Indústria automóvel: mudar a mudança num setor em revolução

É o bem de consumo que, logo depois da casa, representa o maior grau de investimento e de envolvimento e, por isso, aquele onde as marcas mais investem em publicidade. Segundo dados recentes da Marktest, a indústria automóvel lidera o investimento publicitário em Portugal. No entanto, estamos perante um setor em mudança, no qual os fabricantes estão a reinventar o negócio e os hábitos de consumo estão a mudar em tempo real, tendo impacto na própria forma de comunicar.

Há 18 anos, era importante “dizer tudo” num anúncio de imprensa ou num spot de 30’’ em televisão, pois, além dos mass media, o concessionário era o único espaço alternativo onde as pessoas podiam obter informações mais detalhadas.

Notoriedade, proximidade e envolvimento com o público são objetivos de comunicação que não se alteraram. O que realmente é diferente é o que representam hoje. Mais do que a tecnologia, o modo como as marcas comunicam é mais relevante para a forma como são percebidas. Tornaram-se omnipresentes e é importante adequarem o seu discurso ao espaço e ao tempo.
A comunicação passou a ser bidirecional. As pessoas podem interagir com as marcas em tempo real, levando a que estas tenham de se tornar relevantes para o seu target não só através dos seus produtos, mas enquanto “personas”. Isto obriga a pensar numa nova forma de comunicar, pois neste momento o escrutínio do público vai além do produto (passa pela política ambiental, recursos humanos, fair trade e responsabilidade social).
A estrutura dos novos meios permite também uma melhor separação das mensagens. Hoje, um filme em televisão, para além de “dar a conhecer”, deve ser capaz de despertar a curiosidade e envolver emocionalmente as pessoas com a marca e o produto. Quem quiser obter mais informações, deve usar outros canais, como a internet, que tem um papel fundamental de follow-up. Penso que as marcas ainda não estão a tirar todo o partido do potencial desta complementaridade, pois assistimos a muitos casos em que existe demasiada informação num “primeiro encontro”.

Por sua vez, a geração millennial prefere a experiência à posse – 30% não tem intenção de comprar um carro, mas isso não significa que não tenha a necessidade de o usar. A preferência por determinadas marcas vai continuar a existir – o automóvel está longe de se tornar uma categoria de produto onde a marca pouco interessa, por isso, o seu papel e força continuam a ser determinantes.

Devido às mudanças do automóvel enquanto produto, as agências terão, assim, de construir a comunicação com base nos novos atributos e benefícios. Julgo que estão preparadas para enfrentar o desafio da mudança rápida, sobretudo porque a maioria das equipas pertence à geração millennial. Porém, do lado operacional, para garantir um trabalho que esteja em linha com as necessidades do mercado, são necessárias equipas maiores, multidisciplinares e com graus de especialização grandes. Este é talvez um desafio que afeta as agências e os seus clientes, pelo investimento e custo que implica, mas que pode ser resolvido.

Face a esta rápida revolução, compete às agências acima de tudo transmitir confiança às marcas e serem complementares ao seu trabalho. Penso que as novas tecnologias de recolha e tratamento de informação influenciam a capacidade de análise da mesma, tornando-a muitas vezes irrelevante. Portanto, uma verdadeira oportunidade de inovar reside em usar esta informação de forma relevante, através de um forte planeamento estratégico.

 

Bruno Aibéo, diretor de contas da DDB

 

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Segunda-feira, 29 Outubro 2018 10:33


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