Quando comecei a dedicar-me a estes assuntos da rádio e da Internet deslumbrei-me com um admirável mundo novo de oportunidades e possibilidades para depois, acompanhando a evolução e olhando mais para o digital enquanto contexto e menos para a Internet enquanto “the next big thing”, passar do fascínio à interpretação e desta à decepção. Não sem antes fazer tudo para evitar a resignação. E, por isso, fui escrevendo. Falando… Sem a eloquência do Padre António Vieira, também eu fico com a sensação de que tenho andado a pregar aos peixinhos, expressão que se tornou popular e que nada tem a ver com a alegoria do Sermão de Santo António aos Peixes…
Aquelas que são as minhas ideias são também as ideias de muitas pessoas à frente de grandes empresas de media, de muitos responsáveis e profissionais do sector. Que também afirmam esta sensação de impotência, de impossibilidade de operar a mudança, de criar aquilo que imaginamos e que se vem concretizando tão lentamente que leva ao desalento dos que, há dez anos, viam o presente como muitos ainda estão a ver o futuro.
E sei que não estou sozinha. Estou simplesmente a amplificar muitos comentários, discussões e conversas em diferentes contextos e fóruns, que primam todos pela mesma dúvida: o que impede a comunicação social de abraçar o digital tal como ele é, criando um (verdadeiro) novo contexto para a comunicação mediática em vez de insistir em transfigurar velhas práticas, dando-lhes um novo nome. Porquê esta insistência na adaptação quando é urgente a reconfiguração?
Os conteúdos dos media passaram a integrar elementos do discurso dos outros meios de comunicação, na composição de um novo tipo. Contudo, na maior parte dos casos e durante muito tempo, simplesmente procederam à transposição da informação do meio que lhe deu origem para um novo, repetindo os conteúdos usados no outro suporte. A multiplicação dos interfaces, veio proporcionar uma grande variedade de formas de comunicação que deixam para segundo plano os modos de interacção tradicionais, a favor de um novo esquema de comunicação, que tem por base a interactividade que as novas tecnologias de comunicação e informação permitem.
Porque continuamos, hoje, a fazer o que John Pavlik referiu em 1997, referindo-se à evolução do jornalismo na rede, dizendo que estávamos entrar numa terceira fase (em 1997) caracterizada por conteúdos noticiosos criados especificamente para a web. Já o fazemos, falta dar o passo (que não é de gigante) para concretizar esta idea de 1997, que entendia a terceira fase como um período caracterizado pela necessidade de repensar a lógica de uma comunidade online e, mais importante, a vontade de experimentar novas formas de contar a mesma história.
Chama-se narrativa transmediática. Mas, se pensarmos que a projeção de Brecht sobre a rádio, em 1932, ainda não foi implementada no seu máximo potencial, isso explicará tudo o resto…
PS: Bertold Brecht, em 1932 disse tão simplesmente que a vocação da rádio só se cumpriria quando o ouvinte fosse também produtor da comunicação…