A expressão visual interessava-o desde muito novo e, por isso, sempre soube que o seu percurso escolar ia ser feito em direção às artes. E foi. Miguel C. Saraiva é realizador e se não fosse, muito provavelmente seria arquiteto – chegou mesmo a estar dividido entre Arquitetura e Design, mas o “October Sky”, de Joe Johnston, clareou-lhe as ideias.
Há cerca de 11 anos, estava no último ano do liceu, viu-o numa aula de área de projeto e interrogou-se sobre o esqueleto. “Não é que o filme me tenha ficado na memória por algum aspeto específico, mas foi a primeira vez que percebi que poderia ser fascinante explorar as várias áreas de execução de um filme e conjugar diferentes tipos de expressão artística que, individualmente, sempre me interessaram”, explica.
O projeto final do grupo, para essa disciplina, acabou por ser a execução de um filme, “40 minutos muito experimentais” – ri-se –, com direito a estreia de passadeira vermelha na escola. Curiosamente, a disponibilidade da sala fez com que calhasse no dia em que começou o Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions.
A descoberta no 12.º ano levou-o à ETIC – Escola de Tecnologias Inovação e Criação e, após uma breve passagem por televisão, abriu as portas à publicidade na Krypton. Volvido um ano e meio, passou para a BRO Cinema – onde esteve durante cinco. Nos filmes publicitários, agrada-lhe o desafio de criar, “em pouco tempo”, algo com objetivos muito claros de comunicação e de encontrar soluções visualmente criativas para diferentes tipos de script. O que lhe deu mais gozo filmar foi o da campanha da edição “Awake”, da ModaLisboa, com a atriz Alba Baptista; e no portefólio poderia estar “Go With the Flaw”, da coleção outono-inverno 2017 da Diesel.
Tecnicamente falando, Miguel C. Saraiva adora utilizar linguagem de câmara estabilizada. Na globalidade, tem sempre presente a preocupação de pensar na intenção de todos os elementos em quadro, desde a escolha das lentes à utilização da cor no décor, porque considera que é esse conjunto que torna o filme coeso e a mensagem eficaz. “No entanto, em publicidade, acredito que a linguagem precisa de se adaptar à mensagem, à campanha e à marca que estamos a comunicar”, diz.
O realizador, cujo grande objetivo profissional seria conciliar o cinema e a publicidade, autoavalia-se como sendo uma pessoa metódica. “Gosto de dedicar bastante tempo à pré-produção e de cumprir o plano de filmagem, sem necessidade de shots extra para ‘ver se ajuda no edit’”, conta. E acredita que melhores filmes se fazem de forma colaborativa, em equipa, e que do diálogo surgem cenas e soluções que, dificilmente, sairiam de uma pessoa só. Embora tenham todos estilos diferentes, estas características – investir na pré-produção e trabalhar em equipa –, aliadas ao ter conhecimento e interesse pelas várias áreas e departamentos, compõem a tríade do que é, a seu ver, um bom realizador.