Ainda antes desta paixão houve outra, a Física, que o levou à Universidade da Beira Interior para tirar o curso de Engenharia Eletromecânica e… conhecer a realização… A história (de paixão) entre Telmo e a realização começou no segundo ano de faculdade, durante a participação na prova mundial Eco-Maratona Shell, que tinha como objetivo a construção de “um veículo que gastasse o mínimo de combustível possível em 100 km”, esclarece. Para inscrever o projeto no concurso foi necessária a criação de um filme de apresentação. E aqui algo aconteceu. Além de este trabalho lhe ter valido “o galardão de Veículo com Melhor Design em Bruxelas”, Telmo Martins fala de uma paixão que o assustou: “Uma certeza absoluta de que estava no curso errado”. “Ainda tentei ignorar, ser racional, pensar, ‘bem primeiro acabo Engenharia e depois estudo cinema’, mas a paixão foi mais forte do que a racionalidade e acabei por mudar de curso e licenciar-me em Design Multimédia e Cinema”, explica.
Estreou-se na realização em 2002, ainda antes de terminar o curso, no “primeiro filme totalmente em animação 3D produzido e realizado em Portugal”, com argumento do amigo Rui Zink. Seguiu-se, em 2004, a realização e produção da curta-metragem “Rupofobia”. “Foi um filme com um percurso notável a nível mundial, foi exibido em cinema como complemento de uma longa-metragem, foi editado pela FNAC, comprado pela Eurochannel, editado pela Nisimasa e distribuído em 15 países com tradução para cinco línguas, marcou presença em dezenas de festivais pelo mundo inteiro e ainda venceu vários importantes prémios nacionais e internacionais”, enumera.
A finalização da formação académica coincidiu com a dos “amigos de ‘guerra’”, que “se tornaram família” na Lobby Productions. “Desde esse dia, em setembro de 2006, produzimos mais cinema português premiado mundialmente”, adianta, referindo-se à primeira longa-metragem por si assinada, “Um Funeral à Chuva” e à série “SAL”, para a SIC, produzidas a par com outros filmes publicitários para marcas como Toyota, Mercedes, TAP, Multiopticas, Grant’s, Freeport, Lexus, Super Bock, Sagres, Caixa Geral de Depósitos, Parmalat, Galp, Porto Editora, Licor Beirão, Bial, SIC, Sony e Portugal Telecom. Mas para que marca gostaria de filmar? Para qualquer uma que esteja “disponível para novas abordagens, novas formas de filmar, novas formas de contar histórias”. “Embora em Portugal e noutros países se use o termo ‘realizador’ na verdade o profissional desse cargo é mais um ‘diretor’ de uma equipa que tem como objetivo produzir um filme”, defende.
No ponto de vista de Telmo, um realizador deve ser uma “pessoa extremamente sensível em relação à vida, aos outros e ao meio em que vive”, deve ser “conhecedor de técnicas transversais a todos os departamentos de produção de um filme” e deve ser ainda um “excelente” gestor de recursos humanos. E é tendo por base todas estas características que acredita que o input que um realizador pode dar num spot publicitário “é transversal”. Assim, pode “definir a dinâmica do filme” – o tempo da ação, os tempos específicos de cada género de filme – para que se consiga construir “o melhor ambiente emocional possível”; pode ainda “ajudar a definir artisticamente o filme”, através do tipo de luz, decoração, guarda-roupa, cores, enquadramento, para “comunicar a ideia ou sentimento pretendido”; e pode também “ajudar a redefinir o texto / diálogos” para que resultem melhor no contexto pretendido. Daí que assuma que todas as características de um realizador se tornam “ferramentas nos inputs criativos”, dando direção, sobretudo técnica, a um filme.
A realização em cinema e em publicidade trouxe-lhe diferentes experiências. No cinema aprendeu a entender as pessoas, “a estar atento aos sentimentos”, identificando, “de forma nítida, a fórmula quase matemática” de como funcionam os seres humanos. “No cinema, o realizador tem uma grande liberdade criativa, para não dizer praticamente total, é uma obra sua, artística, e assim o deve ser”, esclarece. Por outro lado, na publicidade “o objetivo de um realizador não é criar uma obra sua, seguindo a sua visão, a sua forma de ver o mundo, mas, sim, fazer parte de uma engrenagem composta por outras peças como a agência, a equipa criativa e o cliente, com o objetivo claro de comunicar algo muito específico”, diz. Aqui, retira a capacidade de obter resultados positivos “de forma rápida e eficaz”. Para Telmo Martins, é “impossível escolher” entre publicidade e cinema. “Quando existe amor e paixão verdadeira, mãe ou esposa? Impossível escolher”.
Mas, afinal, o que o motiva mais a continuar nesta área? “O poder de dar vida, de trazer ao mundo locais e personagens que não existiam antes de pensar neles, de lhes dar personalidade, de lhes colocar falas na boca e sentimentos no coração”, responde. “A possibilidade de contar histórias, de tornar algo imaterial em material, visível, imortal”, acrescenta. É esta capacidade de criar mundos e personagens que, na ótica do CEO da Lobby, faz um bom realizador, um “alquimista emocional”. “A capacidade de guardar em gavetinhas nos armários do cérebro e do coração tudo o que vê e tudo o que sente enquanto vive e depois conseguir usar tudo isso para criar mundos novos”, conclui.