Hoje, com o coração pesado, compartilho com o mundo a tristeza pela notícia do falecimento de Washington Olivetto, aos 71 anos, em Londres. Como publicitário brasileiro, falo não apenas por mim, mas por toda uma geração que foi profundamente influenciada por este gigante da criatividade.
Washington não era apenas um ícone da publicidade brasileira; ele era o motivo pelo qual muitos de nós, incluindo eu, escolhemos seguir essa carreira. Sua genialidade transcendeu fronteiras, fazendo com que o Brasil se tornasse um farol de criatividade publicitária para o mundo inteiro.
Lembro-me vividamente de quando, ainda jovem e sonhando com meu futuro, vi pela primeira vez a campanha “Pingo” que rendeu a Olivetto seu primeiro Leão de Bronze em Cannes. Foi um momento de epifania – ali entendi o poder transformador que a publicidade poderia ter. Washington mostrou-nos que era possível unir criatividade, propósito e impacto social em uma única peça publicitária.
Sua trajetória na DPZ e, posteriormente, a fundação da W/Brasil (mais tarde W/McCann) não foram apenas marcos na história da publicidade brasileira, mas lições de ousadia e inovação para todos nós. A W/Brasil tornou-se tão icônica que até mesmo o lendário Jorge Ben Jor a imortalizou na música “Alô, Alô, W/Brasil!” – um testemunho do quanto Olivetto conseguiu permear a cultura popular com seu trabalho publicitário.
Para nós, publicitários brasileiros, cada um dos 50 Leões que ele conquistou em Cannes, seu lugar no Clio Hall of Fame, e sua inclusão no Hall da Fama do FIAP eram motivos de orgulho nacional. Washington nos mostrou que podíamos competir – e vencer – no cenário global.
Suas campanhas como “Hitler” para a Folha de S.Paulo e “Primeiro Sutiã” para a Valisère não eram apenas peças publicitárias; eram aulas magistrais de como a publicidade poderia provocar reflexões profundas e mudanças sociais. Elas nos ensinaram que nossa responsabilidade ia muito além de vender produtos – podíamos moldar a sociedade positivamente.
O amor de Washington pelo Corinthians, sua paixão pela Disney e seu compromisso com a democracia nos mostraram que um publicitário completo deve ser um observador atento e apaixonado da vida em todas as suas formas. Essas lições moldaram não apenas nossas carreiras, mas nossas visões de mundo.
Hoje, enquanto o mundo da publicidade lamenta a perda de um de seus maiores mestres, nós, publicitários brasileiros, sentimos como se tivéssemos perdido um pai. Washington Olivetto não apenas nos ensinou a criar anúncios memoráveis; ele nos ensinou a sonhar grande, a pensar globalmente e a usar nossa criatividade como uma força para o bem.
Para meus colegas ao redor do mundo que talvez não tenham tido a sorte de crescer sob a influência direta de Olivetto, convido-os a explorar seu legado. Nas campanhas de Washington, vocês encontrarão não apenas criatividade brilhante, mas um profundo entendimento da condição humana e um compromisso inabalável com a excelência.
Washington Olivetto pode ter partido, mas seu espírito inovador continua vivo em cada um de nós que ele inspirou. Nosso desafio agora é honrar seu legado, continuando a ultrapassar os limites da criatividade e usando nosso talento para impactar positivamente o mundo, assim como ele fez.
Que o exemplo de Washington continue a inspirar publicitários ao redor do globo, lembrando-nos sempre que, com criatividade e propósito, podemos não apenas vender produtos, mas também ideias que transformam o mundo. Obrigado, Washington, por nos mostrar o caminho. Seu legado viverá para sempre em cada campanha que criamos, em cada ideia que defendemos, e em cada sonho que ousamos realizar.
Camilo Barros, cofundador do Institute for Tomorrow e professor da Inova Business School