DeepSeek ofusca ChatGPT e faz estremecer o mundo da IA… e não só

Terão sido poucos os que nos últimos dias escaparam à avalanche de notícias, comentários e reflexões sobre o até então pouco conhecido DeepSeek. Pois bem, a plataforma digital chinesa destronou o popular norte-americano ChatGPT do top das aplicações mais descarregadas e o mundo estremeceu, e não somente o da Inteligência Artificial (IA), como deixam antever o Professor Catedrático Emérito da Nova de Lisboa Luís Moniz Pereira e a jornalista e comentadora na CNN Portugal Mafalda Anjos.

DeepSeek ofusca ChatGPT e faz estremecer o mundo da IA… e não só

Esta ascensão meteórica do DeepSeek abalou Silicon Valley e o setor tecnológico, ameaçando ao mesmo tempo o domínio do ChatGPT, desde o seu lançamento a 10 de janeiro, tornando-se na aplicação gratuita com mais downloads para iPhone em várias partes do mundo.

“O lançamento do modelo DeepSeek veio abalar o mercado porque traz duas palavrinhas que, justapostas, assustam muito investidores e líderes de indústria: ‘low cost’. E já vimos no passado como os modelos ‘low cost’ podem ser disruptivos e obrigar setores inteiros a adaptar-se, tanto noutras áreas da tecnologia, como também nos transportes, na moda, na alimentação e nos media (onde foi mesmo o ‘no cost’ digital que se impôs)”, começa por afirmar a jornalista e comentadora na CNN Portugal Mafalda Anjos.

Além da questão financeira e da rapidez no desenvolvimento da ferramenta de IA, a Briefing procurou saber também junto de um dos mais conceituados especialistas portugueses de IA o que difere uma app da outra e que implicações este software poderá ter, não só no universo tecnológico, como no setor económico, político, sobretudo nas relações entre as maiores potências mundiais, e até mesmo no nosso dia a dia.

O DeepSeek é melhor nos aspetos matemáticos, mas a ambos faltam as duas capacidades de raciocínio, hipotético e contrafactual. (…) Embora o DeepSeek-R1 tenha alguma capacidade de revisão de crenças que o mais recente ChatGPT não tem”, explica o Professor Catedrático Emérito da Universidade Nova de Lisboa (UNL) Luís Moniz Pereira, assegurando que para estas máquinas “o futuro é estatisticamente igual ao passado”, graças a “uma enormíssima base de dados, constituída por factos, frases e parágrafos”.

A problemática emprego e da disseminação de informação falsa

O antigo criador e diretor do Centro de Inteligência Artificial da UNL defende que, ainda assim, “com algumas capacidades cognitivas num nível mais baixo”, a IA já levanta algumas questões, nomeadamente “a problemática emprego: do desemprego e do subemprego”. “Na verdade, é praticamente tabu o estudo prospetivo, quantitativo e específico desse impacto sobre o trabalho, e que nos prepare antecipadamente para esses impactos”, acrescenta o professor da UNL.

“São conhecidas as estimativas que dizem que até 300 milhões de empregos podem ser eliminados pela IA e que até 2034 uma série de indústrias serão afetadas, como o atendimento ao cliente, as indústrias transformadoras, os transportes, o trabalho administrativo, os serviços financeiros, as vendas, os serviços jurídicos…”, pontua Mafalda Anjos. O último relatório do FMI, note-se, falava no impacto direto da IA em 40 % dos empregos.

Por ouro lado, há que ter em consideração, de acordo com o membro eleito da Academia Europaea, o “potencial enorme da IA para disseminar informação falsa” e extremamente realista, baseada em factos de narrativas que não têm fundamento.

“Apocalipse económico da Europa”

Além de a IA generativa propiciar a “manipulação do discurso de ódio” e as “bolhas de opinião”, podendo criar um conflito gerado pelas teorias da conspiração, como acontece “na propaganda política e de guerra, que são grandes deflagradores de inovação” – como sucede com os drones na guerra da Ucrânia –, o investigador acredita que os “ganhos financeiros resultantes desta nova tecnologia vão acentuar a iniquidade social”.

O tema da regulamentação, inexistente, mas que quase viu a luz do dia, em maio de 2023, quando a União Europeia tentou regular, e o do alinhamento ético são outras das questões em causa e ainda sem solução aparente à vista.

“O DeepSeek traz problemas evidentes de privacidade e até de espionagem”, frisa Mafalda Anjos, fazendo referência a “uma peça importante na guerra comercial entre os dois blocos”, Estados Unidos e China. “Mas é, sobretudo, mais um exemplo do que alguns já chamam de apocalipse económico da Europa. O Velho Continente mostra-se incapaz de liderar na tecnologia e tem sido uma ‘lesma’ na inovação.”

Sofia Ramos Silva

Quarta-feira, 05 Fevereiro 2025 11:00


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