Sinto-me como alguém a escrever notícias para o The Times em meados do seculo XIX em Londres, sobre a primeira guerra do ópio, sabendo que são as mais recentes, as últimas, mas apenas as mais recentes a terem sido recebidas, não os últimos factos a acontecer. Mesmo assim, nessas circunstâncias, apreciações e julgamentos foram feitos, decisões tomadas e, mesmo com essa decallage, mudaram o rumo da História.
Os tempos extraordinários que vivemos tornam inesperadamente o tempo, os tempos, de algum modo irrelevantes. Irrelevantes, pois a única certeza que temos é a de que não sabemos quando e de que forma vai acabar esta clausura, inicialmente desejada, mesmo antes de ser imposta.
Essa é, logo, a primeira certeza.
A segunda vem logo de seguida: não haverá o Armistício, o dia em que de um dia para o outro muda tudo, podemos logo, logo mesmo, começar a reconstruir o que se perdeu. Não haverá um dia, não por ser ainda incerto, mas por ser um período, mais ou menos longo, e não um dia.
Essa é, pois, a segunda certeza.
Esse tempo que demora o tempo a passar obriga-nos assim a viver, trabalhar, agir. Estranho, mas real. Não por mimetismo, não para nos mantermos ocupados, mas porque temos a convicção de que o que fazemos hoje, o que faremos amanhã, continua a ter sentido, e terá valor no futuro. Não tanto o que fazemos, mas muito mais a (nova) forma como o fazemos, e as (novas) razões por que o fazemos. Onde o centro passou dos consumidores, para as pessoas, das experiências para o viver e o sentir.
Temos, então, a terceira certeza, e que grande certeza.
E no movimento do incerto, no ser ao longo do quotidiano que construímos e vivemos, encontramos cada dia que passa o verdadeiro centro de nós próprios e é isso que nos prepara (nos preparou sempre, mesmo quando não o percebemos) para a vida, para aquilo que podemos dar de nós aos outros, às pessoas. E podemos dá-lo, tanto na socialização como na nossa atividade de criação, de comunicação, o nosso trabalho.
Eis a quarta certeza.
A partir daqui tudo se torna fácil, chamando às variáveis constantes, não por deixarem de ser inconstantes, mas porque sabemos sempre que há uma extraordinária ordem no caos, e a aparente ordem é a ordenação de micro caos, organizados mas prontos, mais tarde ou mais cedo, a implodir, ou mesmo a explodir.
Sempre soubemos que nunca podemos dar nada como adquirido, mas gostámos, e precisámos sempre, como continuamos a precisar, dessas convenções, a que chamamos momentaneamente axiomas. Porque nos dão jeito. Mas que de repente desaparecem. E este é um desses momentos.
Ou seja, a quinta certeza.
De resto, sabemos de que massa somos feitos, que valores nos norteiam, que capacidades de lucidez, de serenidade conseguimos manter, que convicções para as quais podemos ter a força de levar avante.
Essa é a beleza do Ser Humano. Por isso essa é (tem de ser) a nossa grande alegria, a de trabalharmos em Comunicação, a de construirmos Marcas, não vendermos produtos ou serviços, mas construirmos Marcas. Esse é o nosso valor e o nosso dever. E não é agora, pela primeira vez, que vamos dizer que não.
Contam connosco.
Esta é a minha certeza!
Luís Mergulhão, CEO Omnicom Media Group