Uma paciente entra num hospital para um exame de rotina. A imagem é analisada por um sistema de Inteligência Artificial (IA), desenvolvido internamente pela Northwell Health, o maior sistema de saúde de Nova Iorque. O algoritmo detecta sinais precoces de cancro do pâncreas – uma das doenças mais letais, com taxa de sobrevivência a cinco anos de apenas 13 %. O impacto? O tempo entre diagnóstico e início do tratamento foi reduzido em 50 %.
Rapidamente podemos pensar num conjunto amplo de impactos positivos para esta organização: reduzir custos operacionais ao evitar tratamentos em fases avançadas e internamentos prolongados, melhorar a eficiência hospitalar ao otimizar a gestão de tempo e recursos; aumentar a capacidade de resposta clínica ao permitir uma triagem mais eficaz e intervenções precoces; obter ganhos reputacionais, maior satisfação dos utentes e, potencialmente, aumentar receitas ao tratar mais pacientes com os mesmos recursos.
Este caso mostra com clareza o potencial da IA quando usada com propósito. Mas será que estamos mesmo a colher os frutos da transformação digital? Os indicadores multiplicam-se: mais dados, mais automação, maior presença online, mais ferramentas de IA. Mas na prática, o que significam estes avanços para as empresas e profissionais? Estamos realmente a trabalhar com mais qualidade? Somos mais produtivos? Ganhamos tempo – ou apenas o distribuímos de forma diferente? E afinal, de que serve investir em tecnologia se não soubermos medir o impacto real no negócio?
A resposta não é simples – mas é cada vez mais mensurável. Os impactos do nosso investimento em IA são hoje palpáveis, tangíveis, verificáveis, assim como os do nosso desinvestimento, ou seja, rapidamente sentiremos a pressão da concorrência e do mercado, quando estes são mais digitais e tecnológicos, se nos mantivermos sem entender, sem inovar e sem experimentar com a IA.
O problema não são os dados, mas sim a realidade que nos transmitem. No início deste ano, o Eurostat publicou um estudo indicando que (apenas) 8,6 % das empresas portuguesas utilizaram tecnologias de IA em 2024. Sabemos que a “perda de valor dos dados” (ou seja, a quantidade de dados da UE transferidos para países terceiros) é atualmente estimada em 90 %. Ainda no caso da UE, sabemos que dependemos de países estrangeiros para mais de 80 % dos produtos, serviços, infraestruturas e propriedade intelectual digitais, e ainda que o maior operador europeu de serviços em cloud representa apenas 2 % do mercado da UE.
Ou seja, continuamos a andar de escorrega, em muitas frentes, no que toca à tecnologia. Embora o nosso impacto seja humilde nestas matérias, a nossa ambição é resoluta enquanto escola, nomeadamente no que toca à Formação dos/as nossos/as Executivos/as. Temos de desmistificar a IA, temos de desconstruir a IA, temos de garantir que os/as nossos/ /as líderes, não só não perdem este barco, como são capitãs e capitães do mesmo.
Nos últimos anos, intensificámos a nossa atuação em áreas como FinTech, ciência de dados, blockchain, IA,… através de projetos com empresas, organizações sociais e entidades públicas. Consolidámos um ecossistema robusto de inovação e conhecimento aplicado nas áreas da tecnologia, dados e operações. Através do Nova SBE Data Operations and Technology Knowledge Center, do Nova SBE Innovation Ecosystem e do Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute, contamos com uma equipa docente especializada e com diversos cursos e projetos onde os alunos podem aprofundar o seu conhecimento nestas temáticas. Mais recentemente, reforçámos esta trajetória com o lançamento do Digital Data Design Institute at Nova SBE and NOVA Medical School — uma iniciativa criada em parceria com a Universidade de Harvard, no âmbito do seu instituto com o mesmo nome, que vem dar uma nova escala e projeção internacional ao trabalho que temos desenvolvido nestas áreas.
Assim, permitimos aos/às nossos/as alunos/as executivos/as que beneficiam deste ecossistema – que tenham acesso a professores, nacionais e internacionais, líderes em IA; que conheçam empreendedores, já nativos digitais, que estão a disromper modelos de negócio com tecnologia; que brinquem com dados, infraestrutura e problemas do mundo real; que aprendam, em primeira mão, com diretores de Dados e IA, com quem podem conversar individualmente e colocar questões mais sensíveis; que experimentem (mãos na massa!) as tecnologias fresquinhas, conhecendo de perto o que está a acontecer no mundo tecnológico. Estes (e muitos outros) objetivos fazem parte, por exemplo, da nossa Pós-Graduação em Data & AI for Business, programa que decorre nos formatos presencial e online, já com um total de 6 edições.
A formação de executivos nesta área tem apresentado um crescimento muito interessante, que reflete a relevância do tema – “60 % do conteúdo que partilhamos nas nossas reuniões de segunda-feira de manhã é sobre IA”, como referia Mickey Mikitani, Digital Data Design Institute Advisory Council Member and Founder, Chairman, and CEO of Rakuten Group, Inc..
Se, no início, estas áreas eram vistas como periféricas à empresa, com meia dúzia de entusiastas sobre o tema, atualmente existe uma visão holística, em que os/ /as líderes entendem que uma verdadeira cultura digital se consegue apenas com a literacia de todos/as.
Assim, os nossos programas têm-nos permitido a formação de empresas na sua totalidade, desde o estagiário à CEO, com empresas nacionais e multinacionais, com governos e também com líderes do setor social. Programas com curadoria própria, que se adaptam à realidade, ao ponto de partida e ao ponto desejado de chegada, da organização.
As oportunidades são imensas – tantas quantos os desafios, quantas as questões éticas e legais, quantas as barreiras internas e externas a uma adoção serena de tecnologia.
Sabendo que o contexto profissional dos/as nossos/as alunos/as executivos/as nem sempre lhes permite este mergulho tecnológico, o nosso objetivo é que se sintam positivamente desconfortáveis e seguramente fora de pé para usufruirem de uma experiência imersiva nas nossas formações de digital, dados e IA, através das pessoas, ferramentas, organizações, experiências com as quais têm contacto no nosso ecossistema.