Wikileaks: Divulgação de documentos levará a condicionamentos da liberdade de imprensa – investigado

Lisboa, 04 jan (Lusa) – A divulgação de telegramas diplomáticos pelo
site Wikileaks introduz uma “rutura” no modelo jornalístico e mediático e
levará a condicionamentos da liberdade de imprensa como primeira
consequência política, defendeu hoje em Lisboa um especialista em
questões de comunicação social.


“Inicialmente, vai haver um
esforço maior para controlar a informação internamente. Em vez de ser um
caminho para a abertura, vai ser um caminho para novos esforços de
controlo e isto não é necessariamente bom. Outra consequência vai ser a
pressão nas leis da liberdade de imprensa”, disse em entrevista à
agência Lusa Monroe Price, diretor do centro de estudos em comunicação
da Universidade norte-americana da Pensilvânia.

Mas para o
investigador, que está em Lisboa para um ciclo de conferências
organizado pela Universidade Católica, “é cedo” para avaliar o que vai
mudar no longo prazo.

Para Price, o caso Wikileaks levanta uma
série de questões importantes que alteram a lógica tradicional do
jornalismo e geram a interrogação sobre se poderá estar em causa uma
mudança do paradigma do jornalismo.

O Wikileaks “é uma instituição
[de media], com direitos e responsabilidades, ou é uma nova espécie de
besta que não tem constrangimentos?”, interroga-se Monroe Price, que
participa nas conferências “Da rádio ao Wikileaks: Pressões no sistema
de comunicação global”, que começam hoje e decorrem até quinta-feira.

O
Wikileaks, defende Price, é “um acontecimento de rutura” e “é muito
importante ter acontecimentos de rutura na história das comunicações,
eventos que abanam as coisas, que mudam as coisas”, mas “o problema
secreto do Wikileaks é que [o seu trabalho] não é bem jornalismo”,
porque “não há uma mediação profissional. Há um esforço para tentar
impor a ideia de que é jornalismo mas [o Wikileaks] ainda não encontrou a
forma de o fazer”.

Questionado sobre o crescimento da blogosfera e
a sua influência, Price reconhece que este “novo poder” tem sido “a
esperança” da opinião pública.

“Tenho estudado o caso da China e a
isto as pessoas lá chamam ‘acontecimentos da Internet’. São eventos em
que os bloggers têm uma influência que está para além do poder do
governo local”, exemplifica.

Também a diplomacia terá de se
adaptar à revolução introduzida pelo Wikileaks e Monroe Price defende
que embora “nada na diplomacia seja rápido”, “há um choque” na
comunidade diplomática porque “de repente” há segredos a serem
revelados.

O site Wikileaks começou a divulgar em meados de
novembro de 2010 mais de 250 mil documentos diplomáticos dos Estados
Unidos, que envolvem a diplomacia norte-americana e de outros Estados.

Os
documentos foram facultados antecipadamente a cinco jornais de
referência internacional: The Guardian, El País, Le Monde, Der Spiegel e
The New York Times.

ND.

*** Este texto foi escrito ao
abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

Lusa/fim.

Quarta-feira, 05 Janeiro 2011 14:28


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