Se pudesse, desenhava todos os dias – e durante horas –, para experimentar várias técnicas e soluções diferentes, mas só ao fim de semana é que consegue. Não falha um e tanto pode fazer algo mais complexo, como meia-dúzia de desenhos mais simples. O criativo, Pedro Magalhães, sabe que, quando puder, vai divertir-se muito com este seu lado B.
Quase parece que desenhar é o que faz profissionalmente, tal é a maneira como fala disso e porque tem sempre vontade de o fazer: “é absolutamente instintivo e quase impulsivo”. No entanto, mete-se no seu dia a dia e no seu trabalho… “O talento para desenhar vai buscar muito à imaginação e à capacidade de criar. Naturalmente, sempre usei o desenho para a minha profissão de criativo e diretor de arte; sempre fiz esboços e roughs das minhas ideias, layouts e linhas gráficas. Não consigo pensar sem ter papel, e alguma coisa para escrever e desenhar”, conta.
Com o ritmo da profissão, foi deixando de ter tempo para desenhar com calma, de fazer um desenho do princípio ao fim, o que levou a que, com o passar dos anos, fosse perdendo o treino e a mão. Quando os filhos tiveram que fazer um diário gráfico na escola, começou a sair com eles para desenharem e fazia o mesmo esboço. Obrigou-se a voltar e nunca mais parou.
Pedro Magalhães começou a desenhar quando era muito pequeno, “como todas as crianças”, no entanto, tinha o jeito que nem todas possuíam. “O que me lembro é que os meus desenhos ficavam ligeiramente mais giros que os das outras crianças da turma. Lembro-me de sentir que era fácil de fazer o que tinha imaginado, por exemplo, se imaginava desenhar a Heidi ou o Vickie, ficavam mesmo parecidos e não como os gatafunhos dos meus amigos”, recorda. Já no liceu, era sempre o “jeitoso da turma” a quem toda a gente pedia para fazer desenhos e a sua melhor disciplina sempre foi Educação Visual. Claro que isso contribuiu para escolher uma área de estudos ligada às artes, que seguiu na Escola Artística António Arroio e no IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, ambas na capital.
Na mão direita, basta uma simples lapiseira, mas também gosta, e cada vez mais, de marcadores, pastel de óleo, aguarela e “até do famoso Photoshop”. Os gostos são, portanto, ecléticos. E copiar referências faz parte do leque dos mesmos: “São ótimos exercícios que me obrigam a sair das soluções mais habituais e a esforçar-me. Com isto, deito muitos desenhos para o lixo, mas aproveito muitos mais”.
Continuamos pelos gostos e, no que respeita ao que mais gosta de desenhar, o ser humano ocupa o primeiro lugar do pódio. Seja o corpo, as caras – “fonte de inspiração inesgotável”, as expressões – e o que elas dizem – ou a pele, as rugas e as mãos. As pessoas fascinam-no. E ainda se diverte muito a saltar de técnica e de forma de desenhar.
Não tem grandes referências que siga ou cujo trabalho venere… Ainda assim, gosta muito de Rafael Bordallo Pinheiro, “um génio de um nível absolutamente superior”; de António Antunes, com quem aprende muito e até já fez um miniestágio no seu ateliê; de Bill Watterson, criador do Calvin & Hobbes, que tem um “traço super expressivo”; da “besta” do Miguelanxo Prado; e do Quino. Não esqueceu os “ilustradores geniais” com quem tem tido a sorte de trabalhar e conhecer, como: Pedro Naves, João Trabuco, Beto Fiori, Carlos Antunes ou Jorge Coelho. “Acima de tudo, acho que há imenso talento por todo lado. Há jovens ilustradores a fazerem coisas incríveis, e a ganharem um espaço muito importante na comunicação e até na cultura. Quanto mais desenhos tivermos à nossa volta, mais felizes seremos”, defende.
Quando o assunto é a perfeição, não quer saber. “Odeio a perfeição”, diz. Acha que o mundo está longe de a alcançar e não liga às críticas que fazem dos seus desenhos – “por vezes, são demasiado ‘abonecados’, não são realistas e não estão perfeitos”. O que importa é que se tenha divertido a fazê-lo, que provoque uma reação e que fale com quem vê. Connosco falaram.