Muito se tem escrito sobre bullying em sites de redes sociais. O anonimato. A valentia dos que se escondem atrás do ecrã para atingir os outros. As figuras públicas são o primeiro alvo. Independentemente da notoriedade do indivíduo, o fenómeno atinge todos, mudando apenas o grau e a dimensão da acção.
Muitas vezes – tantas vezes – se confunde a pessoa com o cargo que ocupa e as funções que desempenha. Custa-me a crer que as pessoas não sejam capazes de perceber que há uma diferença entre as posições e decisões tomadas por quem ocupa um determinado cargo – público ou privado – e a sua opinião pessoal. Tantas vezes já vi comentários abjectos sobre indivíduos, atingindo-os na sua dimensão pessoal, muitas vezes numa abordagem ofensiva, por decisões tomadas no âmbito do cargo que ocupam e papel que desempenham (que devem desempenhar), numa clara confusão entre a pessoa e o seu trabalho. Está mal. Especialmente quando é proveniente de perfis sem rosto e com um nome tão comum quanto “António Silva”.
Há dois casos recentes que me despertaram maior atenção. Felizmente, nisto de sites de redes sociais, as explosões são curtas. A voracidade destes agressores cibernéticos é tal e a sua capacidade de argumentação tão superficial que não aguentam mais do que meia dúzia de dias a lançar impropérios. Valha-nos isso, embora estejamos todos a jeito para ser o próximo alvo.
A Joana Marques publicou recentemente um artigo sobre este tema. Se já antes eu andava a afiar o lápis para escrever sobre isto, de impulso sentei-me para juntar a minha voz ao tema. Criticar? Sim. Construtivamente. Sobre o trabalho, as suas características. Criar discussões com valor. Uma das maiores vozes da música romântica Portuguesa teve maior sucesso antes de aparecer na televisão. A voz era inquestionável. Não era, contudo, um ícone de beleza, mas nem por isso deixou de ser um cantor de grande sucesso. Falo de Tony de Matos. O que seria dele, hoje, no Facebook?
O julgamento público, virtual, é uma atitude cobarde. Ameaças, tentativas para denegrir a imagem, alusões à vida privada, recurso a nomes feios… Há comentários que parecem saídos de um pátio da escola primária. São pessoas anónimas que lançam fel a quem dá a cara. Independentemente da qualidade do trabalho, só o facto de se exporem publicamente merece respeito, especialmente para os cantores de chuveiro, poetas de gaveta e treinadores de bancada. O que mais há por aí… Esta tentativa de desvalorização do outro afigura-se como um ataque desnecessário que não ocorreria num encontro face-a-face. Não vi, nem ouvi, ainda, ninguém, presencialmente, dizer a qualquer destas pessoas algo grosseiro ou ofensivo. Porque será?
Está o caldo entornado quando uma pessoa – uma mulher – acredita em si e na sua capacidade para fazer coisas. Boas. E não tem papas na língua, chama as coisas pelos nomes e, se for preciso, agarra o boi pelos cornos. Assim foi. Orgulho de quem foi capaz de fazer um top dos maiores insultos que recebeu, no Facebook, durante o último ano.
Mal de quem publique uma fotografia num ângulo menos feliz. Tão infeliz que até os pés estavam desfocados, mostrando claramente que o problema da fotografia não seria o modelo. No caso, a modelo num desfile de moda. Melhor: uma actriz desfilando em biquini. As publicações sobre essa actriz que deveria fazer mais abdominais antes de se despir publicamente deram azo a este e outros artigos, peças na televisão e uma discussão que poderá dar bons frutos, em prol da questão do bullying cibernético e da afirmação da mulher.
Só prova que os não agressores até são mais fortes e capazes de transformar o mal. Como nos contos de fadas.