61 % dos americanos consideram que “a presidência Biden foi um falhanço”. Ora, dentro deste universo de grande maioria de insatisfeitos (onde haverá democratas, tendo em conta a divisão do país quase 50-50), 81 % contam votar Trump e só 19 % Kamala. Isto ajuda-nos a compreender melhor porque é que Harris falou tanto, na convenção, numa “nova via de seguir em frente” e tentou, tanto na convenção como no debate de 10 de setembro, demarcar-se de mera herança da Administração Biden e tentar apontar um caminho diferente. Tendo em conta que é a candidata de emergência após a desistência tardia de Joe Biden, é obviamente um caminho difícil e desafiante para a nomeada presidencial democrata.
Kamala Harris surge geralmente melhor na Rust Belt que na Sun Belt. Mas há uma diferença a identificar nos três estados da Cintura da Ferrugem: enquanto no Michigan e no Wisconsin a vantagem de Harris sobre Trump, embora curta e dentro das margens do empate técnico, aparece consistente, já na Pensilvânia são mais os estudos que nos mostram um empate ou, apenas, um ponto de distância entre os dois, do que propriamente aquelas sondagens pontuais que colocam Kamala 4 ou 5 pontos à frente.
Trump em posição melhor que 2016 e 2020
Se as sondagens estiverem certas (só a 5 de novembro saberemos) Donald Trump está numa posição mais forte nesta corrida de 2024 do que estava nas eleições de 2016 e 2020 pela mesma altura, a três semanas das respetivas eleições. Mesmo estando atrás de Kamala Harris nas sondagens nacionais, a diferença é mais curta do que era há quatro anos para Biden e mesmo há oito anos para Hillary. Se voltar a haver o tal “voto oculto” em Trump (uma percentagem na casa dos 4 a 6% de apoiantes republicanos que se recusam a responder a sondagens ou, então, respondendo, em dizer a verdade), então poderemos ter a 5 de novembro a surpresa de ver uma vitória clara de Trump.
Emprego a acelerar, inflação a baixar
O mercado de trabalho dos EUA criou muito mais empregos do que o esperado durante o mês de setembro: 254 mil novos postos de trabalho, 104 mil acima dos 150 mil que os economistas previam. A taxa de desemprego caiu uma décima, estando agora nos 4,1 %, o que revela um mercado de trabalho nos Estados Unidos muito mais robusto do que Wall Street esperava. O crescimento dos salários, uma medida importante para medir as pressões inflacionistas, subiu para 4% em termos homólogos, face a um ganho anual de 3,9 % em agosto. Numa base mensal, os salários aumentaram 0,4 %, em linha com a leitura de agosto.
A grande ironia é que os EUA estão numa fase de crescimento económico, crescimento do emprego e descida da inflação, mas… o tema que mais desconforta a candidata democrata, vice-presidente da atual administração, é precisamente a Economia. Será que as próximas semanas serão suficientes para que grande parte dos americanos altere essa perceção? Não é, para já, o que as sondagens dizem. Trump lidera no tema Economia por diferenças de 8 a 15 pontos percentuais — e quase dois terços dos americanos afirmam que se sentiam melhor financeiramente com Trump que com Biden.
Germano Almeida, autor de cinco livros sobre presidências dos EUA