O diploma da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa em Comunicação Empresarial não dá pistas sobre o percurso profissional de Pedro. Porque a comunicação empresarial cedo ficou para trás, trocada pelo mundo da publicidade. E confirmando um fascínio que já vinha de longe, dos tempos em que fazia produções a meias com o irmão: “Fingíamos muitas vezes ser locutores de rádio e gravávamos os nossos programas (ainda tenho essas cassetes), onde fazíamos tudo, cantávamos as músicas, falávamos com ouvintes imaginários (ou com desconhecidos a quem ligávamos) e fazíamos também a parte dos anúncios com os jingles que ouvíamos na televisão”. Seria, porém, com os “Anúncios de Graça”, na RTP, que o fascínio pela publicidade ganharia força. O que o atraía – recorda – era a magia: “Eu via os primeiros anúncios da BBH para a Levis ou da W+K para a Nike com o Figo e aquilo eram pequenos filmes, com pessoas que se contorciam, voavam, paravam no ar, com uma estética e produção incríveis. Tão bom ou melhor do que muitos filmes que víamos no cinema”.
Ainda assim, estudou Comunicação Empresarial. Que, inesperadamente, lhe abriu as portas para a publicidade. Pedro conta como aconteceu: “Estava a fazer um estágio numa agência de relações públicas e o meu trabalho era basicamente folhear todos os jornais e revistas do dia, à procura de artigos onde os clientes da agência fossem mencionados. Uma seca, achava eu. Mas, porque nada acontece por acaso, acabou por ser esse trabalho que me levou para a McCann. Um dos jornais tinha um anúncio da McCann à procura de ‘talentos’. Guardei aquela página, fui ao gabinete do meu chefe e despedi-me no mesmo dia. Tive sorte. No meio de centenas de candidaturas, escolheram cinco. E a minha era uma delas”. Estava-se na Lisboa de 2004. Hoje, aos 35 anos, Berlim é a sua casa. Por opção. Porque queria ter uma experiência internacional e trabalhar com as marcas que admirava. Por isso, em 2011, fez as malas e tentou a sorte em Amesterdão. Acabou por ficar na Sid Lee, a trabalhar na conta global de futebol da adidas.
Não mudou só de país. Mudou de ritmo. E no início foi difícil: “Os projetos são normalmente mais longos. Há muitos rounds de apresentações. Em Portugal, as coisas são muito mais dinâmicas – estava habituado a resolver uma campanha numa semana ou duas. Mas fora de Portugal, e em contas internacionais, as coisas demoram meses. E isso no início era uma fonte de enorme ansiedade e frustração. Eu queria fazer portfolio, fazer filmes, pôr trabalho na rua. E não queria esperar”. Mas estes últimos anos têm sido “incríveis”, anos de “enorme crescimento pessoal e profissional”. “Cheguei a Berlim com o plano de ficar dois anos, no máximo dos máximos. Hoje, passados quase cinco, tenho a minha família aqui, sinto-me completamente em casa, e tenho a sorte de trabalhar numa das melhores agências da Alemanha, com pessoas de quem gosto muito e que sempre me motivam para fazer mais e melhor”. O que é que se pode pedir mais? “Só mesmo bom tempo e amêijoas como deve ser”.
Não é só o ritmo que é diferente. Os orçamentos também. São “bem mais generosos”. Mas Pedro lamenta que os processos tão longos, porque se produz menos e há muito mais trabalho a ir para o lixo. E exemplifica: “A campanha mundial do Golf, por exemplo, demorou 15 meses (!!!) desde o briefing até ir para o ar”. No caso particular da Alemanha, há também “muito mais layers”, quer do lado da agência, quer do lado do cliente: “É tudo superburocrático e penoso”. Mas há uma parte: “É que, quando a tua ideia vai para a frente, normalmente tens possibilidade de produzir bem. E isso, às vezes, faz toda a diferença”.
Para o convite da DDB acredita que concorreram o trabalho que fez para a adidas em Amesterdão e os filmes para a Vodafone quando estava na JWT Lisboa – “o tipo de storytelling encaixa bem no que a DDB faz para a Volkswagen”. Mas o fator decisivo terá sido o facto de ter um portfolio “muito diferente” da maioria das pessoas que trabalham na Alemanha, onde a maior parte dos criativos só faz publicidade. “Eu gosto de explorar outras áreas, de fazer projetos paralelos como o Alemês, ou mais recentemente o Marquês Em Todo O Lado. E hoje em dia, esses são os projetos em que me dá mais gozo trabalhar, porque fazes realmente o que gostas, como gostas”, comenta.
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