Era uma vez uma marca

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Quando alguém, de baixo, gritava, “a marca vai nua!” ela desdenhava e mantinha o passo, altiva e serena até porque dificilmente nos tempos que corriam, as vozes de burro chegariam ao céu. Até que numa Primavera qualquer, o que alguns previam e outros temiam, aconteceu.

1º acto
Gostava de falar a todos por igual. Independentemente de onde as pessoas estivessem ou qual a forma em que a vissem, lá estava ela, segura e impenetrável na redoma dos seus valores pré-definidos.

Quando alguém, de baixo, gritava, “a marca vai nua!” ela desdenhava e mantinha passo, altiva e serena, até porque dificilmente, nos tempos que corriam, as vozes de burro chegariam ao céu.

2º acto
Até que, numa Primavera qualquer, o que alguns previam e outros temiam aconteceu.

De tão isolada que a marca andava na enormidade do seu reino nem percebeu o que acontecia ao seu adorador-mor, diante dos seus olhos. Havia-se, como era esperado, enrolado nos braços de outra marca.

Reza a história que as eternas questões de fidelidade terão sido levantadas na última discussão entre este casal.

– Disse a marca ”…se sou a melhor, se sou a maior, se no meu reino a todos acudo, se no espaço em que os nossos olhares alcançam todos me ouvem, se tudo o que produzo para dentro e para fora é estudado ao milímetro, o que te falta?”

– Terá respondido o adorador-mor ”…se ao menos eu tivesse sido ouvido. Se era para mim que falavas, porque não me perguntavas o que pensava sobre o que dizias? Esta minha nova marca conversa longamente comigo e tu bem sabes que eu gosto que me dêem conversa. Sempre fui assim. Ela interage criativamente comigo, cada vez que comunica, e tem clara noção disso. Poder-te-ia mesmo jurar que parece crescer cada vez que o faz. Fica mais forte.

Já tu….tu já não eras eficaz. Eras como um solo, e esses tempos acabaram. Eu, como teu adorador-mor, o que queria, e como quererá qualquer outro adorador com quem daqui para frente tentes falar, era reciprocidade, proximidade e honestidade. Agora, desaparece.

3º acto
Após um inicial sentimento de derrota, a marca não baixou os braços e encomendou ao seu tesoureiro-mor um estudo sobre a sua população para perceber qual a forma mais eficaz de comunicar.

Passados alguns dias encontrou mais alguns adoradores, de idade já avançada, a quem se dirigir. Estes, durante algum tempo, ainda compraram a sua conversa, mas depois, entre os que pereceram e os que a voltaram a trocar por marcas mais novas, a marca voltou a ficar, e desta vez para sempre, definitivamente só.

As marcas escolhidas não eram necessariamente mais jovens, só contavam melhor a sua história e sabiam ouvir. E esta é uma História onde os adoradores gostam de ser ouvidos.

As marcas são fiéis, os adoradores para quem elas falam, cada vez menos.

Fim
Não há nada mais eficaz para uma marca do que contar uma boa história.

Artigo de Gonçalo Félix da Costa – director Executivo das Produções Fictícias
Fonte: Briefing | Nº24 | Agosto de 2011

Segunda-feira, 29 Agosto 2011 09:54


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