Martim Condeixa não sabe, exatamente, o que o levou a ser realizador, mas tem bem presente na memória o dia em que o irmão mais velho lhe mostrou o filme “The Nightmare Before Christmas”, de Tim Burton, tendo despoletado em si uma visão e um interesse totalmente diferentes sobre cinema. E também não esquece quando, no liceu, fez uma “péssima” curta-metragem, em que teve “a coragem ou a terrível ideia” de escrever, realizar, ser protagonista e inclusive duplo. “Essa, sim, foi a minha primeira experiência como realizador e tive logo um longo e duro combate entre expectativa vs. resultado”, afirma, acrescentando que o resto é conversa. Que é como quem diz: estudou Comunicação e Imagem, trabalhou como assistente de realização em projetos de service e, mais tarde, já a estudar Cinema na República Checa, surgiu o primeiro convite para realizar uma publicidade em Portugal.
Sempre gostou de publicidade, sobretudo daqueles clássicos que ficam na cabeça e que se andam dias a cantarolar a música ou a imitar as expressões icónicas, mas foi o desafio dos 30 segundos, de uma narrativa imediata, do desafio da montagem, da possibilidade de explorar diferentes linguagens narrativas e técnicas, que desenvolveu em si o interesse pela área. Martim Condeixa confessa ser difícil caracterizar o seu trabalho, ainda que tenha colegas que já percebem quando um filme é seu e reconhecem certos elementos e características de realização, etc.. “Eu não faço ideia. Sei que tenho um certo carinho e prazer no universo do humor, pelo trabalho com os atores, o lado insólito e inesperado das narrativas, mas também um gosto enorme de uma boa e clássica história”, diz. No entanto, consegue definir-se enquanto profissional: é dedicado, ambicioso, pragmático e, sobretudo, bem-humorado. “Gosto muito do lado humano da nossa profissão – a possibilidade de comunicar com todo o estilo de pessoas. Num período de 24 horas, podemos recolher um universo de experiências humanas e isso agrada-me bastante”, acrescenta.
Para o realizador, um bom realizador tem de ter um enorme prazer em contar uma boa história, e garantir que a narrativa não se perde no visual e que o “core” da ideia se transmite de forma clara e eficaz. E ser pragmático, racional nos momentos difíceis e capaz de solucionar problemas rapidamente. “Mas, sobretudo, tem de ser capaz de se colocar nos olhos do espectador, garantindo que o filme toca naqueles para quem estamos a comunicar. De nada vale termos um filme perfeito para o nosso umbigo, se os outros não o entenderem”, defende.
O videoclip do rapper russo Oxxxymiron, que filmou em São Petersburgo, na Rússia, foi o trabalho que lhe deu mais gozo fazer – na altura, estava a começar a realizar. Sentiam-se umas “crianças” – ele e o diretor de Fotografia Leandro Ferrão – e foi tudo uma “enorme aventura”: filmar na Rússia pela primeira vez, a fama do músico, a escala do projeto e o orçamento envolvido. E são vários os que gostaria de ter realizado, mas destaca um, pela sua simplicidade, acting, técnica e, principalmente, forma como aborda o tema: a campanha “Life Story”, da instituição de caridade Barnardo’s, realizada por Ringan Ledwidge. “Um verdadeiro soco no estômago”!
Conseguir conciliar os dois universos de realização, publicidade e cinema, é o grande objetivo profissional de Martim Condeixa. “Apesar de só agora começar a tentar entrar no cinema, é nele que pretendo contar as minhas histórias e deixar a minha marca. Um projeto sem dúvida mais pessoal que começa agora”, termina.
Diariamente, “brincar” é no PLAYGROUND.
Carolina Neves