Leia o que pensa o Pedro sobre o(s) medo(s):
“Numa das respostas ao célebre Questionário de Proust, uma edição sui generis da Vanity Fair, publicada em 1998, David Bowie afirmou que viver com medo é a condição mais miserável que existe.
Ser conceptualmente destemido é casa de partida para quem tem uma actividade criativa. Tal não significa necessariamente, ser imprudente. Significa ter uma visão, uma fé interior, saber ler o instinto e a intuição, e também, ter o trabalho de casa feito.
Recentemente, no parque infantil favorito da minha filha, estive atento à palavra mais usada pelos adultos ali presentes que acompanham os miúdos: “Cuidado!”.
Repetido à exaustão, torna-se cultura. A cultura do medo, que se alimenta da dependência e da condescendência, e que varre o tecido social, político e económico, do administrador ao recepcionista. Quantas grandes ideias ficaram pelo caminho por causa do medo. O medo faz com que as chefias trabalhem com o foco no gosto e capricho das administrações, esquecendo o foco que mais vale, as pessoas. A razão de existir das empresas.
O medo no topo das organizações contamina tudo.
Já o focus group é o meu ex-libris de estimação para o medo. Medo do mercado.
“Sabe? Nós até preferíamos a vossa proposta, mas foi uma decisão política.”
O medo de perder o poder.
Hoje, olhando para trás, constato que uma parte considerável das minhas melhores ideias nunca viu a luz do dia. Nas reuniões de apresentação de conceitos há sempre um advogado-do-diabo a “salvar” a companhia. Ocorre-me agora pensar que, se algum dia fizer uma biografia, vou optar apenas, e, sem medos, por material nunca antes editado ou mostrado.
O medo transforma o futuro em monotonia e declínio.
Não obstante toda a tecnologia de ponta mais os avanços da ciência, vivemos um período na defensiva: medo de perder o emprego, medo de mudar de vida, medo dos migrantes, medo da globalização, medo dos maus hábitos, de envelhecer, medo do terrorismo, medo dos homossexuais, medo das mulheres, medo de não sermos aceites, medo de quem pensa diferente, sente diferente. Medo do preto, medo da morte.
Mas, pior do que ter medo da morte, é ter medo da vida.
Por isso, sim, vai ser uma noite sem medos! Alguém tem dúvidas?”