20 anos depois…

Paula Cordeiro, Investigadora e Coordenadora da Unidade de Ciências da Comunicação no ISCSP … A Antena 3 celebrou mais um aniversário. São vinte anos de histórias e aventuras numa rádio que surgiu para mudar o panorama radiofónico em Portugal. Durante algum tempo agitou e obrigou a concorrência a adaptar-se.

Em 2003, quase na viragem do ano em que a Antena 3 completaria a sua primeira década, publiquei um artigo, na extinta Telefonia-Virtual, focando-me no papel da Antena 3 para a missão de serviço público de rádio. Na verdade, desde a sua criação que a Antena 3 se posicionou como uma alternativa. Na altura, uma alternativa abrangente o suficiente para agitar as águas e conquistar ouvintes aos seus concorrentes, principalmente no sector privado. Dez anos depois da sua criação, já os detractores apontavam o dedo à emissora. Na verdade, já deixava transparecer que lhe começava a faltar o vigor dos anos anteriores. Tinha, na altura, um factor diferenciador, que ficou na memória da maior parte das pessoas: as Terças (ausência de repetição) ou as Quintas dos Portugueses. Afirmei, então, que seriam opções que correspondiam claramente à obrigação do operador público.

Foi também por aqui que se posicionou como uma estação com forte carácter nacional, ainda que com forte diversidade de géneros e estilos. Recupero o que escrevi na altura, “deixando ao ouvinte a tarefa de decidir o posicionamento do canal (…) nem sempre, a escolha do público corresponde às expectativas de quem, com algum empenho e seguindo um determinado critério, definiu as linhas de orientação musical da Antena 3”. Dez anos depois, o posicionamento está consolidado, mas o público é cada vez menos. Porque é difícil gostar de música nova (tão nova, pelo menos) e ainda somos um bocadinho provincianos para embandeirar em arco perante o mundo o quando gostamos da música Portuguesa. Somos assim, fomos educados e socializados num sentido muito anglófono em termos musicais e cinematográficos. Mas essa é também nossa riqueza, que permite que surjam cada vez mais projectos musicais inovadores, cruzando referências e que, cantando – ou não – em Português, têm espaço de apresentação na Antena 3.

Dos programas de autor aos quais fiz referência nesse artigo, todos se mantém em antena, contribuindo, claramente, para a história da rádio em Portugal. E, ao reler o artigo, reflecti sobre o que escrevi nessa altura não resistindo, agora, a repetir os pensamentos, porque se mantém actuais: “A Antena 3 está claramente implantada no mercado da rádio em Portugal, mas não conseguiu ainda, uma identidade marcada que associe o nome a um conjunto de traços distintos. Este facto decorre talvez, da ausência de uma estratégia de comunicação orientada para planos de longo prazo, e de avanços e retrocessos na sua evolução, pautada por momentos de brilhantismo a que se sucedem fases de absoluta estagnação, sem nunca ter mostrado sinais de inovação e experimentalismo, só possíveis num canal com as suas características: público, independente, feito por jovens, para jovens.” Na verdade, a identidade da Antena 3 está mais demarcada do que há 10 anos, os seus jovens menos jovens. Temo apenas que tal não seja positivo – basta olharmos ao decréscimo das suas audiências. Na realidade, o que concluo é que, como há 10 anos, existe um valor em potência, mas que não é explorado ao seu limite. Como antes, “falta brilho à programação da Antena 3, um toque de génio para nos fazer ouvir as vozes e as músicas que se cruzam, e desejar voltar a esta sintonia”.

Ainda que possa soar assim, não escrevo na qualidade de provedora. Sou apenas alguém que há demasiado tempo vai registando aquilo que os operadores de rádio fazem em Portugal.

Para o bem, e para o mal. Parabéns, Antena 3!

Quarta-feira, 07 Maio 2014 08:15


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