Há machismo nos media? O NewsMuseum dá respostas Capazes

Os media são machistas? A história mostra que sim. Porque a própria sociedade o é. Esta conclusão poderá retirar-se da exposição Macho Media, que o NewsMuseum inaugura a 25 de abril, dia do seu primeiro aniversário, mas também dia da liberdade. Com curadoria das Capazes, a iniciativa pretende olhar por trás desse espelho e mostrar como as mulheres foram capazes e conquistaram visibilidade mediática.

Nas palavras de Joana Portugal, coordenadora executiva do projeto, sendo o NewsMuseum um espaço vivo e que acompanha a atualidade fazia todo o sentido dar palco à luta das mulheres pela afirmação dos seus direitos e pela igualdade de género, luta que, olhando precisamente para os media, continua na ordem do dia: “O nosso objetivo, além de mostrar e enfatizar esta luta, é mostrar como as mulheres se emanciparam e conquistaram a visibilidade mediática”.

Para levar a bom porto esta missão, o NewsMuseum contou com a curadoria da associação feminista Capazes, escolhida por constituir “um projeto coeso que promove a informação e a sensibilização da sociedade civil para a igualdade de género e defesa dos direitos das mulheres”. “Contar com a curadoria desta associação é uma mais-valia para a exposição cuidada e aprofundada dos temas que nos propomos a apresentar”, resume Joana Portugal.

Um desafio que a associação acolheu: “O tema interessa-nos muito e, por isso, aceitámos imediatamente”, responde Rita Ferro Rodrigues, cofundadora das Capazes. Ou não se enquadrasse o tema desta exposição temporária na missão da associação: “A relação das mulheres com os media é tudo menos pacifica. A invisibilidade das mulheres no espaço público continua a ser uma realidade. Basta abrir a televisão e contar quantas mulheres estão em programas de debate, quantas estão como comentadoras. Basta abrir os jornais e verificar quantas estão nas direções dos mesmos. De caminho podemos também analisar a forma como os media analisam a prestação das mulheres na política … a forma como trataram jornalisticamente as suas lutas, reivindicações etc… Há muito para refletir”.

Enquadra-se igualmente na missão do NewsMuseum de promover a literacia mediática: “Nada melhor do que uma exposição temporária para descrever e enfatizar a conquista pela emancipação das mulheres nos media”, comenta Joana Portugal.
O tema da exposição simboliza o que está em causa. Rita Ferro Rodrigues não tem dúvidas de que ainda existe machismo nos media e na sociedade em geral, que os media refletem, e dá como bom retrato do que se passa o que é denunciado na página #mulhernaoentra.

Reconhece que, num cenário em que os cursos de Comunicação Social e as redações dos media tendem a ser, maioritariamente femininos, o desequilíbrio já deveria estar ultrapassado, mas “o problema é que as mulheres não chegam aos cargos de chefia”. “O chamado ‘telhado de vidro’ sufoca-as pelo caminho. O facto de as mulheres viverem em dupla jornada permanente (carreira + responsabilidades como cuidadoras de crianças e idosos das famílias) faz com que não tenham as mesmas oportunidades de progressão profissional”, enquadra, reforçando: “Esse é o ponto chave. A responsabilidade de cuidar (tão importante em qualquer sociedade civilizada e decente) tem de ser repartida, de forma igualitária, por homens e mulheres”.

Mais mulheres nas direções e nas administrações dos órgãos de comunicação social contribuiria para fazer a diferença, “a diferença no caminho da igualdade e, não menos importante no sucesso da construção de um país”. Afinal, os media, diz Rita Ferro Rodrigues, são reflexos da sociedade. Mas isso não os desobriga de “contrariar os modelos patriarcais instituídos, denunciar as desigualdades e contribuir para o esclarecimento das pessoas no que diz respeito à importância da mulher na sociedade”.

Alguma vez chegaremos a um momento em que a questão deixe de se colocar? A fundadora das Capazes começa por recordar que há países, como a Suécia, em que a questão quase não se coloca. Como conseguiram? “Alteraram as leis e só depois as mentalidades começaram a mudar. Impuseram quotas. Há que agir politicamente sem receio da reação (natural) negativa que acontece quando se contraria um modelo machista secular”.

Mostrar o caminho que tem sido percorrido com a igualdade no horizonte é o que se propõe o NewsMuseum. Com Macho Media, pretende dar a conhecer as lutas, os obstáculos, as conquistas e o progresso que as mulheres protagonizaram em mais de um século de episódios mediáticos. Joana Portugal sintetiza: “Inaugurar esta exposição no dia em que se celebra, não só o primeiro aniversário do NewsMuseum, mas também o dia da liberdade em Portugal releva a importância do tema”.

fs@briefing.pt

 

 

Segunda-feira, 17 Abril 2017 11:47


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