Claire Chung: “O valor da ignae está na raridade do ecossistema”

A CEO da ignae destaca, em entrevista, o que torna individual a marca de luxo de cuidados da pele.

Claire Chung: “O valor da ignae está na raridade do ecossistema”

A ignae chega-nos de um laboratório a céu aberto, os Açores, cujo ecossistema permite o desenvolvimento dos ingredientes. A marca de luxo de cuidados da pele, clean beauty e vegan, foi relançada e o ano passado chegou a vários mercados globais. A CEO e cofundadora, Claire Chung, destaca que o que a torna individual é uma tríade: produtos ricos em minerais, biotecnologia e história açoriana.

Briefing | A ignae foi criada em 2017 e relançada apenas quatro anos depois, após a entrada da Claire. O que a motivou a integrar a empresa?

Claire Chung | É uma história incrível. Miguel Pombo, o fundador, é açoriano e estava a trabalhar em Bruxelas [Bélgica], numa agência que fazia todo o trabalho regulatório para testar e lançar novas marcas de skincare na Europa. Então, começou a perceber quais os ingredientes que estavam a produzir os melhores resultados – costumavam ser coisas que se encontram nos Açores – e a trabalhar com a universidade e cientistas de lá, para, realmente, olhar para os ingredientes que há na ilha e procurar criar produtos para a pele. Lançou uma linha original, em 2017, com quatro produtos.

Quando planeei voltar para a Europa, estava à procura de uma marca para me envolver, que representasse o futuro, e fosse muito bem recebida na China e noutros mercados internacionais. Sou americana e já vivi em cinco cidades diferentes durante a minha carreira – Nova Iorque, Londres, Hong Kong, Milão e em Xangai –, pelo que conheço os mercados globais. E vi que a geração mais jovem de consumidores chineses, em particular, estava à procura de algum novo tipo de marca.

Ouvi falar do Miguel através de um amigo meu – especializado no ramo de luxo –, que me enviou a linha original para experimentar. Num mês, os resultados eram visíveis e fiquei muito impressionada, porque estava a passar por uma fase em que os meus produtos normais, alguns de marcas internacionais muito conhecidas, mantinham os sinais do envelhecimento e do ambiente hostil a que a minha pele estava submetida em Xangai. 

Quando aterrei nos Açores, fiquei logo absorvida por aquele ecossistema biológico único e fui conhecer o Miguel. Vi toda a pesquisa que ele fez e achei o lugar especial para os ingredientes, por causa do solo vulcânico. O verdadeiro valor da marca está na raridade do ecossistema, com seis milhões de anos, que permite criar o óleo rico em minerais, tem águas termais vulcânicas ricas em minerais. Para mim, é um novo tipo de luxo autêntico.

Qual foi o motivo do rebranding? A consequência da sua entrada?

Sim. Quando entrei, começamos a angariar fundos e conseguimos fechar em quatro meses o financiamento inicial – é notável porque foi durante a pandemia que levantamos o capital. 

Também iniciamos o processo de rebranding, para uma marca clean beauty e vegan, e o avanço da biotecnologia. Esta permite que sejamos capazes de criar nanolipossomas e encapsular os principais botânicos dos Açores – como o óleo de semente de camélia extraído da árvore japonesa Sugi… –, o que faz com que os ingredientes atinjam a camada basal da pele. É uma inovação que poucas marcas têm.

E usamos tecnologia nos produtos e em ferramentas inovadoras, para fornecermos serviços complementares gratuitos aos nossos clientes. Queremos que eles se empoderem e aprendam mais sobre cuidados da pele. Por exemplo, quando lançamos o site, também criamos uma app para fazer a análise da pele por inteligência artificial (IA), dando dez indicadores sobre a mesma e o que pode ser melhorado. A IA está evoluída na China há alguns anos, principalmente IA facial, pelo que meti em prática toda a aprendizagem que ganhei na Ásia. 

Uma das inovações biotecnológicas que referiu é o EPC Factor…

Sim. A maioria dos lipossomas nanométricos não são limpos, não são vegan, e a maioria que é fabricada no mercado – especialmente para uso médico – também contém um ingrediente que não é limpo. Nós conseguimos pegar nas moléculas grandes de proteína à base de plantas e encapsulá-las, usando os nossos próprios processos, de forma a reduzi-las para um tamanho nano. Estes lipossomas funcionam como veículos, permitindo a penetração e a absorção dos ingredientes ativos na camada mais profunda da derme, para uma regeneração celular rápida.

Não nos podemos esquecer que a pele foi projetada para manter as coisas do lado de fora, então, seja qual for o creme que se use – até os mais caros do mundo –, fica apenas na superfície. No entanto, o nosso EPC Factor permite que ingredientes consigam chegar até à camada basal e fiquem lá, não penetrando na corrente sanguínea – a vacina Moderna, por exemplo, é baseada num conceito semelhante. 

O EPC Factor Complex é propriedade da ignae e a patente está pendente.

Sendo a ignae dos Açores, cujo património natural é vasto e reconhecido, qual é o compromisso da marca com a sustentabilidade?

A sustentabilidade está no centro do que fazemos e foi por isso que investimos tempo e capital no desenvolvimento do EPC Factor – para poder escalar o negócio mantendo a sustentabilidade.

O luxo é uma raridade comprada, algo luxuoso é raro de encontrar. Por exemplo, obtemos a água termal e as camélias no Parque Terra Nostra – contém uma coleção superior a 600 camélias –, mas usamos tecnologias de extração supercrítica que exigem apenas pequenas quantidades de plantas e algas. Devido à nossa biotecnologia, precisamos de cem vezes menos biomassa para conseguir fazer os ingredientes, ou seja, estes não são apenas mais poderosos, como precisam de pouco para ir muito, muito longe.

Na Investigação & Desenvolvimento, o nosso foco é criar novos ingredientes sustentáveis que possam ser fabricados e produzidos por processos sustentáveis.

 

A entrevista pode ser lida na íntegra na edição de dezembro da Briefing

Segunda-feira, 06 Março 2023 12:52


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