Em horas apressadas, em que a ida ao supermercado se faz de fugida, não há tempo, nem disponibilidade mental, para análises demoradas aos rótulos dos produtos alimentares. Interpretar o que vem inscrito nas embalagens pode ser um quebra-cabeças. Que iogurte ou cereais comprar? Listas de ingredientes e tabelas nutricionais, embora indispensáveis, são complexas, e exigem alguma demora na interpretação e análise, algo que não se coaduna com a aceleração dos dias. É, pois, necessário um esquema que descomplique e que traduza numa mensagem curta e clara o valor nutricional global do alimento que cada embalagem alberga. O Nutri-Score, logótipo colorido, com cinco letras associadas a cinco cores, é uma ferramenta que ajuda o consumidor a compreender de forma intuitiva a mensagem e a facilitar a decisão de compra. Fornece informação simples e imediata sobre a qualidade nutricional dos alimentos.
Com caráter opcional, o Nutri-Score já foi adotado pelos governos de sete países europeus: Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Países Baixos e Suíça. Em Portugal, só algumas marcas adotaram esta sinalética, não sendo oficial. Além de contar com o apoio de várias associações de consumidores, reúne consenso entre centenas de cientistas e profissionais da área da saúde, entre os quais se incluem 25 portugueses.
Como funciona o Nutri-Score?
Em 2016, a França foi pioneira na adoção do Nutri-Score. Proposto por uma equipa de investigação em nutrição, liderada por Serge Hercberg, médico com especialização em epidemiologia e nutrição, o Nutri-Score foi implementado como a escolha da autoridade de saúde francesa, para aplicar na parte da frente dos rótulos dos alimentos transformados e pré-embalados, incluindo bebidas não-alcoólicas.
Retangular, o Nutri-Score é um logótipo que salta à vista, devido às cinco cores em que se encontra dividido: verde, verde-claro, amarelo, laranja e vermelho. Estas, por sua vez, encontram-se ligadas às letras A, B, C, D e E, respetivamente. Com esta escala, pretende-se mostrar a qualidade nutricional dos alimentos e, ao mesmo tempo, apostar numa interpretação fácil e rápida.
Um “A” sobre verde ou um “E” em cima de vermelho possuem, na zona que os medeia, uma escala progressiva que distingue um alimento nutricionalmente mais interessante de outro no polo oposto. Por detrás das letras encontra-se uma nota, determinada por pontos desfavoráveis e pontos favoráveis. As percentagens de fruta, legumes, leguminosas, frutos secos, azeite e óleos de colza e noz, fibras e proteínas são consideradas pontos positivos. Já os pontos a merecerem reprovação referem-se às calorias (energia), à gordura saturada, aos açúcares e ao sal. São estes os elementos que entram no algoritmo, cujo resultado é uma classificação que corresponde à qualidade nutricional global do alimento. Por exemplo, dentro da categoria das barras alimentícias é possível encontrar produtos que vão desde o “A” ao “E”, consoante a composição.
Uma questão de saúde
Em Portugal existem 5,9 milhões de pessoas com excesso de peso e o número de diabéticos ascende a um milhão. Tanto a obesidade, como a diabetes são doenças crónicas associadas a uma alimentação inadequada. Um rótulo que oriente os portugueses na adoção de dietas saudáveis e promotoras de saúde e bem-estar é um instrumento valioso. Ajudar os consumidores, no momento da compra, a escolher entre produtos semelhantes, dentro da mesma categoria, é o que este sistema permite.
Com a informação simples concedida pelo Nutri-Score, é mais fácil seguir uma dieta equilibrada. Além disso, este logótipo promove e incentiva os fabricantes a reformularem nutricionalmente os seus produtos. A redução, por exemplo, dos teores de gordura saturada, sal e açúcares contribui para melhorar a pontuação final do Nutri-Score, já que reduz o impacto dos nutrientes que correspondem aos pontos desfavoráveis. A reformulação dos alimentos pré-embalados no sentido da melhoria da composição nutricional pode refletir-se, deste modo, numa classificação mais vantajosa.
Portugueses não compreendem os rótulos
Em Portugal, ainda são muitos os rótulos sem Nutri-Score, uma vez que é de uso voluntário e depende da boa vontade de fabricantes e distribuidores. A comparação entre produtos só poderá ser realizada quando o Nutri-Score marcar presença nos alimentos de forma generalizada.
No mercado nacional, os rótulos das embalagens reproduzem vários tipos de sinalética para comunicar os valores nutricionais dos géneros alimentícios. Tal convívio pode gerar alguma confusão. A harmonização dos rótulos seria vantajosa para os consumidores, que não se veriam obrigados a comparar e a assimilar formas diferentes de comunicar informação nutricional.
No nosso país, de acordo com um inquérito de 2017 da Direção-Geral da Saúde, 40% dos inquiridos não compreendem a informação nutricional dos rótulos. Um número alargado de estudos provam que o Nutri-Score é um esquema intuitivo. É também bem compreendido por pessoas com poucos conhecimentos em nutrição, o que o torna uma ferramenta interessante para combater as desigualdades sociais.