Visão/20 anos: Poder político devia olhar para os media, defende Pedro Camacho

Visão/20 anos: Poder político devia olhar para os media, defende Pedro Camacho

“O poder político devia olhar urgentemente para este setor, que desempenha um papel essencial nos regimes democráticos, e pensar em formas de o ajudar, ou pelo menos em formas de o não atrapalhar, à semelhança do que tem acontecido noutros países europeus”.

 

A posição é do diretor da Visão, Pedro Camacho, em entrevista ao Briefing a propósito dos 20 anos da revista.

Briefing | Como é sobreviver 20 anos num mercado como o da imprensa em Portugal?

Pedro Camacho | É um esforço constante de renovação, de recriação, e tentar dar sempre o melhor de que somos capazes. É fazermos o que vamos fazer uma vez mais, aproveitando o estímulo adicional de estarmos a comemorar os 20 anos: apresentar-nos aos nossos leitores e anunciantes com uma VISÃO remodelada, não apenas do ponto de vista gráfico, mas também editorial.

Penso que conseguimos o objetivo de desenhar uma revista mais dinâmica, mais ritmada, mais surpreendente, mais analítica e mais inteligente. Uma revista que aumenta o grau de mais-valia que oferece ao leitor. É uma nova VISÃO, mas não é outra VISÃO. Mantemo-nos fiéis aos princípios do bom jornalismo, rigoroso e independente, que é a tradição da VISÃO e a base de entendimento entre a nossa redação e os nossos leitores.

Mas é também acompanhar sempre a inovação tecnológica que entra na nossa vida. E isso significou para nós a criação do nosso site – que é hoje um mundo de dimensão muito significativa – e a entrada, mais recente, embora pioneira, no mundo das tablets, quer iPad quer para sistemas andróide, e nos smartphones. É ainda apostar em novos segmentos – como acontece hoje, com muito sucesso – com a VISÃO Júnior e a VISÃO História. E, por fim, antecipar os sinais dos tempos, apostando em projetos globais, multimédia e multiplataforma, que fazem sentido para todos nós, para a VISÃO e para a comunidade. A VISÃO Verde e a VISÃO Solidária são disso dois bons exemplos.

Briefing | Qual o desempenho da Visão em termos de tiragens?

PC | A VISÃO tem resistido muito bem ao fenómeno das quedas de vendas que têm afetado a Imprensa, em Portugal e no mundo ocidental. Acabámos 2012 com vendas médias de 91 mil exemplares, o que traduz um desempenho muitíssimo bom, quer em relação à concorrência direta, que continua muito longe de nós, quer em relação à totalidade da Imprensa de informação geral. Felizmente, na VISÃO, temos conseguido ser menos afetados pela crise económica e pela crise específica do setor, ambas com dimensão nacional e internacional, do que muitos outros órgãos de comunicação social. O poder político devia olhar urgentemente para este setor, que desempenha um papel essencial nos regimes democráticos, e pensar em formas de o ajudar, ou pelo menos em formas de o não atrapalhar, à semelhança do que tem acontecido noutros países europeus.

Briefing |  Enquanto newsmagazine, o que a  diferencia da concorrência?

PC | Acreditamos que o que nos diferencia é a qualidade do nosso jornalismo, a profundidade com que tratamos os temas. Temos por lema mostrar o Mundo como ele é, sem o esconder das pessoas por ser feio, incómodo ou triste. É por isso que a reportagem é uma das nossas grandes marcas. E é por isso também que apostamos no jornalismo de investigação. Mas também somos diferentes porque fazemos um esforço muito grande por mostrar o que o País faz de bom, os bons exemplos que nos podem inspirar. E porque estamos sempre muito atentos à atualidade que mexe diretamente com a vida das pessoas, respondendo com um jornalismo que procura explicar, enquadrar e ajudar os nossos leitores.

Briefing | Que impacto tem tido a retração no investimento publicitário?

PC | Tal como está a acontecer com toda a gente, na comunicação e fora dela, o investimento está em queda. Uma vez mais, como já tem acontecido noutras alturas de crise, temos tido a felicidade de ser menos afetados que outros. A VISÃO é, historicamente, pelo target comercial que consegue atingir, um “refúgio” de investimento publicitário em tempos mais exigentes e seletivos.

Briefing | Na imprensa, o cenário é de emagrecimento dos quadros. Como se tem comportado a Visão?

PC | Temos adaptado a dimensão do nosso quadro global de pessoal, de forma transversal, em todos os setores ligados à produção da revista, à atual situação económica e financeira. Porque iniciámos este processo antecipadamente, temos conseguido geri-lo de forma gradual, e com a preocupação de criar o menor impacto possível na vida das pessoas que trabalham connosco.

Briefing | Pertencer a um grupo, neste caso a Impresa, ajuda à sobrevivência?

PC | Pertencer a um grupo é sempre uma vantagem muito grande. E é-o sobretudo em tempos de crise, quer pela estrutura organizativa que proporciona quer pela segurança financeira que um título sozinho nunca teria. Pertencer a um grupo que tem a história e a tradição do grupo Impresa, em termos de liberdade de Imprensa e de respeito e apreço pelo jornalismo e pelos jornalistas, é um luxo.

Briefing | Qual a estratégia para o online, nomeadamente em matéria de conteúdos gratuitos versus conteúdos pagos?

PC | É um tema em discussão dentro do grupo Impresa e que devia estar também em discussão nos outros grupos de comunicação social. Acho, aliás, que toda a gente se devia sentar à mesa e discutir o assunto. A regra para que caminhamos é a de que os conteúdos pagos não devem ser distribuídos gratuitamente noutras plataformas. Mas a questão é mais profunda que isto.

A verdade é que fazer jornalismo é uma atividade muito cara e o jornalismo é um bem precioso. É preciso que as pessoas tenham consciência desta realidade básica: não há bom jornalismo sem independência económica e financeira dos meios de comunicação. E não há saúde económica que resista a investimentos constantes em novas tecnologias e novas plataformas que, depois, por distribuírem informação gratuitamente, não são rentáveis. E isto sem entrar já no domínio da “pirataria” de conteúdos, da utilização e difusão indevida de artigos jornalísticos e outras matérias protegidas por direitos autorais e de propriedade.

Fonte: Briefing

Quinta-feira, 21 Março 2013 12:15


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