O testemunho da criativa dá conta de que este é o momento para separar as águas e distinguir entre as marcas que estão presentes e as que confundem oportunidade com oportunismo:
“O Japão, diferente de muitas outras culturas, encoraja um natural distanciamento social. Nem sequer apertamos as mãos dos clientes em reuniões. Apenas nos curvamos levemente com respeito. Aqui, limpam-se sempre as mãos em restaurantes e as pessoas usam máscaras quando se sentem doentes, para assim proteger os outros de uma eventual contaminação. Tudo isso pode ter colaborado para não chegarmos a uma situação de lockdown.
Sim, também tivemos falta de papel higiénico nas prateleiras dos supermercados, mas não passou disso. O japonês tem muito enraizada a cultura do coletivismo acima do individualismo.
Mas, assim como o comportamento cultural afeta diretamente como a epidemia é ou não controlada em cada nação, no que diz respeito à nossa indústria, não vejo uma diferença tão grande de país para país. Acho que vamos todos enfrentar mais ou menos as mesmas questões com os nossos clientes. Independente de onde estamos.
Tudo ainda é muito recente, mas já temos algumas experiências para compartilhar.
Há uma grande incerteza no ar e muitas marcas vão diminuir o ritmo que comunicam.
Para algumas delas, a prioridade será responder à crise interna, manter o negócio a funcionar e não necessariamente comunicar.
Já campanhas que estavam programadas para ir ao ar terão o tom da mensagem reavaliado e muitas vezes completamente alterado. Positivismo demais pode parecer alienação enquanto colocar muita ênfase na situação atual pode parecer demasiado negativo.
Já do lado das agências, nos perguntamos: É o momento de sermos pró-ativos? Eu penso que sim. Os clientes precisam analisar opções, cenários, possibilidades. Mas temos que estar preparados para um momento de difícil tomada de decisão: cautela tem sido a resposta mais comum.
Porém, o lado otimista é que, para muitas marcas, esta situação gera a possibilidade de comunicar os seus valores, de transformar palavras em ações.
Aqui no Japão, uma editora de mangá disponibilizou a leitura de histórias online de graça durante o período em que as crianças estão fora da escola.
A Lawson, loja de conveniência, ofereceu os famosos “rice balls” de graça para crianças que não iriam mais almoçar nas escolas durante um mês.
Uber Eats tem apoiado os pequenos negócios, incentivando os seus clientes a pedirem comida nos restaurantes locais. Para estes casos, não tem sido cobrada a taxa de entrega.
O Slack tem disponibilizado três meses dos planos de sua plataforma para organizações sem fundos lucrativos que estão na linha de frente do combate do vírus. A ideia é que possam se comunicar melhor.
No Reino Unido, o McDonald’s começou a oferecer bebida de graça aos profissionais da saúde como forma de agradecimento pelo trabalho extremamente valioso dessas pessoas. E mais recentemente, devido ao lockdown, as lojas do McDonald’s estão doando ingredientes para centros de caridade.
Não só as grandes marcas têm se manifestado, ginásios do mundo todo estão criando conteúdo online para que as pessoas possam se exercitar em casa.
Como sabemos, toda crise gera oportunidades. Mas esta é uma situação sem precedentes.
As pessoas estão com as suas vidas alteradas a um nível muito profundo e com a incerteza de quando e como tudo voltará ao normal. É preciso entender que este é um momento onde os consumidores estão questionando o que é ou não fundamental. Reduzir é a palavra que faz sentido e não comprar.
Mais do que nunca as marcas precisam fazer o que dizem ser o seu foco: as necessidades dos clientes. Essa crise pode ser um grande divisor de águas para as marcas que apoiarão as pessoas e para aquelas que irão confundir oportunidade com oportunismo. “