Briefing | O que o levou a passar do jornalismo à direção de uma produtora de conteúdos digitais?
Jaime Martins Alberto | Eu continuo intimamente ligado ao jornalismo. A MadMen é uma empresa que detém três órgãos de comunicação social: a NiT, que tem 6,8 milhões de visitas e é um dos sites mais lidos de Portugal; a 4MEN, que chegou a líder do segmento masculino seis meses depois do lançamento; e agora a NiTfm, a primeira rádio de lifestyle do País. São três projetos que eu acompanho de perto junto dos respetivos diretores todos os dias, apesar de ter um conjunto de funções mais alargado.
O que exportou da sua experiência no jornalismo para a MadMen?
A forma como desempenhamos o nosso trabalho é sempre o resultado das várias experiências acumuladas. Quando criámos a NiT, em 2014, pude implementar aquilo que tinha aprendido ao criar o site da Sábado e uma plataforma online de lifestyle para o Grupo Cofina chamada GPS. Eu faço parte de uma geração de jornalistas que está habituada a fazer muito com pouco. Pouco dinheiro e poucos recursos. Para a MadMen, em conjunto com a nova direção, diria que trouxe sobretudo duas coisas: mais foco comercial e em new business e uma enorme disciplina orçamental.
Que desafios encontrou quando assumiu a direção da produtora (setembro de 2017)?
Nessa altura, a MadMen vivia uma situação financeira muito complicada, sem capacidade para cumprir as suas obrigações. Penso que esse foi, de longe, o maior desafio. Felizmente, ele foi superado. Hoje somos uma empresa estável, capaz de investir em novos projetos que só terão retorno a médio/longo prazo.
Quais foram as prioridades nesse momento?
Assegurar que as despesas correntes eram pagas, renegociar os contratos comerciais da MadMen e encontrar novos modelos de negócio.
O que foi conseguido nestes nove meses?
Uma empresa completamente diferente. Repare, há nove meses a MadMen tinha um site, a NiT. Agora, a NiT é também uma app, um programa de televisão (o “Agenda NiT” passa todos os sábados na TVI) e uma marca que realiza eventos de lifestyle. Lançámos ainda uma revista masculina que tem a redação no Porto, a 4MEN, e agora uma rádio inovadora, a NiTfm. E estamos a preparar o lançamento do nosso quarto projeto editorial para as próximas semanas.
A NiT continua a ser o produto âncora. Que balanço faz?
A NiT continua a superar todas as nossas expetativas. Cada mês que passa é o melhor mês de sempre da revista, o que significa que a tendência de crescimento se mantém. Nos últimos 12 meses, por exemplo, duplicámos o número de visitas. Mas mais importante do que sermos líderes, é a credibilidade da marca NiT — que é muito forte e respeitada pelos leitores e pelas marcas. Penso que somos, unanimemente, considerados a melhor revista digital de lifestyle em Portugal.
Nasceu digital, mas, entretanto, passou para o físico, com a realização de dois mercados. Era um caminho necessário? O que ganhou a marca com isso?
Não era um caminho necessário, era um caminho natural. A NiT é uma revista, mas é também uma love brand. E a verdade é que não podemos amar aquilo em que não tocamos. Por isso, sentimos que os nossos leitores queriam ter a oportunidade de fazer parte da experiência NiT fora do digital. Os mercados NiT são a oportunidade perfeita para isso, dando também a outras marcas portuguesas que existem online a oportunidade de apresentarem os seus produtos ao vivo. Em 2018, a NiT transformou-se numa marca 360. Podemos ler a revista, ver o programa de televisão, ouvir a rádio e viver o mercado.
Junho assinala mais um passo na estratégia com o lançamento da NiTfm. Porquê uma rádio? E para que audiências?
A NiTfm faz parte do nosso plano estratégico a médio/longo prazo. O mercado tradicional da rádio irá inevitavelmente migrar para o digital. Segundo o último relatório da Marktest, de início deste ano, 1,4 milhões de portugueses ouvem rádio digital. Essa tendência irá agravar-se com a implementação deste tipo de rádios em todos os automóveis — como está a acontecer com os novos modelos. A MadMen pretende colocar-se já na pole position desse futuro mercado monstruoso. Foi isso que fizemos com a NiT e com a 4MEN.
Nos vossos planos, está uma revista digital. Em que moldes e para que target?
Planeamos lançar mais duas revistas até ao final do ano. A primeira será apresentada nas próximas semanas e pretende explorar uma área do jornalismo que se mantém amarrada a demasiados dogmas. Prefiro guardar a surpresa para mais tarde, mas tenho a certeza de que terá um enorme impacto nesse target.
A MadMen tem também uma área de “conteúdos à medida”. É para desenvolver?
Claro que sim. A área de Corporate da empresa, que é dirigida pelo João Cristóvão Baptista, está completamente separada da área de publishing. Nem podia ser de outra maneira. Mas partilhamos o mesmo ADN: somos criativos, disruptivos e sabemos exatamente o que leitores e consumidores querem hoje em dia. Isso permite-nos criar estratégias de comunicação para as marcas que incluem a criação do site, a produção dos conteúdos em texto, fotografia e vídeo e a gestão das respetivas redes sociais. Estamos muito satisfeitos com os resultados que garantimos (e depois entregamos) aos nossos clientes — e penso que eles também.
Como espera fechar, em termos de negócio, o primeiro ano da sua direção na MadMen?
Espero manter a curva de crescimento do primeiro semestre, o que seria um feito incrível. Ao contrário do que se costuma dizer, o jornalismo tem um enorme futuro. O facto de as plataformas de entrega dos conteúdos terem mudado não significa que a imprensa tenha menos leitores ou publicidade. E também não significa que estejamos destinados à ruína. Bem pelo contrário, o crescimento orgânico dos projetos é a única solução para temos um jornalismo independente, livre e credível. Começamos pequenos, acabamos grandes. A MadMen está a ser um bom exemplo disso. Vamos ser o grande exemplo disso.