Briefing | Como olha para os três anos de atividade da SPi?
José Amaral | A SPi é ainda uma empresa muito jovem. Embora tenha nascido da experiência acumulada e da visão estratégica dos fundadores da SP Televisão, a SPi ainda não fez três anos. Contudo, é com muita satisfação que já contamos com um conjunto de projetos produzidos, diretamente para clientes internacionais e outros em coprodução que, pelo reconhecimento da sua qualidade, nos têm trazido relevância neste mercado competitivo que é a produção de conteúdos.
Durante estes primeiros anos conseguimos coproduzir para canais free to air em Portugal, Espanha, bem como para a Disneys/Fox, HBO e Netflix. Isto só é possível de alcançar com um esforço contínuo em criar conteúdos válidos e de qualidade e, naturalmente com o trabalho fantástico de talento que a SPi consegue reunir.
Estes três primeiros anos foram o set up de um projeto de crescimento do Grupo SP Televisão, que passa por continuar a trabalhar e consolidar a produção de conteúdos com e para o mercado internacional.
Conseguimos ainda estar atentos e acompanhar a coprodução europeia e os novos modelos de negócio emergentes que estão a configurar uma nova realidade de produção, novos modelos de financiamento, distribuição e a entrada de novos players | OTT’s.
Através de um conjunto de fatores, dos quais destacamos a força e empenho da RTP na dinamização e no acolhimento desta visão estratégica, conseguimos captar e ser parte integrante de projetos que na sua génese facilmente se perceciona a sua capacidade de venda e distribuição internacional.
– De que modo interferiu a Covid-19 na operação da SPi?
É incontornável mencionar a situação de pandemia que o Mundo está a viver e que, pela especificidade da nossa atividade, nos obriga a readaptar modelos de trabalho e a aprender a viver dia-a-dia.
A SPi criou um plano de contingência rigoroso que inclui, entre outras medidas de prevenção, constantes testes de despiste à SARS-COV2 às equipas e ao elenco, assim como novas formas de trabalho, novos modelos na organização das reuniões e muita objetividade no tratamento dos assuntos. É verdade que este momento pandémico nos obriga a um maior investimento, mas, por outro lado, temos vindo a promover uma adaptabilidade na forma como se produz e como as pessoas, técnicos e talento interiorizaram esta nova forma de estar no seu dia-a-dia profissional.
O modelo de coprodução é o pilar da estratégia da SPi. Ainda antes da situação de saúde pública que o mundo está a viver, o perfil estratégico da SPi já estava bem definido e o seu objetivo passa pelo desenvolvimento de projetos internacionais em modelos de coprodução ou projetos a serem produzidos diretamente para as plataformas streaming.
Neste sentido, e uma vez que as deslocações estão limitadas, temos vindo a aproveitar os últimos meses para nos focarmos no desenvolvimento e no cofinanciamento de projetos de ficção em parceria com vários produtores europeus. Tem sido muito produtivo. Acreditamos que a situação atual será ultrapassada muito breve e que o enorme compromisso entre todos os intervenientes que participam no nosso processo produtivo, dará ainda mais frutos. É fundamental a normalização desta situação, o poder viajar e retomar os contactos one to one, nomeadamente com o mercado espanhol e em especial com a Galiza já que, atendendo à elevada exposição que temos com aquela região, necessitamos de avançar rapidamente para novos projetos que temos em carteira.
– A SPi já coproduziu para a Netflix e para a HBO. Qual a importância desses projetos e das plataformas de streaming para a produtora e para o mercado?
As plataformas de streaming representam a possibilidade de dotar a ficção nacional dos meios que permitam aumentar a competitividade, a qualidade e a dimensão que a SPi pretende continuar a desenvolver. A RTP tem sido um extraordinário parceiro estratégico no posicionamento internacional da nossa ficção, sinal inequívoco que está a acompanhar o que o mundo está a pedir e a consumir. A nível internacional, a grande tendência passa por perceber até que ponto a operação das OTT´s se estenderá a uma produção contínua local. A nível da produção de ficção para o mercado internacional, onde se posiciona a SPi, a procura de histórias e locais de interesse global é o grande desafio dos tempos modernos. A transposição da diretiva AVMS, recentemente debatida e discutida na especialidade na Assembleia da República é igualmente um elemento decisivo para a competitividade do nosso sector.
Para a SPi, a experiência de trabalhar com a NETFLIX e com a HBO não podia ser melhor. Queremos continuar a merecer a sua confiança produzindo mais e melhor ficção.
– Que projetos têm em mãos?
Iniciámos o processo de edição da série “Glória” para a NETFLIX, que deverá ficar concluído até ao início do segundo semestre de 2021. Encontramo-nos a coproduzir a segunda temporada da série “AUGA SECA II” para a RTP e HBO.
Para esta segunda temporada, a RTP renovou o interesse nesta série internacional e a HBO pretendeu participar desde o início do processo de desenvolvimento da história, o que confirma o sucesso que a série obteve.
Estamos igualmente a produzir uma série de ficção para a Disney, para o seu canal angolano “Mundo Fox” distribuído em exclusivo na DSTV.
Para o final do primeiro trimestre, estamos a finalizar negociações com uma distribuidora norte-americana que será nossa coprodutora numa série de ficção baseada numa história portuguesa.
Estamos ainda a desenvolver um projeto de ficção que juntará um canal nacional e uma plataforma OTT, sobre o qual temos fortes expectativas que suscitará um grande interesse pelo público.
Além destes projetos, continuamos à procura de histórias locais de grande interesse e potencial internacional. É este o caminho que pretendemos continuar a desenvolver de forma a consolidar a visão estratégica da SPi, ou seja, o desenvolvimento e produção de séries de ficção de dimensão internacional.
– E quanto à área de branded content, como tem sido a colaboração com as marcas? Atendendo ao crescimento que a SPi teve no último ano e face à quantidade de projetos de ficção que estamos a desenvolver, esta unidade de negócio deixou de ter uma proatividade na captação de negócio, já que tivemos que nos concentrar no nosso core-business, na produção de ficção de conteúdos com potencial de distribuição internacional.
– Qual a estratégia de expansão internacional da SPi? Em que mercados vai apostar?
Para o mercado português e nomeadamente para a SPi, o grande desafio passa por acompanhar o crescimento do mercado espanhol, que se tem posicionado nos patamares da grande produção mundial. Atualmente, assiste-se a uma extraordinária capacidade de investimento no nosso país vizinho e já não se estranha a produção de séries na ordem de um milhão de euros por episódio, realidade ainda algo longínqua para o nosso mercado. Espanha é e continuará a ser uma prioridade para a SPi.
Paralelamente estamos atentos ao mercado francês e alemão para os quais estamos a codesenvolver com duas grandes produtoras locais dois projetos que juntam aqueles países e Portugal.