Briefing| O que motivou o interesse neste portefólio de revistas da Impresa?
Luís Delgado | O meu interesse foi, para ser franco, puramente casual. Começou com uma conversa de corredor na SIC depois de sair de estúdio após um comentário, porque tinha ouvido a notícia de que a Impresa pretendia desfazer-se das revistas. Pedi informações sobre os títulos, analisei as contas em detalhe e percebi que todos eles eram muito interessantes porque, além de grandes marcas, também tinham resultados positivos. A minha ligação de décadas ao setor, que posso dizer que conheço bem e do qual gosto muito, acabou obviamente por ser determinante.
Qual o investimento subjacente ao negócio?
Os dados são públicos, foram anunciados à CMVM pela Impresa: 10,2 milhões de euros. É um justo valor para um conjunto de revistas que faturam 23 milhões de euros e que dão um bom EBITDA positivo.
Quais os seus planos para estas 12 revistas?
São simples: quero dar-lhes condições para crescer. Acredito que são todos grandes produtos editoriais, bem feitos, com equipas talentosas, e que têm margem para evoluir com uma equipa profissional de gestão, comercial e de marketing, exclusivamente dedicada a elas.
A Trust in News foi criada de propósito para este negócio. Mas há outros projetos em carteira ou no horizonte?
Tenho investimentos em vários setores e estou sempre a pensar em novos projetos. É isso que me dá prazer.
Pegando na marca que criou, continua a acreditar nas notícias?
Não tenho nenhuma dúvida acerca disso: acredito no bom jornalismo e no poder das grandes marcas de media.
E na imprensa em papel? Há muito que o fim vem a ser anunciado… As revistas têm mais potencial do que os jornais?
As notícias sobre a morte anunciada do papel são manifestamente exageradas, diria Mark Twain se fosse vivo. Acredito muito no papel, e eu – recorde-se – lancei o primeiro jornal exclusivamente digital em Portugal. Vejo o papel como um nicho de qualidade onde as revistas vingarão: pelo prazer de leitura que proporcionam e pelos conteúdos e pelo design que oferecem.
Uma questão que se coloca sempre é a da publicidade. A confiança dos anunciantes mantém-se? Como se vão financiar?
A forma como os leitores se relacionam com o papel é diferente: para quem pretende passar mensagens de qualidade e alcançar certos targets, o papel é de longe a forma mais eficiente para ajudar a alcançar certos objetivos. O digital é interessante, é evidente – e estas revistas todas têm presença digital, algumas bastante forte –, mas está longe de garantir todas as necessidades dos anunciantes que se querem posicionar em determinados segmentos. Acredito que os anunciantes vão continuar a investir nestas grandes marcas e nestes grandes produtos. E temos projetos de os surpreender com novas ideias e propostas. Só não podemos é contar tudo já – o segredo é a alma do negócio.
Foto: Luís Barra