Briefing | Em termos de notoriedade, como tem evoluído o posicionamento da Access Lab junto das instituições culturais e dos promotores de eventos?
Jwana Godinho (JG) | Há aqui uma notoriedade a vários níveis… No caso dos festivais, é mais do que uma marca, mais do que a instituição cultural ou o promotor, e isso é uma coisa muito boa. Há uma necessidade de as pessoas que organizam os eventos de fazer isto, mas sabemos que ainda há um custo de contacto que é alto. Muitas vezes, é importante que as marcas ou o patrocinador de um festival deem esse passo e, depois, é um efeito dominó: por um lado, a comunidade começa a aderir, sente-se mais representada, mais segura em pertencer a estes espaços; e, por outro, os promotores sentem-se mais confiantes de que é um investimento que também faz sentido fazer.
Quantas pessoas com deficiência foram impactadas diretamente pelas vossas iniciativas?
Tiago Fortuna (TF) | É muito difícil saber o número ao certo porque os festivais de música em Portugal não têm uma categoria de bilhete para pessoas com deficiência, ou seja, não consegues mapeá-las, não consegues saber quem está a usufruir – a não ser as que estão a usufruir das iniciativas. Enquanto não tivermos sistemas de bilheteiras que façam esse caminho – que é natural –, vai ser difícil.
JG | E mesmo as que estão a usufruir das experiências, como o Colete das Emoções [colete sensorial para pessoas surdas], vêm com outros amigos surdos que podem não utilizar os Coletes. Além disso, há outras duas questões que são importantes para complementar o que o Tiago disse. Por um lado, muitas deficiências não são visíveis (80 %), pelo que podemos pensar que temos uma percentagem muito grande de pessoas que estão a ser impactadas. E, por outro lado, uma pessoa com deficiência nunca é uma pessoa só. A maior parte das pessoas são o ecossistema à sua volta, portanto, este tipo de iniciativas tem um efeito multiplicador, muito para lá da pessoa direta que é impactada pela ação.
Não existir ainda essa categoria de bilhete é uma lacuna?
JG | É uma lacuna! Acho que não há mal nenhum em que haja essa categoria. Há quem diga – e eu percebo – que se for feita uma categoria específica, pode limitar o número de bilhetes disponibilizados. Mas a verdade é que isso já acontece porque os festivais têm sempre um limite de pessoas. Quando estamos a limitar, estamos a conhecer qual é o potencial de número de bilhetes vendidos e a fazer um trabalho educativo de parte a parte.
TF | Estamos a garantir que quem vai, tem as condições que precisa.
Que especificidades teria esse bilhete?
JG | Pode ter várias… Há uma ideia que é muito defendida por nós e que ainda não está a ser implementada, mas acreditamos que vai passar a ser, que é a questão de haver um bilhete de acompanhante que não é cobrado. Depois, pessoas que precisam de utilizar uma plataforma, poderem utilizar ou não esse espaço. Além disso, podemos ter outros recursos, como coletes sensoriais para pessoas surdas ou audiodescrição para pessoas cegas.
É um trabalho que já é feito por muitos promotores e no estrangeiro. Na Inglaterra, todos os festivais têm esta categoria de bilhete, e isso também permite que haja mais pessoas a irem e que se tenha um conhecimento maior das pessoas que vão da comunidade.
Carolina Neves
*Esta entrevista pode ser lida na íntegra na edição impressa de setembro de 2025