A entrada é discreta. Quem passa pelas Galerias Ritz, na Rua Castilho, dificilmente adivinha que, transpondo a porta e descendo um curto lance de escadas, se entra no universo da gastronomia japonesa. Chega-se assim ao Kabuki, palavra japonesa que remete para uma forma de teatro conhecida pela estilização do drama e pela elaborada maquilhagem utilizada pelos atores.
O efeito visual salta à vista. E no Kabuki lisboeta também. Não que a exuberância domina, antes pelo contrário, há uma sobriedade acolhedora, logo no bar, Kibukibari de seu nome. O ambiente intimista é quebrado pelas janelas que deixam entrar a luz, mas também pelo âmbar forte que acompanha o balcão em toda a sua extensão.
Aqui reina o barman Guilherme Godinho, autor de cocktails que são a antecâmara ideal para a degustação. Fixe estes nomes: Tokyo Blossom e Kurashikko Kintsugi. E prove, claro! Se não quiser beber apenas, pode petiscar: ostras, caviar, prego de atum são algumas das opções.
Mas, para uma refeição completa, há que descer um piso. Aí o design do mobiliário e a decoração mantêm a discrição e a sobriedade como fio condutor. A exceção – e é uma grande exceção – vai para o mural de cuja teatralidade colorida já falámos, como se fosse a maquilhagem dos atores de kabuki. É para ele que fica virado quem preferir sentar-se na barra e acompanhar, par e passo, a técnica dos sushimen.
É nesta sala, com capacidade para 72 pessoas, que se provam os pratos mais icónicos da cozinha liderada pelo chef Andrés Pereda, que se juntou ao grupo em 2008 e que veio para Lisboa, depois de dez anos à frente do Kabuki Kômori, em Valência. O que propõe é uma fusão entre a gastronomia mediterrânica e a japonesa, mas no horizonte está um casamento com a gastronomia portuguesa.
Há um menu de sushi e outro de degustação, que vai mudando regularmente. É sobretudo aqui que se misturam os sabores das duas geografias, com criações como o nigiri de ovo estrelado e patê de trufa branca, o nigiri toro al pastor e o nigiri de bife tártaro. Já lá vamos.
A experiência começa em jeito de surpresa, com uma bentô box estilizada sob cuja tampa se esconde uma seleção de aperitivos. É quanto basta para ficar a desejar mais.
O desfile continua com “Paambtomaquet”, o mesmo é dizer corte fino de barriga de atum com pão e tomate; seguem-se dois cortes finos de peixe branco, um com molho ponzu e outro com azeite, alho e sichimi. O último corte fino do almoço é de carabineiro, com molho da sua cabeça e arroz de sushi.
A mesa recebe ainda maguro estrelado: desconstruindo, trata-se de atum picante, com ovo de criação ao ar livre estrelado, cebolinha e batata negra das ilhas Canárias. Uma combinação invulgar, mas harmoniosa. Finalizamos em quente com “Gyu-Take-Nabee”: estufado de cogumelos em caldo sukiyaki com wagyu.
Uma experiência gastronómica não é completa sem bebida e neste almoço os pairings não desiludiram, antes pelo contrário. A harmonia esteve a cargo do head sommelier do Kabuki, Filipe Wang, que selecionou os vinhos servidos de entre as 350 referências existentes.
É assim que o grupo se estreia em Portugal. O primeiro restaurante abriu em Madrid, no ano 2000, pela mão de um engenheiro, Jose Antonio Aparicio. Vinte e um ano depois, passou a fronteira e encontrou neste espaço paredes meias com o Hotel Ritz a casa ideal para a sua marca.
Abriu em dezembro com o projeto assinado pelo arquiteto Maurice Sainz a englobar três espaços: além do bar e do restaurante, o Kabuki Experience, mais intimista e com um menu exclusivo. À espera da primavera está uma esplanada com vista para o Parque Eduardo VII.