Briefing | A Happy Conference assume-se como “uma das maiores conferências na área da liderança e do desenvolvimento humano”. Em que medida?
Carlota Ribeiro Ferreira | A Happy Conference é uma conferência muito interessante, com 13 anos de vida e uma história bonita e consistente a inspirar líderes e equipas nas áreas de desenvolvimento humano. Não gosto de dizer que somos uma das maiores conferências, pois isso é relativo, mas assumimos um grande compromisso em contribuir para o crescimento das pessoas e das organizações, estando permanentemente atentos àquilo que são as necessidades de conhecimento dos tempos e daí fazer uma curadoria com significado, inovar e criar experiências de impacto – com conhecimentos e ferramentas que as pessoas levem para as suas vidas, apliquem no trabalho, em casa, na vida.
Ao longo destes anos, a Happy Conference contou com mais de 10 mil participantes de mais de 300 empresas, nacionais e internacionais. Em 2020 e 2021, tivemos edições 100% virtuais, ganhámos alcance global, e hoje assumimos um modelo híbrido, produzido e emitido a partir do Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, para todo o mundo.
Diria que o desenvolvimento humano é indissociável da liderança?
Sem dúvida. O aspeto mais importante de um líder, na minha opinião, é o seu sentido humano, a forma como se relaciona e impacta a vida das pessoas, a capacidade que tem para dar espaço e promover o crescimento das pessoas que o rodeiam, permitindo-se ser humano também, com toda a coragem e vulnerabilidade que existe em si. Um líder é uma pessoa que faz a diferença na vida das pessoas e, para isso, também tem de estar bem consigo. Ora, isso exige uma consciência e uma presença plena no caminho, exige sensibilidade, intuição, um bom entendimento da mente, dos sentimentos e das emoções.
Psicologia, Filosofia, História, as Humanidades em geral, a inteligência emocional, enfim, são tudo dimensões que hoje são trabalhadas de forma muito mais intencional nas empresas. É preciso crescer com esse sentido humano bem apurado, e, portanto, esse permanente compromisso com o desenvolvimento humano é um imperativo.
Como surgiu a saúde mental como tema da edição de 2022?
Bom, na WIN World somos muito apaixonados pela saúde, pela vida com mais vida, pelos saberes que nos permitem um estar mais pleno. Temos tido vários projetos nas áreas da saúde, muitos de cariz mais clínico e/ou para públicos claramente clínicos, mas, se virmos mesmo, a Happy Conference já nasce em 2009 com esse objetivo de trabalhar matérias de felicidade e bem-estar para audiências corporativas.
Em 2021, o tema da Happy Conference foi a segurança psicológica – e quase que posso dizer uma base essencial para a saúde mental nas empresas, e, em 2022, quisemos ir mais longe e abraçar a saúde com uma nova amplitude.
Embora antes da pandemia já houvesse uma consciência crescente de saúde, e um entendimento integrado da saúde física, emocional e mental – os desafios dos últimos dois anos reforçaram a importância de uma vida saudável e de um sistema imune robusto, tornando a saúde no trabalho, em particular a saúde mental, uma prioridade nas agendas dos líderes. E, se há dois anos, o apoio dado pelas empresas aos seus colaboradores em termos de saúde era geralmente visto como um extra desejável, agora é um verdadeiro imperativo empresarial.
A saúde das pessoas é, neste contexto, um alicerce dos negócios mais diferenciados e responsáveis. A razão é simples: a médio e longo prazo, as pessoas saudáveis são mais felizes, mais resilientes, mais criativas, mais produtivas, eficientes e envolvidas. As empresas que dão prioridade à saúde no trabalho e fornecem aos seus colaboradores conhecimento e ferramentas para estes gerirem e melhorarem a sua saúde, estão não só a agir corretamente do ponto de vista social, mas também a apostar numa visão empresarial vencedora assente numa cultura ampla de saúde, com muitos pequenos e grandes efeitos, a nível individual e de grupo.
Mas, vamos mais longe. Se pensarmos que as pessoas passam a maior parte do seu tempo no trabalho, e que as empresas têm uma grande influência na vida dos seus colaboradores, vemos que, ao inspirar e promover ambientes de trabalho saudáveis, as empresas assumem progressivamente um papel verdadeiramente importante como catalisador e veículo de saúde pública.
No que diz respeito à saúde mental, empresas do mundo inteiro recorrem já a programas especiais para ajudarem os seus colaboradores a gerir melhor o stress, combater o esgotamento e os baixos níveis de envolvimento, zelando, assim, por mais e melhores equilíbrios de vidas e carreiras. As pessoas precisam – e esperam – ambientes de trabalho saudáveis, e tudo isto requer profundas e complexas mudanças nas culturas e dinâmicas organizacionais para futuros verdadeiramente sustentáveis. As empresas, até pela sua natureza, devem ser espaços de saúde, não de doença. E todos temos de estar mais conscientes, formados e treinados para desempenhar um papel. A Happy Conference 2022 pretende inspirar os lideres e as suas equipas, nesse sentido, nesse compromisso coletivo.
Zelar pela felicidade das pessoas é decisivo para a saúde (e o futuro) das organizações?
Sem dúvida. As pessoas são a essência e o motor das organizações e, portanto, este cuidado e esta atenção enorme para culturas genuínas de saúde são imperativos. E neste âmbito de saúde corporativa é importante valorizar a amplitude do termo e as implicações que uma filosofia de saúde tem nos modelos de trabalho, nas métricas de avaliação, naquilo que valorizamos, damos ou pedimos às pessoas, nos incentivos, nos prémios, entre muitas outras coisas – ou seja, princípios e valores de saúde têm de estar refletidos de forma consistente nas mais variadas dimensões da vida e dinâmica organizacional.
É preciso arrojar neste domínio ou as ferramentas já existem e apenas não são postas em prática?
Muitos conhecimentos e ferramentas já existem, mas é necessário mais formação, intenção e implementação. E há uma transformação que é muito desafiante e não acontece da noite para o dia e isso tem a ver com aspetos menos tangíveis – a consciência, a cultura, os modelos de trabalho, enfim, estes aspetos evoluem, mas não de forma tão imediata. A interiorização é progressiva e a colocação em prática também; é normal, e só assim é possível haver impactos sistémicos. Se me pergunta, “mas temos de acelerar?”, sim, claro, mas o caminho está a fazer-se.
O que levou à escolha dos oradores para a edição deste ano?
Começámos pela narrativa que gostávamos de criar e que é muito mais assente numa visão ampla e integrada de saúde – física, emocional, relacional, mental.
Queríamos fazer uma conferência que tem a ver com saúde nas empresas e o que líderes e equipas podem ter nas suas mãos para criar organizações mais saudáveis e plenas a todos os níveis. A primeira parte dedica-se claramente ao macro contexto e a dois aspetos importantes da saúde mental e emocional (stress e compaixão); a segunda parte aborda temas mais clínicos (nomeadamente a importância da saúde preventiva), estratégicos (estratégia, programas e ideias interessantes no âmbito da saúde corporativa) e empowerment (o poder que existe em cada um de nós para adotarmos bons comportamentos e operarmos mudanças de impacto). Os oradores e os convidados do painel foram escolhidos pois são referências importantíssimas nas suas áreas e contribuem de forma muito positiva para esta história maior que queremos abraçar e para este posicionamento da saúde nas empresas que gostávamos de inspirar.
Que resultados espera alcançar?
Uma conferência informativa e inspiradora, capaz de convocar as pessoas para o papel maior que podem desempenhar na saúde, sua e de quem as rodeia. Por vidas com mais vida, dentro e fora das organizações.