Briefing | O que dizem estes 26 anos de Krypton?
João Vilela | Estes anos que percorremos têm sido sempre em crescente e mantemos o espírito inicial. Queremos continuar a crescer e nunca nos acomodámos à ideia de que somos bons ou ao que já fizemos – essa filosofia é algo que nasce nas paredes da Krypton. As pessoas que entram para a equipa ganham esse espírito. Por isso, posso dizer que tenho muito orgulho na Krypton e nas conquistas que temos feito. E todos os anos há conquistas novas.
Briefing | E há grandes diferenças no panorama das produtoras desde há 26 anos?
JV | Estou desde o primeiro dia na Krypton, isto é, desde 1988. Por isso, tenho acompanhado essas diferenças, que nos últimos sete anos foram gritantes. Desde logo a evolução dos meios técnicos – a pós-produção, que veio facilitar os processos, a logística e a lógica de produção – tudo é diferente. Além disso, hoje o nível de exigência é muito maior, há menos tempo para fazer as coisas, muito menos dinheiro e mais concorrência. Mas para nós é bom, porque gostamos do espírito de competição.
A Krypton entrou no mercado sem aspiração de fazer publicidade e quando apenas havia duas produtoras consolidadas. Apresentámo-nos como uma produtora meio alternativa, fazíamos videoclips e tínhamos uma abordagem diferente aos vídeos institucionais, onde aplicávamos alguma lógica da publicidade. O momento de viragem ocorreu quando o nosso vídeo para a Agros foi reconhecido internacionalmente e saltou para a televisão. A partir daí começámos a apostar na área da publicidade e a trazer para esse sector um ambiente alternativo. E, hoje, posso afirmar que a Krypton é uma das fontes de mudança que marca a viragem da publicidade.
Briefing | No mercado nacional, como se distingue de outras produtoras?
JV | Um aspeto que nos distingue é que somos humildes, exigentes e não nos acomodamos. Todos os que aqui trabalham, sobretudo todos os realizadores, têm que entender o negócio. A humildade e a capacidade de entender o negócio, e também, o facto de nos sabermos posicionar são a chave da Krypton. Enquanto produtora, não nos podemos esquecer que estamos ao serviço de uma marca. Além disso, para nos diferenciarmos optamos por não trabalhar sempre com o mesmo diretor de fotografia. A ambição e a necessidade de fazer melhor – é o que nos distingue.
Briefing | Enquanto produtora, a Krypton trabalha sobre a criatividade de uma agência. Se a ideia inicial não parte vocês é mais arriscado ou motivante desenvolver o projeto?
JV | Nós trabalhamos uma ideia sobre a perspetiva de a materializar em filme, sem alterá-la. A concretização de uma ideia que nasce num papel para que resulte em filme de acordo com a estratégia delineada é o nosso papel. No fundo, o que tentamos é materializar esta ideia passando pormenores e riquezas – somos a cereja no topo do bolo. Neste processo há uma componente de trabalho criativo grande e de equipa. A criatividade não é estrutural, vem acrescentar a uma ideia pré-existente, cumprindo objetivos claros para uma estratégia definida.
Briefing | Mas qual o papel da realização na eficácia de uma campanha?
JV | Um realizador e uma história mal contada podem matar uma campanha inteira. Um realizador de publicidade é uma peça fundamental e a sua escolha é crucial. Este tem de ser capaz de vestir vários personagens, porque um realizador que fique escravo de uma fórmula não se dá bem na publicidade e pode arruinar a intenção de uma campanha. Uma produtora deve ter ou realizadores muito versáteis ou muitos realizadores, para abarcar vários estilos. E a nossa preocupação tem sido essa – apostar na realização.
Briefing | Continuam condicionados por verbas mais modestas ou esta realidade tem vindo a alterar-se?
JV | Esta conjuntura económica veio dificultar alguns processos. Tivemos que racionalizar os procedimentos, rentabilizar o mais possível e ser muito mais criativos. Os desafios colocados foram um estímulo para a Krypton e tornaram as bases mais sólidas e consistentes. Mas sim, sentiu-se uma quebra no investimento das marcas e houve uma maior racionalização de custos, principalmente do setor da banca. No entanto, num contexto de crise fizemos uma campanha para a Sagres em que filmámos pelo mundo inteiro, completamente em contraciclo. As marcas, aos poucos e poucos, foram ganhando coragem para investir e para dar passos maiores.
Briefing | E que outros desafios tem uma produtora nacional?
JV | O maior desafio é inverter o lado efémero do negócio, que nunca se pode dar como adquirido. Embora a Krypton já seja uma instituição, e não há projetos grandes que não passem pela nossa orçamentação, é sempre uma conquista diária e todos os anos é um novo desafio – arrecadar clientes, cumprir objetivos, agradar clientes. E enquanto gestor é preciso apreender onde está a criatividade, quem são as pessoas que a têm e são capazes de manter este negócio, que se baseia em talento criativo.
Briefing | Como se têm adaptado ao digital e às novas técnicas que têm surgido?
JV | Há uma ideia de que o digital veio simplificar tudo, no entanto, em termos de filmagens, os tempos continuam os mesmos. O digital facilitou, por exemplo, a manipulação de imagens, mas, quando chega à pós-produção, há certos trabalhos em que precisamos recorrer a empresas internacionais. É uma questão de investimento em máquinas e softwares de produção que as empresas portuguesas, apesar dos esforços, ainda não têm. Mas o digital permite também fazer coisas novas, como é o caso da nossa aplicação, que reúne toda a informação de produção e realização de um filme.
Esta entrevista pode ser lida na íntegra na edição impressa do Briefing.