Briefing | Como surge esta ideia?
Gonçalo Martinho | Esta ideia surgiu há uns meses, numa noite “alegre” com o meu amigo e dupla António Neto. Na altura pareceu-nos bem, nos dias seguintes continuou a parecer-nos bem e decidimos então avançar com a ideia. Eu sempre gostei de fazer projetos pessoais fora do trabalho, o António também, e acho que são bons porque criamos algo de raiz, temos uma total liberdade e controlo sobre tudo, encurtamos processos entre a ideia e a execução final e acaba por ser um bebé que vemos nascer… Porque é realmente nosso. E isso é um excelente exercício.
António Neto | Queríamos pôr algo com pés e cabeça no ar, mas que também nos desse um gozo do caraças fazer. Encontrámos este vazio no mundo dos “podcasts”. Não que já não existissem alguns sobre criatividade em português, porque existem e recomendamos. Acontece que o foco do nosso podcast não é a criatividade, é o criativo em si, os seus “anúncios”, embora entrevistemos profissionais de outras disciplinas relacionadas com a publicidade. Queríamos algo focado nas pessoas que exercem esta profissão, nas suas vidas, nas suas carreiras, nos seus altos e baixos. Um pouco de “mentoring” de graça, vá, para compartir com quem estiver interessado.
E a vossa parceria surge quando? Já trabalham juntos há muito?
GM |Nós conhecemo-nos e trabalhámos na FCB Lisboa um ano e meio, em 2015. O António seguiu para outra agência, eu fiquei… depois troquei eu e voltámos a cruzar caminhos o ano passado para virmos juntos para Berlim.
AN | Depois da FCB, ficou sempre uma amizade e uma grande vontade de voltarmos a trabalhar juntos. O podcast foi a primeira pedra na conquista desse objetivo.
Porquê falar de anúncios? Fazem falta conteúdos que não sejam os anúncios em si?
GM | Falar de anúncios é mais uma brincadeira com o nome, porque muitas vezes as pessoas se referem à nossa atividade como ‘a malta dos anúncios’, ‘dos reclames’… por aí. Então quisemos brincar com isso e deixar logo presente o tom que queremos para o projeto, que é descomprometido. Vamos falar de comunicação em geral e de publicidade em particular, e vai variar consoante o convidado. Acho que fazem falta conteúdos sobre a área e sobre as pessoas que lhe dão vida, num registo mais próximo do que aquele a que estamos habituados quando vemos ou lemos entrevistas nos meios mais tradicionais ligados ao mercado. É tudo muito formal e acabam por parecer entrevistas a jogadores de futebol. Pelo menos soa ao mesmo.
NA | Somos dois gajos que falam de anúncios com um terceiro ou terceira da área. O mercado português adotou o lado “festivo” da publicidade. Temos os prémios, as festas, as galas, mas a indústria acaba por conversar pouco. Ou se o faz, não parece. E quando parece, como o Gonçalo referiu, soa a “press release”. Precisamos de mais gargalhadas e murros na mesa, de ouvir gente a falar de forma apaixonada sobre o que faz, do que está bem e daquilo que pode — e deve — ser mudado. Um exemplo: os debates sobre “gender equality” e assédio sexual já chegaram ao mercado português? Eu não reparei que tenham chegado — o que pode ser falha minha — e é por isso as nossas conversas também passeiam por temas como estes.
Qual o registo?
GM |Vamos ter um episódio por semana com um convidado relevante na indústria da comunicação em Portugal, maioritariamente com foco na indústria publicitária lusa ou brasileira (e angolana ou moçambicana, se houver possibilidade). Vamos falar sobre o percurso da pessoa, sobre histórias, sobre o nosso mercado, diferentes percursos e profissões no âmbito do que fazemos… claramente num registo informal.
AN | A ideia é pôr um pé na porta do “gabinete” (acho que não existe tal coisa numa agência, mas adiante) de gente que se destaca no mundo da publicidade feita em português. Muitas destas pessoas são quase inacessíveis para uma conversa com pés e cabeça, e não o fazem por mal, acho que simplesmente não têm tempo. Ora, o que lhes falta em tempo sobra em generosidade, como poderão ouvir a partir de dia 11.
E quais os objetivos? Até onde querem chegar?
GM | É um projeto pessoal que nos toma bastante tempo e nos dá muito trabalho fora do trabalho. Queremos que seja relevante, mas não pode ser um monstro. Acho que, se chegar às pessoas da nossa indústria como o podcast português de referência sobre a área, isso já é ouro para nós. Gerar interesse em quem trabalha nisto e ser uma ajuda para quem está em início de carreira ou a estudar é um dos grandes objetivos. Depois há sonhos, claro. Fazer isto com mais condições, ter um dia um canal do YouTube com a transmissão dos episódios, criar parcerias que nos permitam fazer o podcast em contextos específicos por exemplo, tornar-se um livro, enfim… Há muito por onde explorar com base nisto. Pode evoluir para muita coisa, como pode ser sempre só um podcast com transmissão áudio.
AN | Basicamente, gostávamos que quando perguntarem a um professor ou diretor criativo se recomenda algum podcast da área, que ele falasse (também) do nosso. De resto, temos objetivos e sonhos. Estamos a começar por cumprir com os primeiros, na esperança que nos levem até aos segundos.
Mudaram-se para Berlim. Isso vai condicionar o vosso olhar?
GM | Não diria condicionar. Acho que vai alargar o nosso olhar e o nosso horizonte. Vai talvez fazer-nos olhar para as coisas com novos pontos de vista também presentes, o que é bom na minha opinião. E isso pode ajudar também na visão do que queremos com o podcast e para o podcast. Mas o foco do projeto é mesmo dar voz às caras do mercado, aproximar a comunidade profissional da académica e ajudar a mostrar que há muita gente boa nisto.
AN |Vou concordar e discordar do Gonçalo. “Às vezes, é preciso sair da ilha para ver a ilha.” A internet atribui esta frase a Saramago, o que significa que deve ser de uma blogger de lifestyle. O que quero dizer com isto é que a distância nos vai fazer ver o mercado de outra forma. É inevitável. O que não significa que passemos a ver apenas defeitos no que se faz em Portugal. Antes pelo contrário, pois estou certo de que sentiremos falta de muita coisa. Há cérebros e mãos de criativos portugueses nas melhores campanhas que se fazem no mundo. Por que razão não as fizeram quando estavam em Portugal? Se o podcast ajudar quem começa a pensar com “mais sangue nos olhos”, como dizem os nossos irmãos brasileiros, a aposta estará ganha.
O que podemos esperar do primeiro episódio?
GM | Uma conversa / entrevista descontraída e muito humana a um dos nomes mais consensuais do mercado publicitário português, o grande Pedro Magalhães, diretor criativo da Fullsix. Falamos de muitas coisas, acho que vale a pena ouvir. É já dia 11 [hoje] e ele é uma máquina.
AN | Queríamos começar com alguém inquestionável a nível de talento e trabalho, e muita boa onda. Ora, como poderão ouvir em breve, o Pedro Magalhães não é uma boa onda, é um ótimo tsunami. E preparem-se, porque temos mais.