Subir exportações? É a ambição das empresas de audiovisual

A maioria das empresas de audiovisual em Portugal (70%) prevê aumentar o volume de negócios internacional nos próximos 12 meses, sendo que 20% espera que o crescimento do consumo em multiplataforma tenha impacto positivo na sua atividade. Os dados são da primeira edição do Anuário do Setor da Produção Audiovisual em Portugal, realizado pela EY em parceria com a APIT – Associação de Produtores Independentes de Televisão.

 

Sobre o futuro próximo, 56% destas empresas entendem que a inovação de produto ou formato e as parcerias são cruciais na sua estratégia. E 46% consideram que faltam apoios públicos ao setor.

Segundo o relatório, a nível nacional, mais de metade do volume de negócios do setor audiovisual gerado em 2017 resultou da atividade de produtores independentes. Face a 2013, o número de trabalhadores no setor aumentou 15%, o volume de negócios 5,2% e as exportações 15,4%, apesar do EBITDA ter registado uma queda de 3,2%.

Na globalidade, este setor fatura 355 milhões de euros e conta com 1.911 empresas que dão trabalho a 3.719 pessoas, representando Portugal apenas uma pequena parte do setor de produção audiovisual europeu: 0,8% do total da UE28.

Por outro lado, Portugal é o país europeu onde o número de horas de produção de ficção é mais elevado, derivado da preferência do consumidor nacional para obras de ficção de longa duração e como forma de rentabilizar as produções.

O anuário perspetiva, assim, para 2019 um cenário positivo para os produtores de conteúdos e um aumento do consumo na internet, graças às redes sociais e a plataformas como a Netflix e a Amazon, que adquirem muitos conteúdos premium, com destaque para os conteúdos desportivos.

“O cord cutting (redução de subscritores de serviços de televisão por cabo) está a tornar-se numa realidade nos EUA e será uma tendência futura na Europa e, em especial, em Portugal, com a entrada de novos serviços de VoD (por exemplo, Youtube TV) e com as gerações mais novas a deslocarem o seu consumo de conteúdos audiovisuais da televisão linear para outras plataformas”, perspetiva o documento.

Outra tendência é o consumo em cross-plataform e off-plataform, visto que o consumo de conteúdos está a ser feito num número cada vez maior de aparelhos eletrónicos, uma realidade cada vez mais presente em programas televisivos com grandes níveis de audiência. O alargamento da oferta passa ainda pela disponibilização de conteúdos offline, possibilitado pelo aumento da capacidade de armazenamento dos dispositivos eletrónicos.

Verifica-se igualmente uma maior orientação dos serviços de VoD – que podem contribuir para o crescimento do setor de conteúdos audiovisuais – para a produção de originais, com players com maior penetração no mercado como a Netflix, que se encontram a apostar cada vez mais na produção de conteúdos originais e exclusivos. Verifica-se ainda uma aposta em produções locais, para fazer frente a questões regulamentares e especificidades do consumidor. Algumas destas tendências estão a dar origem a outras, entre elas a verticalização da cadeia de valor e o serviço direct-to-consumer.

“Com as operadoras de televisão a depararem-se com várias plataformas OTT (over-the-top), a distribuir conteúdos com qualidade a preços baixos, começou a verificar-se uma tendência de concentração vertical de produtores e distribuidores de conteúdos com o intuito de apresentar ofertas mais competitivas. Um bom exemplo deste caso a nível nacional foi a tentativa de aquisição da Media Capital pela Altice. Mas o impacto desta tendência na produção audiovisual independente é incerta. O mais provável, é acontecerem novas tentativas de concentração vertical nos EUA, na Europa e em Portugal,” comenta Hermano Rodrigues, da EY.

Começam ainda a verificar-se novas formas de monetização do conteúdo e de publicidade. Em Portugal, a televisão ainda possui a fatia mais importante das receitas publicitárias, mas a nível internacional já é ultrapassada pelo digital. “A diminuição das receitas publicitárias coexiste com um aumento da exigência na qualidade dos conteúdos produzidos (e respetivos custos) e com uma maior fragmentação do consumo”, garante o anuário.

Assim, adianta, todos os intervenientes na cadeia de valor têm o desafio de criar novas fontes de valor para o consumidor, muitas delas relacionadas com os conteúdos produzidos, como é o caso do merchandising e de conteúdos complementares para redes sociais. O product placement, a criação de conteúdos em redes sociais e a comercialização de merchandising estão a ser as ferramentas mais utilizadas para aumentar o engagement e a rentabilidade dos projetos audiovisuais.

briefing@briefing.pt

Quinta-feira, 14 Março 2019 12:25


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