidade”: “Investe-se mais, mas quando nos sentamos, contamos a nossa história, damos a provar a nossa gama, é impressionante a facilidade com que fechamos”. China, Canadá, Brasil, Alemanha, Reino Unido são alguns dos mercados onde já se bebe Santos da Casa. Japão será um dos próximos. A Nova Zelândia uma meta ainda distante.
Se hoje é fácil entrar nestes mercados, no início não o foi. Sobretudo porque a Santos & Seixo começou do zero, sem um grande produtor por trás, andou de porta em porta para se tornar visível, foi – e vai – a feiras, o melhor local para dar a conhecer os seus vinhos. Continua a andar de porta em porta, mas agora de restaurantes, para dar a provar Colheitas, Reservas e Grandes Reservas. Na distribuição, está apenas numa das insígnias e, mesmo aqui, só em 156 lojas.
O que começou a germinar em 2004 só em 2014 deu frutos, ou melhor, vinho – o Santos da Casa Colheita Tinto. O primogénito. Recebido como um filho, diz Pedro, pai de duas crianças. Mas até lá o processo foi “muito sofrido”. Houve muita prova, muita prova… Porque na empresa há uma regra: é preciso que estejam todos de acordo. É lento, mas acontece sempre. “Só acabamos quando estamos convictos de que é o melhor vinho”.
Ainda que os vinhos da Santos & Seixo sejam blends – com exceção do Alvarinho – Pedro tem no encruzado a sua casta preferida. Mas “filho” preferido diz que não. Concede, porém, um gosto especial pelo Grande Reserva, feito apenas em anos excecionais e de produção extremamente limitada. De resto, o que procura num vinho é que lhe encha a alma, que o deixe com um sorriso. Resume este sentimento subjetivo a uma palavra: “elegância”.