Luís começou a cultivar bonsais há “mais ou menos” seis anos, “depois de fazer uma viagem ao Japão”. Foi durante o outono, “uma época em que as árvores se destacam muito pela tonalidade e por estarem com os galhos expostos”. Conta que aprendeu muito nesta viagem e uma destas aprendizagens foi que “um bonsai não é apenas uma árvore, mas também uma forma de expressão, um elemento que pode ser moldado pelo homem”. O entusiasmo pelo tema foi tal que, assim que chegou a Lisboa, começou “a ler tudo o que havia sobre bonsais”, o que resultou no início de uma coleção que conta já com 12 exemplares.
Esta atividade, que qualifica de “complexa”, representa o despertar do interesse “por um lado da natureza que não o animal”. Hoje, junta todo o saber que angariou dos bonsais, “em relação à semente e à terra”, noutras plantas e especiarias que cultiva.
Mas, afinal, o que lhe transmite este hobby? “A primeira delas é paciência”, porque, quando é feita uma intervenção no bonsai “só muito lá para a frente” é que consegue observar o resultado das ações. “Não há uma gratificação instantânea”. A segunda “é o controlo”, porque, diz, apesar da espera, quem cultiva o bonsai controla tudo o que se passa com a planta. “É uma árvore dentro de um vaso e somos nós a força natureza, doseamos a exposição solar, o vento, os nutrientes da água”, explica. “Podemos atuar sobre a realidade, mas devemos saber esperar o tempo que ela exige”, esclarece. O stress da profissão – declara – “não pode estar ali” e isso ajuda-o “a balançar a vida pessoal com a profissional”. Acrescenta ainda que a dinâmica entre este hobby e a profissão que exerce é a mesma: “Como estratega, eu tenho que ver muito mais à frente e executar em curto prazo”. Também o perfeccionismo é um aspeto comum entre as atividades, porque “só funciona se for bem feito, se for bem executado”. “Posso ter excelentes ideias, mas, se não tiver a técnica e a capacidade de executar, não vai ficar bem feito”, assegura.
Não há dia em que não olhe para os bonsais “pelo menos cinco minutos”. “Chego a casa, o meu gato cumprimenta-me e eu cumprimento os bonsais”, desvenda. Mas não os humaniza. “São árvores, são espécies e são especiais justamente por isso”, daí que não lhes dê nomes, “chama-os” pela espécie. “Há algumas alturas em que os bonsais precisam de mais cuidados: na primavera, porque a natureza está com toda a sua energia, ou seja, para manter a árvore no seu formato ideal é preciso podar, cortar e aramar; e depois no outono, que é quando a natureza suga mais a energia do bonsai, é necessário um olhar atento para perceber se tudo está bem”, explica.
Tem “por volta” de 12 bonsais e aponta quatro como preferidos: o Prunus Mume, o “preferido no inverno pois é o primeiro bonsai a florir”; o Ulmeiro, que prefere na primavera/verão, “pela força com que cresce, todos os dias está diferente”; a Ramanzeira (Punica Granatum), a espécie predileta no outono, “pelas folhas de cor amarela vibrante”; e, finalmente, o (ou um) Junipero, que “é especial, não pela beleza”, mas porque tem a mesma idade que ele próprio. “Há alguns mais complexos de ter e outros mais simples. Uns são mais comunicativos, desenvolvem-se mais rapidamente e exigem mais cuidados manuais, o que eu gosto, por outro lado, há outros que precisam de mais tempo para se desenvolver”, explica. Admite que tudo isto o faz sentir-se “muito mais consciente e conectado com a natureza”. “Hoje, olho uma planta e consigo perceber o que se está a passar ao redor dela. É uma forma de ver o mundo”, comenta.
Nunca fez uma exposição, mas admite “o hábito de fotografar muito”, partilhando esta “parte” de si na página pessoal de Instagram. Já pensou dedicar-se apenas aos bonsais, mas admite o receio de transformar este hobby em algo profissional, porque “acabaria um pouco com a magia da escapatória”. “Não faço ideia se este vai ser, de facto, o meu futuro. Vai estar comigo para sempre, isso quase de certeza, agora como maneira de ganhar dinheiro, isso talvez não”, constata. “Tenho bonsais com 70, 80 anos e acho isso tão extasiante…colocar-me apenas como só mais um personagem na viagem de uma árvore que vai continuar depois de mim. Uma lição de humildade”, conclui.