Nunca fez outra coisa que não fosse realização. Profissionalmente, falando. Porque, enquanto estudante, teve oportunidade de experimentar outras disciplinas, como as artes plásticas e o design. Mas o curso, esse, foi de cinema e foi no cinema que Leonel Vieira começou. Com umas curtas-metragens, em Madrid, ainda no âmbito académico, preâmbulo do filme que seria o seu primeiro e que começaria a escrever em 1996: “A Sombra dos Abutres”, estreado dois anos mais tarde.
Volvida uma década sobre esse primeiro filme, Leonel Vieira ingressa noutro mundo, o da realização em publicidade. Que, num exercício de comparação com o cinema, classifica como um sprint de 100 metros, por oposição a uma corrida de fundo. “Conceptualmente, a grande diferença é que o cinema nos dá mais liberdade. O realizador tem muito mais autonomia, tem uma relação estreita com o produtor, mas tem mais autonomia na conceção da história, da narrativa, a partir do momento em que ambos chegam a um entendimento. Na publicidade, o realizador é o executante e tem apenas controlo sobre o aspeto formal. Controlo esse que é partilhado com a agência (responsável pela criatividade) e com o cliente. Há uma responsabilidade tripartida, mas há menos liberdade”. Ainda assim, encontra na publicidade a mais-valia de funcionar como “uma espécie de grande laboratório” onde, todos os dias, se exercita a caligrafia. Porquê? Porque um filme é algo que demora muito tempo a concretizar e, por isso, não deixa espaço para esse exercitar: “A publicidade funciona como o exercício da realização, pelo facto de nos permitir filmar constantemente. E, depois, tem uma exigência técnica e profissional enorme, o que ajuda muito um realizador de cinema a crescer. Quem filma muita publicidade afina bastante a relação entre o pensamento e o exercício de realizar”, reflete.
Mas esta é uma permeabilidade que funciona nos dois sentidos: “A realização acrescenta uma narrativa plástica à publicidade. O desafio do realizador é conseguir, com a materialização de imagens, construir uma narrativa. Esta deverá ser, efetivamente, a grande capacidade do realizador. Conseguir acrescentar uma conceção formal e ‘gramaticalmente’ correta à narrativa. O equilíbrio entre a gramática e a razão plástica é, sem dúvida, a mais valia”.
O estado da indústria
A indústria, fiz o fundador da Stopline, está em profunda mutação, tanto do lado do cliente como do lado das agências e produtoras: “Flexibilidade é agora a palavra de ordem”. E explica: Além disso, “a urgência de colocar conteúdos relevantes no ar gerou uma indústria muito mais dinâmica. Porém, menos ambiciosa, porque muitas vezes o craft fica pelo caminho”. “E para nós será sempre prioridade, independentemente da dimensão dos projetos que trabalhamos”, remata.
Um filme é eficaz quando…
“Quando consegue cumprir o objetivo das pessoas que o criaram. No cinema, os filmes são eficazes mediante os objetivos de quem se propõe a fazê-los. Já na publicidade, a sua eficácia reflete-se quando atinge o seu target e a mensagem se propaga, alcançando o propósito do cliente”.
Se não fosse realizador seria…
Talvez diretor de fotografia.
De onde vem a inspiração
Da vida, do dia a dia, dos momentos de introspeção.
O local favorito para filmar
As planícies, o Alentejo, o planalto mirandês e ambientes suburbanos.
A hora favorita para filmar
Há qualquer coisa que me fascina antes da hora mágica, naquele instante próximo ao pôr do sol.
Qual a qualidade que um realizador deve ter?
Vocação. Tem que gostar, e gostar muito, mas sem vocação não se atingem objetivos.
Realizador que admira
Martin Scorsese.
A marca que mais gostou de trabalhar
Delta Q.
A marca para a qual ambiciona filmar
Ambiciono filmar com a marca que me permita ser mais criativo e que essa criatividade lhe acrescente, verdadeiramente, valor.
Primeiro filme publicitário que ficou na memória
“Vodafone – Está tudo rouco”. Foi o primeiro que filmei.
Campanha internacional que gostava de ter realizado
Volvo XC60. É um daqueles scripts que toca qualquer um. O exercício de storytelling é brilhante, para falar de segurança e futuro. A direção de fotografia é como eu gosto, identifico-me com a edição, com tudo.