A nova Transportes do Tejo resolveu começar por fazer um concurso para o fornecimento de uma revista para o qual decidiu convidar três consultoras de comunicação com as quais as suas antecessoras já tinham trabalhado no passado.
O Estado, sim o mesmo Estado que é único accionista de todas estas entidades, deliberou – e bem, na minha modesta opinião de cidadão contribuinte – que as entidades do Estado, incluindo as suas empresas, apenas possam comprar serviços a fornecedores que tenham as contas em dia, nomeadamente com o Fisco e a Segurança Social, e que consigam apresentar comprovativo de tal desiderato.
O que fazem os espertos quando são convidados para este tipo de concursos e não conseguem cumprir com a lei? Inventam uma empresa nova, copiam as credenciais da tóxica, e fazem de conta que é tudo o mesmo.
Foi o que aconteceu neste concurso por convite da nova Transportes de Lisboa. É convidada uma empresa, que está tóxica, o responsável desta empresa finge que não percebeu, apresenta proposta em nome de outra nova entidade (que, como é nova, ainda não tem dívidas) e essa proposta é aceite pelo júri.
O júri, que fique registado nas marcas do Google, era constituído por Martins Marques (Carris), presidente, Miguel Rodrigues, vogal efectivo que substitui o presidente (Metro de Lisboa), Sara Plácido (ML), Clotilde Botelho (ML), Francisco Sousa (Carris), Cristina Augusto (ML), e Elisa Cardoso (Carris).
Sim, confirmo, era um júri de 7 (sete) membros para decidir um fornecimento de 20 e tal mil euros.
Ora, dá-se o caso curioso de que nenhum destes 7 membros do júri deu pela marosca. Todos os 7 membros deste júri aceitaram que se pode convidar uma empresa (que, pelos vistos do convite, deveriam conhecer muito bem) e que a proposta correspondente a essa empresa possa ser apresentada por outra com um nome completamente distinto – e o número de identificação fiscal, e a data de constituição, e as credenciais.
Quis o destino que gere o destino da Transportes de Lisboa que tenha sido exactamente a essa empresa não convidada que o júri, na sua unanimidade, decidiu atribuir o contrato. Pois claro. Limpinho, limpinho.
Tendo já acumulado uma experiência empresarial de quase 30 anos a assistir a chapeladas deste género, é muito baixa, como calculam, a minha expectativa sobre a moralização do Estado e a ética dos seus servidores.
Mas, mesmo com carapaça de cinismo que a vida me foi criando, não resisto a perguntar: será que aquelas 7 alminhas do júri não percebem que há preços que se podem praticar apenas porque os contratados não tencionam pagar aos seus fornecedores, aos colaboradores e ao Estado e que é por isso que estão sempre a criar empresas novas deixando as dívidas nas anteriores? E que o Estado, ao aceitar alegremente estas práticas, está a apadrinhar a vigarice?
E já agora, visto tratar-se de uma empresa nova: é aceitável para o seu recém designado presidente, Rui Loureiro, que a nova Transportes de Lisboa entre no mercado da comunicação a patrocinar uma chapelada destas?
Luís Paixão Martins
Consultor de Comunicação