Sobre o futuro próximo, 56% destas empresas entendem que a inovação de produto ou formato e as parcerias são cruciais na sua estratégia. E 46% consideram que faltam apoios públicos ao setor.
Segundo o relatório, a nível nacional, mais de metade do volume de negócios do setor audiovisual gerado em 2017 resultou da atividade de produtores independentes. Face a 2013, o número de trabalhadores no setor aumentou 15%, o volume de negócios 5,2% e as exportações 15,4%, apesar do EBITDA ter registado uma queda de 3,2%.
Na globalidade, este setor fatura 355 milhões de euros e conta com 1.911 empresas que dão trabalho a 3.719 pessoas, representando Portugal apenas uma pequena parte do setor de produção audiovisual europeu: 0,8% do total da UE28.
Por outro lado, Portugal é o país europeu onde o número de horas de produção de ficção é mais elevado, derivado da preferência do consumidor nacional para obras de ficção de longa duração e como forma de rentabilizar as produções.
O anuário perspetiva, assim, para 2019 um cenário positivo para os produtores de conteúdos e um aumento do consumo na internet, graças às redes sociais e a plataformas como a Netflix e a Amazon, que adquirem muitos conteúdos premium, com destaque para os conteúdos desportivos.
“O cord cutting (redução de subscritores de serviços de televisão por cabo) está a tornar-se numa realidade nos EUA e será uma tendência futura na Europa e, em especial, em Portugal, com a entrada de novos serviços de VoD (por exemplo, Youtube TV) e com as gerações mais novas a deslocarem o seu consumo de conteúdos audiovisuais da televisão linear para outras plataformas”, perspetiva o documento.
Outra tendência é o consumo em cross-plataform e off-plataform, visto que o consumo de conteúdos está a ser feito num número cada vez maior de aparelhos eletrónicos, uma realidade cada vez mais presente em programas televisivos com grandes níveis de audiência. O alargamento da oferta passa ainda pela disponibilização de conteúdos offline, possibilitado pelo aumento da capacidade de armazenamento dos dispositivos eletrónicos.
Verifica-se igualmente uma maior orientação dos serviços de VoD – que podem contribuir para o crescimento do setor de conteúdos audiovisuais – para a produção de originais, com players com maior penetração no mercado como a Netflix, que se encontram a apostar cada vez mais na produção de conteúdos originais e exclusivos. Verifica-se ainda uma aposta em produções locais, para fazer frente a questões regulamentares e especificidades do consumidor. Algumas destas tendências estão a dar origem a outras, entre elas a verticalização da cadeia de valor e o serviço direct-to-consumer.
“Com as operadoras de televisão a depararem-se com várias plataformas OTT (over-the-top), a distribuir conteúdos com qualidade a preços baixos, começou a verificar-se uma tendência de concentração vertical de produtores e distribuidores de conteúdos com o intuito de apresentar ofertas mais competitivas. Um bom exemplo deste caso a nível nacional foi a tentativa de aquisição da Media Capital pela Altice. Mas o impacto desta tendência na produção audiovisual independente é incerta. O mais provável, é acontecerem novas tentativas de concentração vertical nos EUA, na Europa e em Portugal,” comenta Hermano Rodrigues, da EY.
Começam ainda a verificar-se novas formas de monetização do conteúdo e de publicidade. Em Portugal, a televisão ainda possui a fatia mais importante das receitas publicitárias, mas a nível internacional já é ultrapassada pelo digital. “A diminuição das receitas publicitárias coexiste com um aumento da exigência na qualidade dos conteúdos produzidos (e respetivos custos) e com uma maior fragmentação do consumo”, garante o anuário.
Assim, adianta, todos os intervenientes na cadeia de valor têm o desafio de criar novas fontes de valor para o consumidor, muitas delas relacionadas com os conteúdos produzidos, como é o caso do merchandising e de conteúdos complementares para redes sociais. O product placement, a criação de conteúdos em redes sociais e a comercialização de merchandising estão a ser as ferramentas mais utilizadas para aumentar o engagement e a rentabilidade dos projetos audiovisuais.