Depois da viagem em busca de novos caminhos para a criatividade, este ano o Festival do Clube de Criativos de Portugal (CCP) começa com uma provocação – “Urgente é a poesia”. É este o mote com que se pretende refletir sobre a importância da técnica e do talento. Mas também o impacto que a mudança do paradigma do tempo tem na evolução e na qualidade do trabalho criativo. Porque, diz Pedro Pires, o tempo transformou-se na medida de tudo. A poesia surge como uma metáfora para a qualidade e para o que torna esta indústria aquilo que é – “a capacidade de acrescentar valor através da criatividade”. Mas em que medida o urgente afeta o processo criativo?
Diz o presidente do clube que a urgência não traz bons resultados económicos e mesmo financeiros, porque sacrifica o valor do trabalho criativo e transforma-o numa commodity. Além de desprezar a informação, o conhecimento, a organização e a opinião sustentada. “A urgência transforma o criativo num operador de máquina: mecânico, repetitivo e desmotivado”. E – sublinha – “passa por cima do método e atropela a originalidade”. São consequências da redução acentuada do investimento privado e público nesta área, aponta. “É sabido que, quando existe uma crise, as primeiras áreas a sofrerem cortes são as do marketing, da publicidade, e da comunicação em geral”. No entanto, segundo Pedro Pires, já se começa a sentir sinais, embora ténues, de retoma. E até aponta um: o número de inscrições deste ano no Festival do CCP aumentou.
Mas afinal o que é urgente na criatividade nacional? Voltar a valorizar a criatividade enquanto instrumento que produz resultados económicos e que permite as marcas expandirem a sua atividade, e, consequentemente, crescerem. Esta é – para Pedro Pires – a grande urgência.
Reconhece que é necessário que as empresas e as marcas voltem a confiar neste instrumento e apostem de novo na diferenciação como base de desenvolvimento. É que, diz o presidente do clube, os últimos anos têm sido caracterizados por uma atitude mais defensiva devido à crise. “Está na hora de voltarmos a focar naquilo que sabemos que pode contribuir para o desenvolvimento económico” aponta o também diretor criativo da ivity corp brand. Na sua opinião urgente é igualmente esclarecer o papel positivo que os criativos podem ter, não só nas agências mas também nas empresas e em organizações públicas.
O que falta então aos criativos portugueses para corresponderem a esta urgência? Pedro Pires responde que os criativos precisam de voltar a ganhar amor à profissão e motivação para serem os melhores. E isso só se consegue com um mercado que também procura a criatividade. “Esta indústria que une as empresas, as agências, as produtoras, etc., está intimamente interligada”, diz. E, por isso, considera que o mercado precisa de uma injeção de estabilidade que suavize os impactos da desestruturação dos últimos anos, e que permita às agências reorganizar-se e voltarem a focar-se na produção de trabalho de qualidade.
Mas há outros fatores a considerar, como o rendimento e o reconhecimento do trabalho. E é neste último que o CCP tenta ter um papel importante. Além do festival, que premeia o melhor que se faz em criatividade comercial em Portugal, há o Creative Jam – Semana Criativa de Lisboa, com atividades criativas abertas ao público. O clube é também o representante de Portugal no Art Directors Club of Europe (ADCE/E). Uma ligação internacional que garante que os trabalhos premiados nacionalmente possam concorrer aos prémios ADC/E, e assim chegar aos The Cup Awards, e ao Gunn Report. Mas, para Pedro Pires, o CCP existe todos os dias. “Basta visitar diariamente o Facebook do clube para perceber isso, que 40 mil pessoas interagem para discutir e aprender a criatividade”.
E entre as edições do festival, o clube continua a desempenhar o papel de promover a criatividade nacional, com a associação à Loja Mona, enquanto espaço de exposições privilegiado para sócios, e a cerimónia de entrega dos prémios do Ranking Nacional de Criatividade, que distinguem os valores individuais da criatividade nacional. Pedro Pires fala ainda de um protocolo com a nova Incubadora Criativa de Lisboa, que abre em maio, e da qual espera dar novidades em breve.
E, este ano, em nome da criatividade nacional, o CCP e a MOP juntaram-se. Uma parceria que se manifesta na integração dos Young Lions no festival, e dos rankings do CCP no Cannes Review. Diz Pedro Pires que o objetivo é atrair intervenientes e conteúdos, e desenvolver os eventos até que eles tenham capacidade de atrair interesse internacional. Na sua opinião, a ambição de internacionalizar esta realidade faz sentido e tem que começar pela agregação dos agentes que já estão no terreno. “É essencial a existência de um modelo proprietário e permanente na cidade e não apenas a importação de eventos internacionais”, diz o presidente do clube. Um modelo que não ignora, mas que encara como complementar à criação de uma organização estruturada, proprietária e diferenciadora para Lisboa. Esta associação é por isso o primeiro passo para um momento de celebração dessa cidade criativa, que tenderá a incluir cada vez mais manifestações de criatividade. “Esse é o impacto que desejamos”.