Numa segunda vertente, foram medidos nove fatores de possíveis constrangimentos para os profissionais de agências criativas e para os marketers.
Para os marketers foram avaliados a sobrecarga de trabalho, a subvalorização do trabalho, a perspetiva ao nível da carreira profissional, clientes internos que não sabem o que querem, altas expectativas da direção da organização onde trabalham, ambiente laboral, o orçamento disponível para o Marketing, a crescente complexidade do marketing digital e a evolução da economia.
Para os profissionais de agências criativas foram avaliados a subvalorização do trabalho, clientes que não sabem o que querem, sobrecarga de trabalho, desorganização no trabalho, perspetiva salarial, evolução da economia, perspetiva ao nível de carreira profissional, o ambiente laboral e o aumento da concorrência.
A avaliação de cada um dos fatores foi feita em junção do seu impacto na qualidade do sono do participante. Para isto, utilizou-se uma escala de Likert com cinco pontos e que incluíam: perco totalmente o sono, durmo mal, durmo OK, durmo muito bem, durmo que nem um anjo.
Os fatores que mais preocupam os marketers são a sobrecarga de trabalho e a subvalorização do trabalho, que retiram o sono a 74% e 72% da amostra, respetivamente, pressupondo-se que os marketers, apesar do seu intenso trabalho, não se sentem reconhecidos.
Os marketers também sofrem com alguma falta de foco dos seus clientes internos. De facto, 60% deles afirmam perder o sono, porque os clientes internos não sabem o que querem. Outro fator de constrangimento que retira o sono a cerca de 60% dos marketers é a perspetiva de carreira profissional.
Outros exemplos que retiram o sono aos marketers são as expectativas da direção (42% da amostra), o ambiente e a pressão vivida em ambiente laboral (36%), o orçamento disponível (36%) e a complexidade potenciada pelo Marketing digital (32%). Com menos impacto no sono encontra-se o fator da evolução da economia (16%).
O fator subvalorização do trabalho está correlacionado com os fatores falta de foco dos clientes, perspetiva ao nível de carreira profissional, orçamento disponível para o marketing e comunicação, altas expetativas da direção e a crescente complexidade do marketing digital. Percebe-se, então, que as altas expetativas das direções fazem com que os marketers se sintam com uma crescente sobrecarga de trabalho e que impacta no ambiente de trabalho.
Relativamente aos profissionais de agências criativas, a subvalorização do trabalho e a questão de os clientes não saberem o que querem são, à semelhança dos marketers, fatores que lhes retiram o sono (73%). Outros fatores a destacar são a sobrecarga do trabalho e a desorganização no trabalho, com impacto em 64% da amostra, e a perspetiva salarial com um impacto negativo em 55% dos profissionais das agências criativas. Uma perspetiva de carreira profissional retira o sono a 40% e o ambiente laboral a 30%. O fator com menos impacto no sono dos profissionais das agências criativas é o aumento da concorrência, que retira o sono a 21% da amostra.
Os dados são reveladores que a subvalorização do trabalho está altamente correlacionada com a falta de foco dos clientes, a desorganização no trabalho, a perspetiva de uma carreira profissional e a perspetiva salarial. Pode-se, então, assumir que os profissionais não sentem reconhecimento pela sua atividade, não só pelas suas empresas, mas também pelos seus clientes.
O estudo conclui que há mais marketers a dormir mal do que profissionais das agências criativas. Os únicos dois fatores que impactam mais profissionais das agências criativas é a falta de foco dos clientes (73%) e a evolução da economia (42%).
Inversamente, a perspetiva ao nível de carreira profissional, a sobrecarga de trabalho e o ambiente laboral afetam mais os marketers do que os profissionais das agências criativas.
O fator subvalorização do trabalho retira o sono a 73% dos profissionais das agências criativas e 72% dos marketers, sendo este um fator que tem um impacto similar em ambos os grupos.
Pode-se concluir que os profissionais das agências criativas e os marketers têm uma perspetiva bastante positiva para as suas atividades, dado que estão positivos quer a curto como a médio prazo. No entanto, importa atentar que a maioria dos profissionais, ainda assim, não recomenda uma profissão na sua área. Esta situação poderá estar relacionada com a questão da subvalorização e sobrecarga de trabalho, mas também com a perspetiva salarial.
João Bernardo
*Este artigo pode ser lido na íntegra na edição impressa de agosto de 2024