O ‘product placement’ tem que ser “mais do que a mera menção do produto nas telas”

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No seu percurso profissional conta com passagens por agências de publicidade como a JWThompson ou a McCann Erickson. Actualmente é vice-presidente do Rio de Janeiro Media Group, através do qual criou o Prémio para Melhor Acção de Product Placement no Cinema Brasileiro. No início do próximo mês, Antonio Alaby vai estar em Portugal – na segunda edição do Douro Film Harvest –, onde apresentará a conferência “Cinema, que Mídia é essa?”. Em jeitos de antevisão, o Briefing lançou-lhe algumas questões.

Briefing: O Antonio é o criador do Prémio Melhor Acção de Product
Placement do Cinema Brasileiro, a que ainda preside. Como é que se
optimiza a relação entre o cinema e a indústria publicitária?
Antonio Alaby:
Procurando aproximar cada vez mais esses dois mercados,
mostrando tanto para um como para o outro as grandes vantagens que essa
aproximação trará. Através de seminários específicos, palestras em
festivais e trabalhando sistematicamente de forma directa com os
formadores de opinião desses mercados.

B: A aposta das marcas internacionais nesta área está em crescendo?
AA:
Sim, historicamente essas marcas sempre acreditaram nesta forma de
estabelecer pontos de contacto eficientes com seus interlocutores e isso
hoje já faz parte de suas estratégias de comunicação. A comprovação da
eficiência dessas acções de certa forma vem influenciando as marcas
locais mundo afora.

B: De certa forma, a crise pode incentivar a publicidade no cinema pela
procura de soluções mais acessíveis, mas criativas e impactantes?
AA:
Não vejo isso como uma oportunidade para momentos de crise, mas sim
um movimento que vem se consolidando ao longo dos anos, através da
comprovação da eficácia de acções bem feitas e cases de sucesso.

B: Qual é a acção mais brilhante de Product Placemente de que se lembra?
AA:
Sempre que me fazem esta pergunta, a primeira que me vem a cabeça é
a ação de Coca-Cola em “Um Dia de Fúria” (Falling Down, 1993). Depois
de passar um dia literalmente de cão, a personagem de Michael Douglas
entra numa loja de conveniência, abre a geladeira, pega uma lata de
Coca-Cola passa na testa paga e deixa o produto no balcão. Com essa
acção ele ressalta o atributo mais relevante do produto, a frescura.

B: O consumidor e a audiência também precisam de novos estímulos. Que inovações ainda podem surpreender?
AA:
A audiência fiel, especificamente do cinema, busca constantemente
como estímulo um bom roteiro, uma boa direção, uma boa produção. Ou
seja, nosso desafio enquanto profissionais de comunicação é encontrar
maneiras inteligentes de atender essa busca.

B: Em relação ao cinema português, do que conhece, há muito a explorar?
AA:
Confesso que conheço pouco o cinema português no entanto tive o
prazer de assistir a uma produção, que me impressionou muito
positivamente, “Fados”, com direcção do espanhol Carlos Saura, mas com
roteiro e produção portuguesa. Espero ter a oportunidade, durante o
DFH2010, de ter um contato maior com a produção local.

B: Vai estar em Portugal para a master class “Cinema, Que mídia é
esse?”, no Douro Film Harvest, que une cinema ao vinho e vindimas e que
quer mostrar o Douro como cenário ao mundo da Sétima Arte. Como é que
se faz bom product placement de uma região como o Douro?
AA:
Através do uso de locações ou do consumo de seu principal produto,
o vinho, pode-se afirmar que a presença da marca “Douro” é imbatível. A criação do DFH é a maior prova de que a região é uma das mais
propícias para produção de conteúdo, seja para cinema ou televisão.
Tive o prazer de conhecer as belezas do Douro no ano passado e até hoje
tenho excelentes lembranças.

B: E o vinho do Porto é talvez uma das marcas mais fortes de Portugal.
Deu nome a filme (Spring and Port Wine), é presença assídua nos ecrãs,
mas parece faltar eficácia na mensagem. Como é que se desenvolve o
pensamento estratégico num produto?
AA:
É preciso reforçar os atributos característicos do produto mais do
que a mera menção nas telas. Talvez o vinho do porto venha a ganhar uma
nova percepção ao longo do tempo caso as ações sejam recorrentes e
continuadas. Seu envolvimento com o DFH é um óptimo começo.

B: Onde se desenha a linha entre a propaganda e os média? É questão estilística ou ética?
AA:
Acho oportuna essa pergunta para alinharmos um pouco mais a
interpretação do que definimos aqui no Brasil como Propaganda e Mídia.
Mídia acaba sendo o mesmo que  um veículo de comunicação, mas também é
a área da agência de propaganda responsável pelo planeamento e
recomendação estratégica do melhor veículo para a campanha ser exibida.
Ao criar o seminário “Cinema: Que mídia é essa?” meu objectivo foi mais
do que avaliar a eficácia do veículo cinema como um meio para se exibir
campanhas ou marcas, mas principalmente provocar com esse
questionamento, a atenção para o pouco investimento até então.
     
B: Na sua master class falará também das oportunidades de mercado que
existem entre Portugal e o Brasil. Quer avançar com algumas pistas?
AA:
Acho bastante oportuno. Acaba de sair no Brasil um edital de apoio
às co-produções entre os dois países, que contemplou quatro filmes
sendo dois de produção maioritariamente de cada país. Acho ainda que
existe um espaço para ser preenchido por entidades privadas e marcas,
que têm tudo para utilizar as oportunidades geradas pela lusofonia para
dialogar com os públicos de ambos os países. Somos países co-irmãos e
como tal devemos aprender a cooperar melhor e estreitar nossas relações
nos mais variados mercados.

Fonte:Briefing

Quarta-feira, 25 Agosto 2010 16:16


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