O leigo compra a edição para iPad do Expresso de 7 de Março de 2015 e descobre o crime de manipulação ruidosa. O crime é manchete e ocupa 80% da 1ª página do 2º caderno, mas não é sujeito. O sujeito é a CMVM, a qual investiga – tranquiliza o Expresso. Se o crime está a ser investigado pelo regulador, conclui o leigo em mercado de capitais, podemos ficar descansados. Ainda bem.
Resta saber, é pelo menos o que pensa o leigo que não tem acções porque isso de mercado de capitais é coisa de profissionais, de abastados e de jogadores, resta saber, dizia, o que é o crime de manipulação ruidosa. Bastará ler a notícia, atreve-se a pensar: é para isso que serve o jornalismo de referência.
Mas a manchete é apenas justificada por meia-dúzia de linhas. “A polícia da Bolsa está neste momento a analisar (então não é investigar?, pergunta-se o leigo) se foram cumpridos todos os deveres de prestação de informação”, porque “normalmente as fusões são propostas pelos conselhos de administração ou por accionistas controladores das empresas envolvidas e neste caso não foi assim” (será isto o crime de manipulação ruidosa?, interroga-se o leigo).
Mais nada é escrito sobre o crime. Estas edições digitais estão a dar cabo do jornalismo, suspira o leigo. Para a próxima há-de comprar a edição em papel.
Ou então, aventa, a culpa é minha. Toda a gente sabe o que é o crime de manipulação ruidosa menos eu e o Expresso não iria gastar papel (perdão, bytes) a explicar o óbvio. Nas notícias daqueles crimes como o homicídio ou assim também ninguém explica porque toda a gente sabe do que se trata.
E vai daí faz o que todos os humanos contemporâneos e modestos fazem: gugla.
A pesquisa devolve-lhe o aviso “não foram encontrados resultados para ‘crime de manipulação ruidosa'”, mas propõe ao leigo que desista das aspas. Mesmo sem aspas, para além da notícia do Expresso e das suas réplicas robóticas, encontra apenas referências ocasionais em dois ou três pdfs académicos.
O leigo coloca o tema na prateleira mental dos pendentes. Se a coisa está a ser investigada pela CMVM e mereceu, a investigação que não a coisa, a manchete do Expresso Economia, irá ter desenvolvimentos e nos próximos dias outros Media voltarão ao assunto dando-lhe contexto e profundidade.
Esperou pelas edições diárias dos jornais especialistas, que dedicam a maior atenção ao mercado de capitais, mas a espera foi em vão. Nada sobre o crime. Nada sobre a investigação.
Deve ser um exclusivo do Expresso, concluiu. E, dia após dia, procurou novas ou mandados no diário do semanário. Debalde.
Deve ser um exclusivo nobre, ajuizou. Não iam gastar o exclusivo no diário. Estão a guardar para a nova edição semanal. É mesmo um exclusivo muito exclusivo.
O problema para o leigo é que o Expresso do passado sábado nada trazia sobre o exclusivo. Nada. E ele passou o fim-de-semana suspenso perante esta situação extraordinária.
Começou por pensar que a investigação da CMVM sobre a manipulação ruidosa avança em segredo. Isto é, sem ruído. O que faria todo o sentido para um regulador conhecido no mercado (o dos Capitais, não o dos Media) por não fazer nunca fugas de informação. Nunca.
Mas, se é assim – reflectiu o leigo –, como é que chegou ao Expresso aquela informação da CMVM e apenas conhecida pela CMVM? Há aqui qualquer coisa que não bate certo.
Ou será, tentou o leigo, que estamos perante o caso de a vítima da manipulação ruidosa ter sido não o Mercado de Capitais mas o Mercado dos Media, em particular o Expresso?
Foi aí que o leigo contactou o Consultor de Comunicação e este lhe respondeu: eh pá, aprende que isto não é assunto para leigos.
Luís Paixão Martins
Consultor de Comunicação