A discussão mediática do mês nos meios anglo-saxónicos tem sido dominada pelo problema da credibilidade jornalística face a conteúdos virais. Alguns destes conteúdos querem parecer verdadeiros, ou pelo menos disfarçam o seu caráter ficcional, porque isso lhes dá credibilidade e ajuda a ganhar notoriedade. O ciclo é vicioso e fácil de explicar: uma história inventada é lançada nas redes sociais e começa a ganhar tráfego; sites agregadores que dependem de conteúdos virais (como o Buzzfeed ou o Gawker) publicam a história sem qualquer verificação; de seguida títulos respeitáveis (como o New York Times) citam esses sites agregadores, sem verificar a história – que é vendida aos leitores como se fosse verdadeira.
Tudo motivado pela guerra das audiências e pela pressão de ser o primeiro a avançar com as ‘notícias’. Este é o problema de base que tem posto em causa a credibilidade do jornalismo norte-americano, como se viu no atentado de Boston em abril – onde ocorreu a divulgação de incontáveis notícias falsas por parte de meios respeitados como a CNN, e que levaram o tabloide New York Post a divulgar uma foto de supostos suspeitos que nada tinham a ver com o caso.
A pressão da concorrência e a rapidez das redes sociais têm deixado muitos cadáveres na guerra pela credibilidade do jornalismo, pondo em causa o valor e a necessidade da profissão. Há aqui várias questões. O público deve decidir se quer histórias que entretenham, independentemente de serem verdadeiras, ou histórias que despertem emoções precisamente por serem verdadeiras. Os anunciantes devem decidir se querem apenas pageviews ou se querem estar associados a valores como seriedade, credibilidade e qualidade. E os jornalistas devem decidir se querem manter os padrões profissionais que garantem a necessidade da sua profissão.
Quando se fala de novos projetos de jornalismo online em Portugal, é bom estar atento a esta questão – para que a concorrência não mate a informação que temos. No jornalismo, a credibilidade não tem preço. É o garante da qualidade do produto e tem relação direta com a sua relevância social. É isto que justifica o contrato entre o jornalista, o órgão de comunicação que o emprega e o seu leitor. No limite, é a credibilidade que justifica o jornalismo – porque para fazer entretenimento há muitos profissionais melhor qualificados.