Um livro, um filme e uma taça de vinho

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O filme começa com um lindo pôr-do-sol no Douro. Não, muito cliché. E redundante. Pores-do-sol são sempre lindos, o Douro também. Vamos mudar a coisa para uma cena interior, pode ser numa adega, de preferência desenhada pelo Siza. Pronto. A banda sonora pode ser do Gustavo Santaolalla que cantarola ali num dos cantos da adega uma das suas composições para o filme “Amores Perros”. Cumprimento Gustavo com o olhar, enquanto vejo passar ao fundo a charmosa silhueta da eternal diva Sophia Loren. Meu Deus, devo estar a sonhar.

Não, não estou. Cá estamos em pleno Douro Film Harvest, num ano vintage, este ano, o ano em que eu vou, claro. A desculpa dessa minha participação tem a ver com a adaptação da para micro-metragens (narrativas fílmicas de mais ou menos cinco minutos) das histórias do meu primeiro romance, “O Rapaz das Fotografias Eternas”.

Quando digo “desculpa” é só para reafirmar que gostaria de fazer parte do DFH com ou sem objectivo concreto. Gostar de cinema e de lugares bonitos não precisa de racionalidades e explicações. Mas, sim, a questão aqui é de trabalho. E que trabalho.

A ideia tem a sua originalidade. De um lado um livro que começou enganado (era para ter sido o guião de uma longa, mas o escrevinhador, por acaso, eu, mudou de ideias nas primeiras linhas e lá cometeu uma novela), do outro lado cinco autores à procura de personagens narrativas. Não é caso de adaptar as 250 páginas do livro e as enfiar em tão pouco minutos. O objectivo é fatiar a obra e com essas fatias fazer boas entradas para, quem sabe um dia, o prato principal que será a longa sonhada. O workshop também será uma competição. Das cinco histórias desenvolvidas uma será escolhida como a melhor e, quem sabe, um dia, produzida.

Como autor estou apavorado. Ver os outros a mexer nas suas histórias é como levar o seu bebé para cortar as melenas por um cabeleireiro chamado Eduardo Mãos de Tesoura. Mas como cinéfilo e coordenador do workshop, mal posso esperar para a coisa aconteça.

E no fim, para que essa história acabe bem, tenho a certeza que no fim não virá um “fim”. E sim um happy end com “The End”.

Ou como diria o meu Tio Olavo, citando Orson Welles: “O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.”

Edson Athayde

Quinta-feira, 09 Setembro 2010 01:00


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