Briefing | O Talkfest vai na sexta edição. O que tem justificado a continuidade do evento?
Ricardo Bramão | O Talkfest – International Music Festivals Forum, é o único encontro que aglutina num mesmo espaço toda a indústria dos festivais. Não se fecha nos promotores, mas sim em todas as classes que nela confluem – e.g. artistas, autarcas, governo, investigadores. Por essa mesma razão, a velocidade de alteração de interlocutores, novas pessoas na área, é superior aos presentes no evento a cada ano. A 6.ª edição do evento (9-10 março – Lisboa e 16 março – Barcelona) expressa isso, pois, entre mais de 90 oradores nacionais e internacionais, não existem nomes repetidos.
Briefing | De que modo tem contribuído para a reflexão em torno dos festivais de música e para a definição de tendências neste domínio?
RB | O Talkfest levou ao surgimento da APORFEST – Associação Portuguesa Festivais de Música. Era preciso um trabalho contínuo, e não apenas de dois ou três dias em que as pessoas estão juntas. A reflexão é feita não apenas nas conferências, em que se discutem temas atuais e fraturantes, mas também de seminários e apresentações profissionais ou científicas, em que são dados para esta área como o nosso estudo anual – “Perfil do Festivaleiro Português e Ambiente Social nos Festivais”.
Briefing | Os portugueses esgotam os festivais. O que explica este comportamento do público?
RB | Não é inteiramente verdade. O nosso estudo indicou 249 festivais de música em Portugal no ano de 2016, e os que esgotaram correspondem a uma minoria, que em muito foi também potenciada pela presença de público estrangeiro – e.g. Alive, Paredes de Coura.
Briefing | A que atribui o facto de vingarem em Portugal formatos que não sobrevivem em outros mercados, como Espanha?
RB | Acompanhando o panorama de uma forma global é possível verificar que os nossos promotores respondem à máxima “fazer mais com menos”. A capacidade de análise, responder a um problema com uma solução pronta é de facto algo que acontece e que traz maior responsabilidade.
Comparativamente com Espanha, somos um país totalmente unificado e isso ajuda, da mesma forma os grandes artistas nacionais só vão a um festival português enquanto em Espanha podem ir a mais que um no mesmo período de tempo.
Briefing | Os festivais são, cada vez mais, palco de ativação das marcas. O que os torna relevantes para o marketing?
RB | Não existem muito mais experiencias sociais que os festivais de música em que podemos ser livres e felizes. Num festival podemos seguir religiosamente os concertos, podemos conhecer novas pessoas, podemos nem estar atentos a nada, não somos vigiados. As marcas aproveitam esse facto, de maior predisposição do público, para potenciarem a sua notoriedade e ligarem-se a possíveis novos clientes – ativar uma marca num grande festival poderá ser mais eficaz que gastar milhões em publicidade.
Briefing | Até que ponto os festivaleiros são recetivos à presença das marcas? Qual o limite entre ativação e invasão, com prejuízo da experiência musical?
RB | Quando comparado com lá fora, a presença de marcas nos nossos festivais está num nível acima do comum e isso choca muitas vezes quem nos visita. Mas, na nossa cultura, crescemos com este ponto e estamos habituados – a verdade é que sem marcas não conseguiriamos ver as bandas internacionais de topo que gostamos e ter um preço reduzido para as ver. Ter um naming sponsor em Portugal é sinónimo de um acréscimo de valor, budget e qualidade artística.
Briefing | Em que medida é que as marcas são determinantes para os próprios festivais? Isto é, como sobreviveriam sem patrocínios?
RB | Em Portugal, um festival para sobreviver a longo prazo precisa de três pontos: patrocínios, receita própria (bilhética) e fundos. Se um destes pontos não existe a probabilidade de não ter rentabilidade é elevada. Os promotores estão reféns das marcas, mas hoje o trabalho é feito cada vez mais numa presença que acrescenta valor.
Briefing | Quais as metas para esta sexta edição do Talkest?
RB | O evento conseguiu ser reconhecido pelos governos de Portugal e Espanha. Queremos, cada vez mais, que o evento seja o pontapé de saída de cada ano, em termos de festivais. Que se discutam problemas, se debatam soluções, se agregue uma indústria.

Começa esta quinta-feira, em Lisboa, a 6ª edição do Talkfest, fórum em que se discute a indústria dos festivais de música. Pretexto para uma conversa com o organizador do evento, Ricardo Bramão, e ouvi-lo considerar que os promotores musicais estão reféns das marcas, mas que é isso que permite um cartaz de qualidade e preços mais acessíveis.