De todas elas, houve três que me marcaram em especial: o panda, a coruja e o tigre.
O panda é uma espécie de planeador estratégico que habita normalmente em empresas onde o departamento de estratégia se resume a uma pessoa só. O planner panda caracteriza-se por não gostar de sair do ar condicionado, por passar inúmeras horas fechado na sua sala de vidro, pesquisando temas no Google ou devorando com avidez case-studies passados como quem rói uma velha carcaça que outrora foi suculenta. O panda tem como principais armas a sua simpatia e a forma indolente e superficial como vive a vida, procurando, acima de tudo, que não o chateiem. Acredita que estratégia é, sobretudo, opinião ou, na melhor das hipóteses, reciclagem do que vai encontrando pela selva. Este curioso animal tem uma “não relação” com os criativos, essa alcateia de leões e leoas sempre ávidos por impactantes ideias. Os leões acham o panda um inútil que os faz perder tempo com estratégias ocas e que não levam a lugar nenhum. O panda, por sua vez, acha os leões um bando de feras mimadas e com uma infinita e inútil fome por autoafirmação.
A coruja é a rainha da informação e da sabedoria. Maneja como ninguém as ferramentas de pesquisa. Investiga e tenta conhecer com a máxima profundidade o tema em questão. O problema está depois. Por ser um animal noturno, discreto e soturno, o planner coruja odeia as luzes da ribalta. Evita aparecer e, sobretudo, treme quando pensa que, em algum momento, terá que transformar os quilos de informação conseguidos com esforço em algo sintético e inspirador. A coruja tem uma relação pacífica com os leões do departamento criativo. A espaços existe uma simbiose onde a ave ajuda a retro justificar ou a investigar algum caminho criativo que outros encontraram.
Terminamos com os tigres, animais raros no universo da estratégia, mas com os quais tive o grato prazer de me cruzar sobretudo no Brasil. O planner tigre é, acima de tudo, um caçador nato. Ágil, rápido e musculado na forma como se movimenta, em busca de insights claros que iluminem o caminho a seguir. Explora novos espaços, sai do ar condicionado, dialoga e investiga, dando prioridade à informação tailor made e fresca. Se o trabalho é sobre uma marca de carros, experimenta o automóvel, entrevista consumidores atuais, potenciais, mecânicos e, se possível, até um ex-piloto de competição.
Os tigres abrem horizontes na busca por novas verdades, mas são ferozes na hora de sintetizar e de fixar uma visão clara para o futuro da marca. Fazem o trabalho “de caçador”, mas complementam-no com o trabalho “de advogado”, na forma consistente com que reúnem provas, para que, na hora da verdade, a sua tese prevaleça. Por isso, têm uma relação de irmandade com os leões criativos, por isso são requisitados pelos clientes e pelas marcas que acreditam que estratégia não é opinião. Que “facts beat opinion”. Que estratégia resulta do equilíbrio inteligente entre conhecimento, pensamento e inovação.
Enfim, a minha jornada pelo universo da estratégia vai continuar, agora em Portugal, e estarei atento a todas as novas espécies de strategic planners que vá encontrando para vos contar depois num próximo episódio do National Geographic.
Miguel Bacelar, CEO da consultora SAINT PIRATE